Brasileirão

Abel Ferreira x Luís Castro: as divergências e convergências dos treinadores portugueses

A partida entre Palmeiras e Botafogo, nesta quinta-feira (9), no Allianz Parque, marcará o embate entre duas gerações de treinadores portugueses. Com caminhos bem distantes, mas que às vezes se encontram. Abel Ferreira já se consolidou em terras tupiniquins como ídolo do Verdão, o que nem sempre foi unanimidade. Luís Castro chegou recentemente ao Glorioso e já foi do céu ao inferno. O Raio-X entre os técnicos lusitanos será válido pela décima rodada do Campeonato Brasileiro.

Abel Ferreira orienta seus atletas durante jogo no Allianz Parque – Cesar Greco/SE Palmeiras

Desde que Abel assumiu a equipe em outubro de 2020, o Verdão participou de 13 torneios. Em nove, foi às finais, e venceu cinco: uma Copa do Brasil, duas Libertadores, uma Recopa Sul-Americana e um Paulista, e um vice-campeonato mundial. As conquistas em tão pouco tempo o fizeram cair nas graças da torcida. A frase “cabeça fria, coração quente”, que dá nome ao seu livro, direciona os seus passos rumo aos títulos.

Luís Castro, por sua vez, demorou um mês para chegar ao Rio de Janeiro e ser apresentado como técnico do Botafogo. No início, encantou a torcida com seu discurso, sem vender ilusões. Mas, velha raposa do futebol, sabe que, sem resultados, não cairá nas graças da galera.

Luís Castro passa instruções aos seus jogadores no confronto diante do Ceará, na Arena Castelão – Vitor Silva/Botafogo

Confira, abaixo, divergências e convergências entre os dois treinadores:

CALENDÁRIO

Castro é a voz na contramão do pensamento dos treinadores estrangeiros. Ele aprova o calendário do futebol brasileiro e enxerga vantagens para sua equipe.

“As equipes que ganham Champions e Libertadores entram em campo mais de uma vez durante a semana. As minhas equipes rendem mais quando jogam no meio de semana, pois a competitividade aumenta e o ritmo acelera. Muitas vezes, o desenvolvimento da equipe acontece graças ao volume de jogos. Quanto mais compromissos, mais rápido conseguimos o desenvolvimento do time. É muito melhor jogar, jogar e jogar. Os treinos são bons, mas o Botafogo precisa de jogos. É ali onde se aprimora o elenco. Ninguém lamenta o número de partidas do campeão da Champions”.

No futebol brasileiro, é comum que os times façam partidas de três em três dias. Abel é crítico do modelo e acredita que desgasta os jogadores pelo pouco tempo de recuperação e a preparação dos treinadores. No entanto, ele tem esperança na alteração do modelo.

“Não há tempo para treino. É desgaste físico e mental. Quando cada um calçar o chinelo do outro, vai mudar. Precisa mudar pessoas. O exemplo é a Libertadores, que adotou outro modelo. Nas últimas edições ocorreram finais únicas, venderam direitos televisivos para quase 200 países. Não sei quando, mas vai mudar. No Brasil, estão na frente da Europa os núcleos de performances e as capacidades físicas. Mas há muito a melhorar, principalmente o calendário”.

“Parabenizo os treinadores brasileiros porque é dificílimo jogar neste campeonato. E não é pela qualidade; é pela insanidade. Não dão tempo para colocarmos nossas ideias. Da forma que está o calendário é impossível vermos a qualidade dos técnicos. Espero que nossa classe se junte com os jogadores. Vamos ter equilíbrio. Vai fazer bem para todos, sobretudo para o futebol brasileiro”.

Abel conversa com o elenco durante treinamento na Academia de Futebol – Cesar Greco/Palmeiras

PRESSÃO

Festejado pela torcida do Botafogo em sua chegada, Castro vive o pior momento desde que assumiu o Botafogo, em abril. Em nove pontos disputados contra adversários modestos (América-MG, Coritiba e Goiás), obteve apenas um, com estilo de jogo e alterações questionadas. A lua de mel com os alvinegros chegou ao fim, e o português sabe que precisa dar uma resposta imediata para a galera.

“Os treinadores devem ser alvos. Os jogadores são fundamentais para o desenvolvimento. Não podemos perder os jogadores por desconforto de fora. O responsável por tudo o que passou no campo sou eu, não os jogadores. Não estamos conseguindo traduzir em resultado o nosso jogo. Sabíamos que teríamos períodos bons e outros não. Só nos interessa, agora, trabalhar. Estamos desiludidos, mas vamos seguir. Um momento de construção é sempre difícil.”

Mesmo tendo conquistado a Libertadores e a Copa do Brasil em sua primeira temporada no Palmeiras, Abel Ferreira foi cobrado por melhores resultados em 2021. Após as derrotas na Recopa Sul-Americana, na Supercopa do Brasil e no Campeonato Paulista, o treinador viu a pressão crescer e passou a adotar um discurso conformado.

“Estarei eternamente grato ao jogador e ao futebol brasileiro. Aos meus atletas, de forma específica. Mais específico ainda ao Palmeiras que apostou em um treinador sem títulos. Estou à espera de ser demitido, porque ainda não fui. Minha filha mais nova, a de dez anos, faz hoje a primeira comunhão, e estou do outro lado do Atlântico, a pagar um preço para triunfar. Tudo o que vem de fora nos ajuda e nos fortalece, e sou eternamente grato ao futebol brasileiro”.

No entanto, Ferreira deixou claro que a pressão sofrida por ele não reflete nos jogadores dentro de campo.

“Nós não jogamos sob pressão. Devemos agradecer a oportunidade de fazer aquilo que gostamos. Agradecer a chance de termos salários completamente diferentes de um cidadão normal. Pressão é chegar no fim do mês e ter dificuldade para pagar uma conta”.

Luís Castro celebra, ao lado dos jogadores, o triunfo sobre o Flamengo no Estádio Mané Garrincha, em Brasília – Vitor Silva/Botafogo

ESTILO DE JOGO

O comandante do Mais Tradicional não abre mão de um estilo arrojado de jogo, ao contrário de Abel Ferreira, mais conservador. Ele mesmo explica a sua ideia de jogo.

“Trabalhar, esperando o adversário, fica mais fácil. Quero uma equipe atraente. Não quero dizer que times recuados não são atraentes e bem montados. Cada um escolhe seu caminho. Temos que saber o que fazer com a bola, andar e criar situações. O caminho é nos entregarmos ao jogo ofensivo. Não cheguei ao Botafogo com ideia de só defender e não atacar o adversário. Não devo nada à minha consciência para o que quero para o Botafogo. Quero jogar contra qualquer equipe do mundo com hipóteses de vencer mesmo, às vezes, não fazendo da melhor forma”.

A formação profissional de técnicos em Portugal desenvolve a habilidade de adaptação aos diferentes cenários. Abel Ferreira e Jorge Jesus já foram bem-sucedidos com estratégias, elencos e contextos distintos em Palmeiras e Flamengo, respectivamente. Saber variar a forma de atuar da equipe é uma característica de um futebol português que tem evoluído dentro da Europa.

Críticos se habituaram a limitar o trabalho de Abel a um único modo de se jogar, e o chamam de retranqueiro. Um juízo constante atribuído ao treinador do Palmeiras é em relação a uma suposta falta de posse de bola. Contudo, ele segue desfilando variados entendimentos táticos, aos quais aplica conforme a necessidade dentro de uma mesma partida, de acordo com o adversário e o contexto do jogo.

“Posse de bola não ganha jogo. Os fatores de rendimentos são esses: remates à baliza, cruzamentos de qualidade, recuperações de bola e competir. Nossa equipe tem isso, é inteligente, sabe jogar o que o jogo pede. Não quero fazer posse de bola no meio de campo. Há jogos em que vamos ter mais posse, quando estamos pelo resultado e o rival se fecha. É assim na Europa, em todo lado, só não vê quem não quer ou não percebe. Competir é a base de tudo. Esses são meus fatores de rendimento”.

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Felipe David

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