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Cuca declara: ‘Me comprometo a combater a violência contra a mulher’

No fim da coletiva deste domingo (10/3), quando falou de sua estreia no comando do Athletico (6 a 0 sobre o Londrina, que levou o time à semifinal do Paranaense), Cuca falou  sobre a situação que viveu nos últimos meses por causa de críticas que recebeu sobre a sua conduta no caso de violência sexual a uma mulher na Suíça, no fim dos anos 80. O caso ganhou holofotes em 2023, quando a torcida do Corinthians pediu a sua saída, pouco depois de assumir o time. Afinal, a decisão do caso (seu julgamento foi à revelia e ele jamais cumpriu qualquer pena)  sempre foi considerada nebulosa. Isso levou Cuca a se afastar do futebol até que a justiça resolvesse a situação de vez na Suíça. Há semanas, o caso foi encerrado com a sua descondenação, pois o caso estava prescrito e o filho da vítima (já falecida) não quis reabrir o processo.

Sem esconder que estava nervoso, Cuca leu uma declaração na qual afirmou que aprendeu com tudo o que passou nos últimos tempos. E que pretende se tornar uma voz que vai se levantar na luta para diminuir a violência contra a mulher.

“Eu pensei que estava livre de minha angústia quando a resolução tinha acontecido na Suíça, com a anulação, descondenação, indenização. Mas não acabou. Afinal, entendi que não dependia de uma decisão judicial. Mas, também, entender  o que a sociedade espera de mim. E vocês vão ver daqui para frente da minha parte. Não serão apenas palavras. Mas atitudes. Estou junto nessa causa a e me comprometo a ajudar”, disse Cuca, lembrando que teve a ajuda da mulher e das filhas na redação do texto que leu.

Cuca , no fim a coletiva deste domingo após o jogo do Athletico, falou sobre o que pretende fazer para educar as pessoas e ajudar a combater a violência contra as mulheres  – Foto: Reprodução/Rede Furacão

Veja abaixo os outros trechos  da declaração do treinador na noite deste domingo:

Cuca sem cobrança até 2023

“Escolhi me recolher por muito tempo e mesmo assim pude seguir minha vida. Uma mulher que passa por qualquer tipo de violência, ela não consegue seguir a vida sem permanecer machucada, pois o impacto dura para sempre. Pude levar minha vida contornando a história porque o mundo do futebol e o mundo dos homens, onde eu vivo, não tinha me cobrado nunca nada durante anos. Mas, hoje, o mundo está mudando. E para melhor. Por isso, me dei conta de que não adianta eu ser um grande treinador, pai, marido, irmão, se eu não entender que o mundo é feito de outras coisas sem ser o futebol e que eu faço parte dessas coisas.”

Silêncio soando como covardia

“Eu enxergava os problemas, recorrentes no universo do futebol. Mas me calei porque a sociedade permitia que um homem se calasse. Agora entendo. Não posso mais me recolher e ficar calado, pois o silêncio soa como covardia. Busco ouvir mais e comprender mais. Não posso mudar o passado. Quantos homens que agora me escutam são capazes de olhar para o passado e rever suas atitudes? A gente sabe que o mundo é um lugar diferente para homens e mulheres. Quando a gente enxerga isso, podemos até resistir, mas algo muda na gente. Esse é o primeiro passo.  Depois, o sentimento é o de real desejo de mudanças. Porém, mudanças honestas e verdadeiras levam tempo. São dolorosas e desafiadoras. Entendo que a realidade tem de ser transformada e que o mundo seja mais seguro para mulheres”.

“O mundo do futebol ainda é um mundo com muito preconceito. Entendo que quando me cobram não é somente sobre mim. É sobre a forma como nós, homens, e a sociedade tratam as mulheres com desigualdade e de maneira violenta. Não estou falando como uma fala isolada para agradar alguém ou da boca pra fora. Se fosse,  assim me manifestaria antes. Falo de coração”.

Educar os jogadores na base

“Tenho me dedicado e me comprometo a aprender cada vez mais e fazer mais parte dessa transformação. Posso fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar e jogar luz sobre a gravidade e seriedade da violência contra a mulher. E  usar a voz que tenho.  Ao mesmo tempo que me educo, educar outros homens, principalmente os jovens no futebol.  Tudo  isso é desafio para qualquer jovem, muitos se perdem no caminho,  a vida muda rapidamente. Somos levados a pensar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres. É ali com os garotos que  conseguimos sensibilizá-los e mudá-los. Todos deveriam entender o que estou aprendendo. Sucesso, dinheiro e fama não servem para nada se você se perder no caminho”.

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Carlos Alberto

Repórter, setorista da Seleção Brasileira, colunista e editor do Jornal dos Sports entre 1998 e 2000. Editor, colunista e editor executivo do LANCE! de 2000 a 2020, Editor-chefe do Jogada 10 desde 2020. É formado pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha-RJ) e participou de coberturas de 6 Copas do Mundo (4 como enviado, 1 como chefe de reportagem 1 como editor-chefe), 2 Copas Américas, 1 Eurocopa, 2 Mundias de Clubes, 1 Olimpíada e 6 Champions League.

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