(*) Vamos, filhos da pátria (em Francês)

Nada mais comum, nos dias de hoje, que a presença de negros e atletas com nomes distintos do idioma local nas seleções da Europa. O fenômeno tem dois lados distantes: o ótimo e o péssimo. O ótimo é saber que milhares de pessoas, a partir de meados do século passado, conseguiram encontrar abrigo fora de suas terras de origem, sem distinção de opção política, de credo ou raça. O péssimo é que boa parte delas não obteve sucesso. E continuou vivendo em más condições. Descriminada por uma escória negacionista como Marion Anne Perrine Le Pen.

Assaf: ‘A propósito, o que será feito dos 10 imigrantes ou filhos de estrangeiros que estavam entre os 22 – à época eram 22 – campeões mundiais da França em 1998?’ – DANIEL GARCIA / AFP)

Pois é. Se Marion Anne Perrine Le Pen derrotar Emmanuel Macron nas eleições para a presidência da França, neste domingo, é provável que a seleção de Didier Deschamps só possa aproveitar sete dos campeões mundiais de 2018 na Copa de 2022. Sim, 16 dos 23 atletas que ganharam o título há quatro anos, na Rússia, são descendentes diretos de imigrantes, muitos africanos, e poderão ser varridos dos territórios do país, de acordo com a política de extrema-direita da candidata.

A propósito, se você ainda não sabe, 23 dos 39 jogadores convocados pelo técnico desde abril de 2021, ou seja, em um ano, são filhos ou parentes próximos de estrangeiros que foram para a França em busca de uma vida melhor. Que bandeiras defenderão no Qatar, por exemplo, Karim Benzema, a exemplo de Zinedine Zidane, de origem argelina, e Kylian Mbappé, parente de camaroneses?

Durante séculos, a França colonizou regiões distintas do planeta, obrigou as populações a adotar hábitos e costumes, incluindo o idioma, e de duas décadas para cá uma corrente política, liderada pela família Le Pen, o patriarca, e nos últimos 10 anos, a filha, cismaram de renegar a história.

Ninguém morre de amores por Macron. Mas Marine é insistente. É a terceira vez consecutiva que chega ao segundo turno. Infelizmente, se isso ocorreu é porque recebeu uma quantidade considerável de votos, de milhares de compatriotas que acompanham o seu raciocínio. Se vencer dessa vez, e parece que tem alguma chance, Benzema e Mbappé não poderão cantar a Marselhesa no Qatar.

A propósito, o que será feito dos 10 imigrantes ou filhos de estrangeiros que estavam entre os 22 – à época eram 22 – campeões mundiais da França em 1998? Também serão proscritos pela revisão prometida pelo clã Le Pen?

A sorte da França é que Macron, até agora, ganhou mais atenção que Marine. Mas os votos de outros candidatos derrotados no primeiro turno estão aparentemente sem destino exato. Que França teremos na Copa? O país de 26 campeões mundiais que a escolheram como pátria? Ou o país da filha do homem que considerou o Holocausto um “detalhe na história da Segunda Guerra”?

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10.

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