Roberto Assaf

Cova aberta ou fechada

Há uma forma de protesto que não envolve agressão e vandalismo. Já escrevemos sobre tal. Basta fazer greve. Não vá ao estádio. Arrecadação zero. Ah, mas isso já aconteceu ao longo da pandemia. Ora, ali era o óbvio. Portões fechados. Agora é diferente. Ignore. Não compre o pacote. Não vejo o jogo. O torcedor sofre por Hugo Souza, Matheus França, Gomes, Andreas Pereira e mais nove ou dez, em eterna recuperação, que não suportam às vezes 60 minutos de bola rolando, porque quer. Não é obrigação.

Se esse procedimento fosse adotado após os vexames do segundo semestre de 2021 os cartolas já teriam tomado alguma providência. O torcedor acreditou, até a perda do tetra, que esse ainda era o time de 2019, um dos três maiores da história do clube. Aquele time acabou quando Renato Gaúcho assumiu. Estamos afirmando isso faz seis meses. Paulo Souza chegou com a pá e o cal.

Na realidade, todos têm culpa nesse imbróglio: diretoria, comissões técnicas, atletas, torcedores e imprensa. Sim, imprensa, pois vários jornalistas, por razões distintas, notadamente para manter a audiência, passaram os últimos tempos escrevendo e falando, na TV e na internet, que o Flamengo é o favorito.

O Flamengo só voltará a ser favorito quando providenciar a mudança. Que pode, quem sabe, começar agora, não pelas agressões da manhã ensolarada de sexta-feira no Ninho do Urubu, mas porque a primeira impressão é a de que as pessoas abriram finalmente os olhos.

Sem querer ser cansativo: o Flamengo perdeu seis títulos depois que Renato Gaúcho abandonou a possibilidade de conquistar o terceiro Brasileiro consecutivo. Além do Brasileiro, a Copa do Brasil, a Libertadores, a Supercopa do Brasil, a Taça Guanabara e o Estadual. Taça Guanabara é título sim. Os outros, quando ganham compram o pôster e pregam na parede.

Ninguém vai aplaudir pancadaria em atleta. Mas incentivar a greve sim. Não vá ao estádio, não compre o pacote, não veja o jogo, mas não agrida atleta, pois se o Flamengo voltar a triunfar não será por violência, mas porque os conceitos enfim mudaram.

Os caras que foram lá distribuir bofetões no belo dia carioca são os mesmos que estiveram no Maracanã dois dias depois que o time apanhou do Palmeiras em Montevidéu, incluindo David Luiz e Andreas Pereira, que até agora estão vendo Deyverson passar para rir da cara de todos nós.

O que há, desde então, é uma passividade geral, alimentada pela cegueira e pela eterna e pernóstica empáfia rubro-negra, que passou a vida empurrando o Flamengo para a cova. O time de 2019 acabou. Há uma lápide sobre o túmulo. Resta agora uma reação capaz de impedir um enterro de maiores proporções, que mandará o Flamengo para a Série B de 2023.

O que diretoria, técnicos, atletas, torcedores e imprensa devem fazer é fechar o buraco que está aberto a partir da estréia no Brasileiro com terra, só terra, sem o clube dentro, mas ocupando uma posição que impeça o sofrimento de vê-lo jogando xadrez com a morte. E não seria absurdo dizer que há urgência neste processo.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10.

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Leo Pereira

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