Ainda que haja uma ínfima chance matemática, o campo anuncia em alto e bom som: vai cair! Ou pior: caiu! Tarde de domingo. Itaquera, São Paulo. Uma partida de futebol. Em jogo, a luta contra o rebaixamento e uma chance de vaga na Libertadores.

Parecia tudo, menos uma partida com duas equipes defendendo interesses tão gigantescos como os citados acima. O empate sem gols na Neo Química Arena foi mais uma prova de que o Corinthians não vai para a competição sul-americana, e o Vasco deve jogar a Série B em 2021, caso não haja uma reviravolta na ação no STJD, que pede a anulação do jogo contra o Internacional. Em campo, uma equipe mentalmente fraca, tecnicamente pobre e fisicamente morta. Esse foi o Vasco de Vanderlei Luxemburgo.

Ramiro deixa a marcação dupla de Leandro Castan e Henrique na saudade e avança pela direita  – Agência Corinthians

A reação dos jogadores após o fim do jogo mostrou que a Segunda Divisão já é uma realidade – choro e abatimento no banco de reservas e no trajeto infindável do campo até o vestiário.

Em momento algum o Cruz-Maltino conseguiu pressionar o adversário, que controlou a maior parte do jogo (57% de posse) e finalizou 12 vezes, mesmo atuando em marcha lenta. Nem mesmo com a necessidade de fazer um gol, o Vasco demonstrou urgência em se lançar para o ataque. O torcedor teve a impressão de que a equipe disputava apenas mais uma rodada do Brasileiro e estava satisfeita com o empate. Foram sete finalizações e um desinteresse inexplicável pelo ataque que revoltou os torcedores nas redes sociais. Só que o time entrou em campo sabendo que apenas a vitória manteria viva a chance de permanência na Série A, por conta da vitória do Bahia sobre o Fortaleza, no sábado.

“Não tem como mentir. O Vasco tem que fazer 12 gols, o Brasil tomou sete e foi um aborto. Temos que ser realistas e não passar mentira para o torcedor”, admitiu Vanderlei Luxemburgo após a partida.

O treinador de 68 anos, aliás, igualou a campanha do antecessor Ricardo Sá Pinto, com 30,3% de aproveitamento. Foram duas vitórias, quatro empates e cinco derrotas no comando do Vasco neste Brasileirão. Campanhas inferior à de Ramon Menezes, que deixou o clube em décimo lugar na tabela, com cinco vitórias, três empates e cinco derrotas, e aproveitamento de 46%.

Para o duelo em Itaquera, o time não teve dois dos seus três argentinos. Léo Gil foi barrado após a enxurrada de críticas por ter parado na jogada do gol de Thiago Galhardo na rodada anterior contra o Internacional, e Andrey formou a dupla de volantes com Bruno Gomes. Benítez perdeu todas as atividades da semana por conta de um desconforto muscular na coxa direita e desfalcou  o time.

Fora os dois sustos no primeiro tempo, com um contra-ataque de quatro homens contra dois desperdiçado pelos corintianos e uma finalização de Fagner que obrigou Fernando Miguel a fazer boa defesa, o setor defensivo melhorou. O problema era o ataque. Sem Ben10 em campo, Cano mais uma vez ficou isolado Talles Magno, Pikachu e Carlinhos não conseguiam se aproximar do centroavante e também pouco ajudaram. A única jogada vascaína que levou algum perigo foi em um chute de Carlinhos de fora da área que passou à direita de Cássio.

Na etapa final o que se viu foi um Corinthians cauteloso, evitando sofrer contra-ataques, e um Vasco mais fechado e temeroso de sofrer um gol que poderia selar matematicamente o rebaixamento. Luxemburgo mudou toda a sua linha de frente, incluindo Andrey. Mas as entradas de Catatau, Juninho, Gabriel Pec, Tiago Reis e Marcos Júnior não surtiram efeito algum no sistema ofensivo, que permaneceu inoperante.

No momento crucial da temporada, os homens de frente vascaínos eram dois jovens da base (Pec e Tiago Reis) e um garoto que defendeu o Madureira no último Carioca (Ygor Catatau). Luxemburgo errou. Mais uma vez. Independentemente da atuação de Cano, o técnico jamais poderia sacar do time o responsável por metade dos gols do Vasco na temporada.

Ficou claro que Luxa enxerga os setores de meio de campo e de ataque como os maiores problemas. Contudo, por mais que a formação do elenco tenha sido mal planejada no início de 2020, o “Pofexô” insistiu em fazer testes em busca de um time ideal de jogo para jogo, quando deveria, nas últimas cinco rodadas, ter mantido sua aposta em uma base como fez nos quatro primeiros jogos. O treinador deixou suas convicções de lado, e o Vasco paga um preço caro por isso.

 

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