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É impossível descartar a Alemanha como uma das favoritas ao título da Copa. Foi oito vezes à decisão da Copa. E conquistou quatro. Mas só nesta quarta-feira é que será definitivamente possível ter a idéia de como disputará o torneio do Qatar. O Japão, seu adversário é franco-atirador. Costuma jogar o suficiente para não passar vexames. Assim, a obrigação de vencer – é claro – é da Alemanha, que vez por outra submete o ditado comum ao contrário: joga muito pouco e ganha como sempre.

Kimmich (centro) é um dos cérebros da Alemanha – Ina Fassbender/AFP via Getty Images

Já a Espanha passou a ser favorita a partir do século atual, pois antes chegava com expectativa formidável e saía pela porta dos fundos. Em 1986, como exemplo, enfiou o inesquecível 5 a 1 na Dinamarca, nas oitavas. Mas caiu nos pênaltis, nas quartas, diante da Bélgica. Hoje está eventualmente em primeiro plano. A melhor lembrança da Costa Rica vem de 2014, quando ameaçou alcançar as semifinais, e foi eliminada pela Holanda. Mas dificilmente repetirá aquela campanha, pois as gerações brilhantes raramente se repetem. Não seria necessariamente uma surpresa absurda ver a Espanha próxima do título. Contudo, representaria um susto formidável se a equipe da Concacaf chegasse à próxima fase.

Como está a Bélgica

A Bélgica formou excelente seleção nos últimos 10 anos. Mas parece o personagem da Escolinha do Professor Raimundo, que na hora de ganhar a nota máxima se atrapalha e dá uma resposta efetivamente confusa. A impressão que se tem é a de que passou do ponto. E se já não ganhava nada quando apresentava muito, não será agora, mais desgastada, que terá sucesso. Digamos que a Bélgica é uma zebra beleza. Se contrariar o escrito será com certeza uma delas.

O Canadá, que disputa a primeira Copa desde 1986, é uma dessas seleções que consegue reunir, a cada 30 anos, um elenco suficiente para superar as eliminatórias. E, assim, garantir um lugar ao sol. Seu treinador é o inglês John Hardman, experiente no futebol feminino, e que obteve a façanha de levar os canadenses a uma Copa após quase quatro décadas. Não espantaria se formasse uma retranca para evitar o pior.

Olho na Croácia

A Croácia é a atual vice-campeã mundial, o que não é surpreendente, pois além de ter obtido o terceiro lugar em 1998 é a principal herdeira da Iugoslávia. Ou seja: tradição no futebol, incluindo competições internacionais. Pratica um futebol interessante, e como pouco dela se diz, largada eventualmente a um segundo escalão. Assim, tem menos possibilidade de ser cobrada e maior de alcançar posição de destaque. O Marrocos já fez feio e bonito em Copa. Tem bons jogadores e um treinador, o francês Walid Regragui, que está há 20 anos no país, já dirigiu a seleção e sabe como escalá-la. Não é uma equipe sem qualificação. Deve fazer bom duelo com os croatas.

Estreia da França na Copa

A França não fez uma partida absolutamente brilhante, levando-se em conta a fragilidade do adversário. Mas apenas à altura de seus muitos desfalques, fato com o qual terá que conviver até o fim da Copa, se chegar até lá. Apesar deles, e embora tenha tomado um susto logo aos oito minutos, quando Goodwin fez 1 a 0, pôs a bola no chão para virar o placar com tranqüilidade, mesmo que os cangurus tenham tentado complicar antes do intervalo. Mbappé é craque, e tratou de desequilibrar na etapa derradeira, quando a Austrália caiu definitivamente na real. De quatro a um. Difícil imaginar que a França possa ser eliminada na primeira fase. E que a limitada seleção dirigida por Graham Arnold consiga escapar da degola.

Empate sem graça

México e Polônia fizeram um primeiro tempo medíocre, de pouca técnica e raras oportunidades de gol, criadas basicamente pela seleção tricolor, que teve maior posse de bola e não soube transformá-la em algo positivo. Nada de interessante até o intervalo. Veio a etapa final, e a equipe européia, que era melhor, aproveitou uma bobeada do adversário para ganhar um pênalti óbvio, que ele, o fabuloso Lewandowski, bateu mal para defesa do Ochoa. Ochoa, se você não sabe, ou esqueceu, era o goleiro do América que fez 3 a 0 no Flamengo no Maracanã, em 2008. Nada a ver. Só lembrança. Eram 12 minutos. O México não soube aproveitar. O jogo ficou equilibrado e mais nada aconteceu. Afinal, 0 a 0 sem graça. E a Arábia Saudita, ora vejam, lidera o grupo.

Tunísia e Dinamarca

A Tunísia começou a mil por hora. Aos poucos, a Dinamarca foi ganhando terreno, e acabou o primeiro tempo jogando mais. No entanto, não fez gol, e teria que encontrar uma fórmula para tal, o que parecia difícil, pois embora tivesse a posse da bola, não ameaçava de fato. Seria impossível para o time africano manter o ritmo do início. Com pouco mais de uma hora, Kasper Hjulmand efetuou mudanças em penca – a seleção escandinava levou nove atacantes para o Qatar – e passou a pressionar. A Tunísia continuou organizada, marcando forte, e raramente se arriscava, e conseguiu manter o 0 a 0, placar razoável, levando-se em conta que a Dinamarca prometeu mais que o oferecido, diante de bons resultados atuações recentes.

Argentina jogou um futebol de… Arábia Saudita

A Arábia Saudita é uma turista acidental. Ou não? Jogou um futebol honesto, sem pancadaria, sem retranca absurda, com gols interessantes, e derrotou a Argentina, de virada, em resultado, acredite, justo diante das circunstâncias. Vale lembrar que vários campeões do mundo não venceram na estréia. A Espanha, em 2010, perdeu da Suíça. Os jovens desconhecem, mas houve uma época, faz meio século, que os treinadores adotavam eventualmente a “tática do impedimento”, ou seja, manter a zaga avançada o suficiente para largar os atacantes além do último homem.

Em 1990, dada a média baixa de gols na Copa realizada na Itália, a Fifa passou a aceitar posição legal quando os adversários estão na mesma linha. Não havia a maldição do VAR. Logo, vez por outra surgiam goleadas espetaculares. Fosse naqueles tempos, e a Argentina teria decidido no primeiro tempo, quando fez 1 a 0, com Messi cobrando pênalti, teve um punhado de gols anulados, mas saiu em vantagem.

E como o futebol mudou, mas tudo continua sendo possível, tomou dois gols no começo da etapa derradeira, O jogo mudou. E começou o drama. Os árabes recuaram, mostrando uma disposição incomum, e jogando um futebol correto, complicaram de fato a vida dos argentinos, que tiveram o tempo final praticamente inteiro para ganhar, mas não encontraram soluções para fazê-lo. É uma grande zebra. E o vento pode virar. Para os dois lados. Mas que o 2 a 1 foi justo não há dúvida. A Arábia Saudita jogou um futebol de Argentina, e a Argentina, digamos, de Arábia Saudita.

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