Acabou o amor, Dome?

Ao chegar ao Rio de Janeiro há três meses, o técnico do Flamengo, Domènec Torrent, de 58 anos, era a tranquilidade e a paciência em pessoa. Nas primeiras partidas do time passava poucas orientações aos jogadores à beira do gramado, o que chegou a causar estranheza na torcida, acostumada a ver o ex-comandante Jorge Jesus esbravejar até quando o time estava ganhando.

Bastaram 25 jogos, uma epidemia de covid, lesões de jogadores e um calendário insano para a fala mansa do treinador catalão mudar. Primeiro, ele constatou a falta de ritmo do elenco e logo depois  já reclamou do pouco tempo para treinar os jogadores.

“É impossível jogar, se recuperar, jogar novamente, é muito difícil jogar com um estilo muito claro, mudar coisas”.  avaliara o treinador após o empate de 1 a 1 com o Botafogo, em agosto, pela Campeonato Brasileiro, que o deixava, na ocasião, pressionado com apenas uma vitória em cinco jogos.

Ele viu a pressão atingir ao auge na goleada de 5 a 0 sofrida para o Independiente del Valle, na atitude do Equador, pela Libertadores, em setembro. Mas os 4 a 0 no jogo de volta no Maracanã aliviaram o clima. O técnico, porém, definitivamente não seria mais o mesmo. Dome agora cobrava os jogadores em campo e passou a reclamar das marcações dos árbitros durante as partidas.

Visivelmente frustrado depois da goleada de 4 a 1, de virada, sofrida para o São Paulo, dentro do Maracanã, no domingo passado, o catalão disparou agora contra a imprensa, que indagava sobre a quantidade de gols sofridos pelo time:

“É uma loucura. Aqui no Brasil, você perde um jogo está tudo ruim. Não é assim. aqui, só falam do resultado. Se perdemos, está tudo ruim, se ganhamos, é tudo uau.”

Nesta semana, recebeu a solidariedade do amigo Pepe Guardiola com quem troca mensagens constantes. O treinador do Manchester City disse acompanhar os resultados do Flamengo e concordou com o colega que o calendário é um dos vilões dos treinadores de hoje.

“Assim fica difícil o treinador desenvolver alguma coisa para a evolução da equipe. Mas Dome tem muita qualidade e sei que o Flamengo tem tido bons resultados”, comentou o técnico que já teve Dome como seu auxiliar.

De fato: em outubro, o time carioca foi obrigado a entrar em campo nove vezes, média de um jogo a cada três dias em três competições: o Brasileiro, a Libertadores e a Copa do Brasil.

Na quarta-feira passada, já no fim do primeiro tempo da vitória de 3 a 2 do Flamengo sobre o Athletico-PR, no Maracanã. Domènec Torrent demonstrava irritação com a defesa rubro-negra. Afinal, a equipe tomara um gol com erro de passe pelo meio de Willian Arão. O placar estava 2 a 1 para os cariocas. Após o jogo, o treinador mostrou todo o seu descontentamento:

“Quando falamos que não podemos dar a bola por dentro desde os zagueiros e os volantes, isso é o que aconteceu nos dois gols. Temos que  estar focados o tempo todo. Jogamos bem 30, 35 minutos, mas precisados ficar atentos o tempo todo Eu assisti agora novamente aos gols. Sei que ninguém aqui é máquina. Os jogadores podem errar. O técnico também erra. Mas dos últimos seis gols demos cinco. Isso não pode acontecer mais”, queixou-se o treinador.

O Flamengo levou gol em nove dos últimos dez jogos. Com Dome, são 34 gols sofridos em 25 partidas, uma média de 1,3. Foram apenas cinco jogos sem levar gol. Sem tempo e com o desfalque  do zagueiro Rodrigo Caio, com lesão na panturrilha direita, ele terá o desafio de acertar a zaga para o encontro decisivo com o ofensivo Atlético-MG, de Jorge Sampaoli, no Mineirão. Será que Dome sofrerá um ataque de nervos?