ʽAcesso Totalʼ: a saga escrita por líderes invisíveis e heróis improváveis

“Será o dia mais feliz da minha vida”, projeta Kanu, deixando transparecer um sorriso de quem contava os minutos para retirar um elefante das costas. A frase do zagueiro está no início do primeiro capítulo de “Acesso Total”, série que revela cenas exclusivas do retorno do Botafogo à elite do Campeonato Brasileiro. A primeira de oito partes da saga foi exibida na terça-feira (23), no SporTV. A estreia e os sete episódios restantes da epopeia alvinegra estarão disponíveis no Globoplay.

A obra percorre o trajeto do Botafogo pela Segunda Divisão, desde a partida que marca a queda até o apito final da concretização do acesso. Os dois momentos, tão antagônicos, tiveram o Estádio Nilton Santos como cenário. Diretor do documentário, Antonio Bento Ferraz conversou com o Jogada10 e detalhou o projeto que eterniza a arrancada do Glorioso. Confira!

Jogada10: De onde parte a ideia de filmar um time tão desacreditado como o Botafogo em 2020/2021?

Antonio Bento Ferraz: Na verdade, o projeto começa em 2019. Trabalhava no Botafogo e tinha vontade de filmar um documentário sobre a transformação do clube em S/A. Por várias questões, no entanto, o plano acabou engavetado. Durante a pandemia, conheci a série sobre o Sunderland (ING) e fiquei louco. Quando veio 2021, com o Botafogo rebaixado, uma nova diretoria assumindo e a promessa de profissionalização, percebi o ambiente perfeito para ser documentado. Em seguida, levei a proposta para fazermos a série do clube.

J10: Se o Botafogo ficasse na Segunda Divisão, a série iria ao ar? Seria o novo Sunderland, que teve a luta para chegar à Premier League documentada, mas não obteve o final feliz?

Antonio Bento Ferraz: A série aconteceria de qualquer forma, pois já tínhamos fechado um contrato. O Botafogo teve um roteiro completo, com altos e baixos, diferente do Sunderland, que não consegue subir e vai parar na Terceira Divisão na segunda temporada. Foi um risco, mas a história seria contada da mesma forma, provavelmente, sem agradar o torcedor.

J10: Nestes meses de filmagem e com livre acesso aos bastidores, o que mais o impressionou?

Antonio Bento Ferraz: Destacaria a liderança de jogadores e funcionários invisíveis para o grande público. Sabemos quem dá entrevista e aparece mais na mídia e nas redes sociais. Você, ao estar nos bastidores, percebe quem trabalha para o ambiente está sempre bom e controla o vestiário. Estes líderes invisíveis foram fundamentais.

J10: O técnico Enderson Moreira, depois do título, disse que, para ele, o Botafogo subiu na vitória sobre o Coritiba por 1 a 0, no Couto Pereira, na segunda rodada do returno. Você concorda que aquele jogo é o divisor de águas?

Antonio Bento Ferraz: Concordo 100% com o Enderson. Aquela vitória mostrou a força do elenco e sinalizou que o Botafogo brigaria também pelo título. Estava claro pela vontade e a disposição do time para liderar o campeonato. Para mim, porém, o jogo mais marcante foi contra o Vasco, em São Januário, por conta da forma como a goleada foi construída, acabando com as chances de um rival. É também a partida na qual nos tornamos líderes da Segunda Divisão.

J10: Daqui a 20 anos, quando olharmos para a campanha do Botafogo, quem será a figura do acesso?

Antonio Bento Ferraz: Daqui a 20 anos, não sei se olharemos esta Série B como a mais difícil de todos os tempos. Não foi fácil. Primeiro ponto: O Botafogo soube disputá-la de forma inteligente e montou um time adequado à competição, sendo assim, o sucesso veio. Kanu é o elo de ligação entre 2020 e 2021, depois de ter passado por um ano muito difícil. Carli foi fundamental, quando muitos achavam que ele nem jogaria. Um exemplo de liderança. Chay jogava futebol amador e virou peça chave. Enderson mudou o astral do grupo. Este plantel conta com heróis improváveis. Difícil apontar só um.

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