Só os que viveram antes e depois da Era Zico podem testemunhar a importância do craque na história do Flamengo. Até meados da década de 1970, o clube tinha uma abordagem regional. E havia o conceito de que as vitórias nesse âmbito eram suficientes para a alegria geral.
As mudanças começaram quando uma turma dissidente da velha política interna, existente desde o começo do século passado, chegou ao poder. Estava disposta a ampliar a área de atuação do futebol. O objetivo foi alcançado em menos de cinco anos, com a conquista de títulos estaduais, nacionais, sul-americano e mundial.
Na realidade, a mudança foi bem além dos muros da Gávea, pois internacionalizar a marca – o Flamengo como exemplo – passou a ser obsessão dos demais clubes brasileiros, notadamente os gigantes, o que é hoje, aliás, prática usual de todos.
Para fazê-lo, no entanto, era necessário formar, como ocorreu, com atletas de muita qualidade, e equipes capazes de competir – para superar – adversários de alto padrão. E foi nessa ocasião que o Galinho de Quintino se encaixou com perfeição no esquema que transformou o Rubro-Negro em clube respeitado no planeta.
Sim, há Flamengo AZ e DZ. Antes e Depois de Zico. Afinal, sem ele, como craque excepcional, líder dentro e fora do campo, e profissional na essência da palavra, a visão dos dirigentes que assumiram para derrubar antigos modelos de administração não teria vingado com a eficiência e a celeridade que tornaram os objetivos em realidade.
Nesse sentido, fui – ou sou – um privilegiado. Afinal, conheci os melhores anos de minha vida exatamente entre o fim do AZ e o começo do DZ. Isso que me deu oportunidade para acompanhar – com presença freqüente – o maior esquadrão da história do clube. E que hoje é referência definitiva para o próprio cotidiano do futebol.
É de se imaginar o que fariam as novas gerações, que exigem e vibram com as várias realizações internacionais, subitamente transportadas para a década de 1960, sofrendo com times medíocres, derrotas acachapantes e freguesias intermináveis para rivais. A propósito, nesse sentido sou duplamente feliz, pois comemorei título de juvenis como Mundial, nos limites que estavam ao nosso alcance. E título de Mundial como título de juvenis, dado que a ambição acabou superando os muros da cidade, do estado, do país e do continente.
Não tivesse conhecido Zico como ser humano, em tempos de torcedor e notadamente como jornalista, e acreditaria que ele é uma divindade que está acima da nossa racionalidade. Sim, AZ e DZ, compreensível para os meus contemporâneos, e muito distante para as gerações que julgam o craque apenas como lenda criada pelos mais velhos para evitar que a memória se mantenha viva.
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