Futebol Brasil

Ao J10, treinador português dispara: ‘Criamos personagens, mas nada justifica xenofobia’

Diante do suposto caso de xenofobia a treinadores portugueses, em que um auditor do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR) disse que técnicos daquele país estão querendo “marcar território”, e o respectivo repúdio da fala por parte de clubes brasileiros, o JOGADA10 conversou com Paulo Caroço, técnico lusitano que trabalha há anos no futebol do Tocantins.

Mesmo distante dos principais centros do Brasil, o treinador de 49 anos, atualmente na base do Capital FC e com passagem recente pelo profissional do Palmas, acompanhou com tristeza o ocorrido na audiência da última quarta-feira que julgava a briga entre os jogadores do Athletico e do Coritiba, no mês passado. Rubens Dobranski foi acusado de xenofobia contra o técnico António Oliveira, do Coxa. Não bastasse, o auditor ainda citou Abel Ferreira, do Palmeiras.

Paulo Caroço acumula passagens por clubes do Tocantins – Arquivo Pessoal

Caroço fala em ‘problema estrutural’ no Brasil

Embora assegure nunca ter vivenciado um caso de xenofobia em território brasileiro, Caroço, de posicionamento firme, define a situação como um “problema estrutural” ao mesmo tempo em que afirma que muitos se incomodam com o sucesso de seus compatriotas.

“Acompanhei com tristeza essa situação, apesar de nunca ter sofrido qualquer tipo de xenofobia aqui. Mas é fato que alguns estão chateados com o sucesso de treinadores portugueses. O país tem alguma resistência a estrangeiros. A sociedade brasileira tem alguma resistência ao nível de quem tem sucesso. Aliás, isso é um problema mais estrututal do que qualquer outro. Analiso essas situações como reflexo da própria sociedade. Um complexo de inferioridade que não deveria existir porque em todas as atividades os brasileiros são capazes de um bom desempenho”, iniciou.

Paulo Caroço já tinha oito anos de Brasil quando Jorge Jesus abriu o caminho aos compatriotas pelo sucesso que fez em 2019 no Flamengo. Embora não seja novidade no mercado brasileiro, a presença de portugueses se estabeleceu intensamente nas últimas quatro temporadas.

Paulo Caroço, (à esq.) durante jogo do Capital, seu atual clube – Reprodução

“O sentimento é de tristeza, ainda mais pelo António Oliveira, a quem conheci quando ele ainda era jogador do Oriental, em Lisboa. Já o Abel acaba por ser o personagem que ele criou. Acaba por ganhar alguma coisa (críticas) com algumas situações, assim como o Jorge Jesus, o Mourinho… São personagens que eles criam para tirar o foco sobre os jogadores e trazer para si mesmos a atenção. È uma forma de resguardarem seus atletas. São inteligentes”, continuou o treinador do Capital.

“Quando me refiro a personagens se trata de uma questão cultural. Vai de cada treinador. Mourinho, por exemplo, foi o primeiro grande técnico personagem do futebol mundial. Ainda mais no ambiente midiático de hoje. Abel quer blindar o grupo, atrair para si todas as atenções e não permitir os ataques aos jogadores. Tanto que Abel sempre foi um cara tranquilo fora de campo tal como Mourinho quando o conheci. Só que eles blindam seus jogadores e acabam se expondo bastante”, acrescentou Caroço.

Xenofobia: crime previsto em lei

Por fim, Paulo Caroço enfatizou que os técnicos de Portugal não se colocam acima do bem e do mal. Além disso, deixou claro que fazer um estrangeiro dar exemplo é mais fácil do que corrigir a postura de muitos treinadores brasileiros, que também se excedem na beira do gramado.

“Já não tenho contato com o António Oliveira. Mas afirmo que as palavras do auditor foram bastante deselegantes. Ao dizer que os portugueses estão querendo “marcar território”, o auditor quis transmitir a imagem que nós nos colocamos acima da lei, e não posso concordar com isso. Concordo, sim, com os personagens criados. Às vezes é mais fácil fazer dos portugueses um exemplo do que os brasileiros, já que muitos, às vezes, têm atitudes e comportamentos não dignos em relação aquilo que é o desempenho da atividade e da função”, concluiu Caroço.

Xenofobia é crime previsto na Lei nº 9.459 de 1997, que dispõe sobre “os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Em decisão no ano passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu que a xenofobia passou a ser considerado crime de racismo. Portanto, quem comete xenofobia fica passível a reclusão de um a três anos e multa.

O TJD-PR indicou uma comissão para instaurar um inquérito disciplinar com a duração de 30 dias. O afastamento do auditor da terceira comissão foi imediato.

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Felipe David

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