- Lucas Figueiredo/CBF
Pelo menos oito das 32 seleções que disputarão a Copa do Mundo no Qatar podem, pela tradição – todas participaram de finais da competição – e qualidade dos elencos alguma chance de conquistá-la: Alemanha, Argentina, Brasil, Croácia, Espanha, França, Holanda e Inglaterra.
Mas, na realidade, apenas quatro são favoritas no Qatar. Sem ordem alfabética, a Argentina lidera o quarteto. Após a eliminação pela França, futura campeã, na segunda fase do Mundial 2018, Lionel Scaloni substituiu o lunático Jorge Sampaoli, e construiu a regularidade que possui um mérito interessante: não depende de um craque excepcional – seu xará Messi – para realizar boas partidas. Não apresenta espetáculos. Mas sabe jogar com eficiência.
A França briga pelo segundo título consecutivo. E embora não tenha apresentado futebol convincente, continua obrigatoriamente, até que prove o contrário, como provável vencedora, pois pode acertar o passo ao longo do torneio.
A Alemanha não tem hoje o status da seleção que foi tetra no Maracanã, mas disputou oito decisões entre 1954 e 2014 – ou seja, pelo menos uma em cada duas Copas no período. A renovação tem sido confusa, mas não seria uma surpresa absurda se apresentasse o jogo pragmático que a torna difícil de ser derrotada.
O Brasil fecha o quarteto, porque possui um punhado de jogadores brilhantes em seus clubes, e manteve a continuidade do trabalho nos últimos tempos, embora seu treinador não seja exatamente um gênio do futebol.
O Brasil, por razão óbvia, merece um comentário mais extenso. Logo, vale dizer que se a seleção de Tite adotar o procedimento verificado em 1970 e em 1994 – foco exclusivo na competição e o desejo obsessivo de conquistá-la – terá chances reais, Precisará, assim, abrir mão por completo do que pode ser desnecessário em um mês, como convivência cotidiana com a família, festas e farras, e exposição freqüente em rodas sociais, para exibir, por exemplo, cortes novos de cabelo, ou modelitos extravagantes.
Em 1970 e em 1994, a seleção vinha de vexames evidentes, mas sabia das possibilidades de sucesso de cada um dos elencos – até ali perdedores. E os grupos formados jogadores experientes que assumiram a liderança, souberam, em ambas as ocasiões, contornar a situação.
O grande problema atual é que há veteranos, mas que estão bem distante de exercer alguma ascendência semelhante. Thiago Silva e Neymar não lideram nem festa de criança. De qualquer forma, até pelo histórico de quase um século em Mundiais, o Brasil está entre os principais favoritos.
A propósito, não é um absurdo lançar Croácia, Espanha, Holanda e Inglaterra no rol das possibilidades. A Croácia já chegou a uma decisão. E é herdeira natural da antiga Iugoslávia, chamada outrora de Brasil da Europa, pela qualidade de seus jogadores e pela desorganização fora do campo.
Quanto a Espanha, Holanda e Inglaterra, nunca se sabe exatamente como procederão, se jogando o suficiente para ganhar favoritismo ou para promover frustração. A Holanda acumula três vides.
Temos que destacar ainda as presenças de Bélgica, Portugal, Sérvia e Suíça. A impressão – que pode ser contrariada – é que Bélgica e Portugal passaram do ponto, ou seja, não aproveitaram os momentos em que gozaram dos melhores elencos de suas existências, quando terminaram entre os semifinalistas. Portugal caiu em 1966, quando enfrentou a poderosa Inglaterra de Bobby Charlton, a campeã daquele ano, e em 2006, quando pecou na Hora H porque não tinha técnico. A Bélgica brilhou em 2018, quando eliminou o Brasil, mas sentiu a falta de uma camisa de peso no momento de decidir.
A Sérvia – outra herdeira da Iugoslávia – e Suíça não ganharão o título. Mas são as mais cotadas, no campo do improvável, e apenas uma delas, repetir a Croácia de 2018.
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