Com menos de cinco minutos, Fernando Miguel já havia feito duas grandes defesas. Sinal de que a missão de vencer o líder do Campeonato Brasileiro não seria nada fácil. Quando abriu o placar aos nove minutos, o Internacional já havia finalizado quatro vezes. Suas linhas adiantadas dificultaram a saída de bola do Vasco, e o time gaúcho fez por merecer a vantagem. O VAR, contudo, chamou para si o protagonismo do duelo. A falha técnica na calibragem das linhas de impedimento em um jogo valendo disputa de título e rebaixamento é inadmissível. Sem o funcionamento da ferramenta, a posição de Rodrigo Dourado na jogada aérea com bola parada causou dúvidas se ele estava adiantado ou não. Deste modo, foi validada a decisão de campo.

Benítez continua sobrecarregado em um Vasco que sofre pela falta de poder de fogo no Brasileirão – Rafael Ribeiro/Vasco

O episódio desestabilizou o Vasco, que viu a partir daí o Colorado adotar confortavelmente a estratégia de recuar as linhas para apostar nos contra-ataques. Desesperado por uma resposta imediata, esbarrou em suas próprias limitações. O time de Vanderlei Luxemburgo depende exclusivamente dos passes de Benítez para Cano. O meia, porém, se viu mais uma vez obrigado a recuar demais para articular as jogadas, e o atacante isolado participou pouco coletivamente, aguardando alguma chance de finalizar.

No primeiro tempo, o Vasco sequer acertou uma finalização na direção do gol de Lomba – foram dois arremates para fora. Uma improdutividade que vem se repetindo nos primeiros 45 minutos das partidas sob o comando de Luxa. Além de reduzir consideravelmente as chances de vitória, a opção por competir em apenas um tempo – essa foi a realidade nas derrotas para Flamengo e Fortaleza – impõe ao time a obrigatoriedade em não sair atrás no placar. Reforça, ainda, o fato de o time de São Januário jamais ter conseguido virar um jogo nesta edição do Brasileirão.

As mudanças constantes de Luxemburgo, aliás, não apresentam qualquer tipo de critério. Como explicar o fato de Talles Magno ter perdido a posição no clássico contra o Flamengo para Gabriel Pec que, por sua vez, saiu do time na rodada seguinte diante do Fortaleza? Ou então a escolha por Caio Lopes para ser titular contra o Tricolor cearense, mas sequer ter sido relacionado para o duelo frente ao Internacional?

O excessivo recuo do Colorado no segundo tempo contribuiu para as chegadas do Cruz-Maltino, que rondava com lentidão a área gaúcha, sem ideias. Luxa buscou acelerar pela direita com a entrada de Juninho na vaga de Bruno Gomes, amarelado. Deste modo, Carlinhos foi deslocado para compor a dupla de volantes ao lado de Léo Gil no 4-2-3-1. Sem poder contar com os laterais, presos na marcação, a infiltração era praticamente impossível. Talles esteve novamente muito mal pela esquerda. Centralizado, Ben10 não conseguiu criar.

Restava ao Vasco se posicionar mais à frente e sufocar a saída de bola adversária. Ao aproximar mais suas linhas e “morder” na frente, viu o Inter se desfazer da bola e ficar na dependência de lançamentos para Yuri Alberto, sem efeito. O time teve mais a posse de bola (64%), porém pouco agrediu. Foram apenas cinco finalizações contra 12 dos comandados de Abel Braga. E nenhuma delas na direção do gol. Em mais uma marcação polêmica, Cano teve a chance empatar, mas desperdiçou um pênalti, aos 37 minutos, ao bater para fora.

O abatimento e o cansaço tomaram conta da equipe cruz-maltina, que até então tinha o controle territorial da partida. O Colorado só finalizou duas vezes, e nos acréscimos. Na segunda, após Benítez perder a bola, Léo Gil freou a marcação e ficou observando a linha de passe do ataque gaúcho até o ex-vascaíno Thiago Galhardo balançar a rede e dar números finais ao jogo.

Falta capricho ao Vasco nas poucas chances que cria. Mas Luxemburgo tem seu grau de responsabilidade e a fragilidade de suas estratégias tem sido gritante nos últimos jogos. No final, a conta pode chegar cara demais para um clube com as tradições do Vasco.

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