A excelência é o alvo, mas não pode ser confundida com a arrogância

O Atlético venceu o clássico contra o Cruzeiro por 2 a 1, neste domingo (6), mas o torcedor não amanheceu em sua boa parte comemorando.

Com um público de 53.328 pagantes e uma renda de R$ 2.479.840,13, o Atlético poderia ter terminado o primeiro tempo com pelo menos dois gols de vantagem, já que, Hulk e Keno tiveram chances claras na primeira etapa e não converteram em gol.

Acontece, que não se vence clássico de véspera, muito menos de goleada. Quem tem mais de 20 anos, conhece a história centenária desse embate. Todos sabem que quem tem menos técnica sua sangue para igualar a disputa, esse é o cenário secular de um Atlético X Cruzeiro.

Claro, isso não exime que as distâncias de linhas de meio e ataque estejam mais conectadas, principalmente, na construção ofensiva que precisa de ligação e interação entre os volantes e o meia criador. Ademais, o Atlético tomou apenas sete (7) gols em 10 pelejas, ou seja, média inferior a um gol por jogo, o que é bom. Contudo, ainda há momentos de insegurança e instabilidade que podem ser corrigidos. Godin, bom jogador, ainda está sem o “time” e Nathan Silva tem tomadas de decisão algumas vezes hesitante. Vez ou outra, complica o simples, mas são questões fáceis de se resolver com treinos e afinação da sintonia defensiva.

Do ponto de vista individual, Nacho, um grande jogador, não esteve bem no clássico e já vê questionada a sua titularidade. Savarino, decisivo em jogos contra Palmeiras e Flamengo em 2021, não está bem há algum tempo e tem Ademir no seu encalço. Outro atleta que pede passagem é o frio e calculista Vargas, o chileno foi decisivo nos últimos três jogos contra Flamengo, Pouso Alegre e Cruzeiro, sendo que em duas delas, contra os maiores rivais, entrou em campo com mais de dois terços da partida encaminhada.

Por fim, da parte tática, seria leviano e irresponsável fazer coro à insanidade de suscitar a não capacidade do treinador Mohamed. Tony, inclusive, é muito inteligente, aproveita conceitos de Cuca, mexe bem no time e tem ideias de jogo que em breve serão percebidas. No entanto, ontem, talvez, pudesse ter dado chance ao Fumacinha (Ademir) de iniciar o jogo em função do seu momento técnico. Terá na parte tática, que canalizar esforços na proteção da defesa, principalmente nas bolas aéreas, até por um motivo básico: um elenco tão técnico, joga com a bola no chão, mas os adversários, não.

Voltando ao imponderável do futebol, em várias vezes houve zebras memoráveis e delas vivem as casas de apostas. Quase todos se lembram do Santo André, campeão da Copa do Brasil dentro do Maracanã em 2004. Recentemente, o Globo eliminou o Internacional, além de inúmeros exemplos, inclusive o Afogados da Ingazeira em 2020, que despachou o Galo com um goleiro de boné que ajudou a mudar a rota do clube.

Pois é, a excelência vive de um limiar de percepção que se pode melhorar qualquer trabalho ótimo de ontem. Assim, Bill Gates faz com o Windows desde sempre no seu processo de “melhoria contínua” do software. Mas em qual planeta alguém pode não comemorar vencer o rival? Em qual planeta que um atleticano poderia não acordar feliz na segunda-feira por ter vencido o Cruzeiro? Bill Gates, para muitos, não é desse lugar, mas, certamente, comemoraria o gol de Hulk com mais uma “janela” aberta com tons verdes incríveis.

É mais que necessária a cobrança pelo melhor, mas atleticano e soberba num mesmo espaço está sendo a primeira vez que o humilde escriba coloca num mesmo texto.

Excelência sempre, mas que o apaixonado “galista” saboreie o Galo e leve junto de tudo isso a indissociável virtude atleticana – A humana humildade.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10.

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