Botafogo

De Emil Pinheiro a John Textor: ex-goleiro do Botafogo espera ʽvirada totalʼ

Ricardo Cruz tem forte ligação com dois grandes clubes do futebol carioca. Começou no Fluminense, sendo tricampeão carioca (1983, 84 e 85) e conquistando o Brasileiro de 1984, sempre como reserva de Paulo Victor. Mas foi no Botafogo que o ex-goleiro marcou seu nome na História. Primeiramente, ajudando a tirar o clube de um longo jejum de 21 anos sem títulos, em 1989. Conquistou o bicampeonato no ano seguinte, lutou pelo tri em 1991 e foi vice do Brasileiro em 1992.

Ricardo Cruz fez o tricolor Fagner vestir o glorioso manto sagrado alvinegro – Reprodução do Instagram

Ele participou de uma época em que o Glorioso saiu do limbo para os holofotes graças ao aporte financeiro de um investidor particular – no caso, o bicheiro Emil Pinheiro – e hoje vislumbra um futuro forte para o Alvinegro graças à chegada do empresário norte-americano John Textor.

“É preciso focar nas competições internacionais, que darão o retorno econômico e a visibilidade que os novos acionistas esperam”.

CONFIRA A ENTREVISTA 

JOGADA 10: Como você vê esse momento do Botafogo, que foi, digamos, o clube carioca mais ‘vitorioso’ de 2021?

RICARDO CRUZ: “Vejo com muita satisfação e, mesmo de fora, parabenizo todos os envolvidos. Não foi questão de sorte, pois sorte só surge para quem faz por onde e o Botafogo mereceu. De último colocado da Série A em 2020, voltou à elite com méritos. Ouvi muitos comentários de que cairia para a terceira divisão ou que não subiria, tipo o Cruzeiro, que não consegue voltar há três anos. Mas as pessoas que estavam lá dentro fizeram um bom trabalho, apesar do início complicado, e isso engrandece ainda mais o resultado final, já que foi preciso frieza e perseverança para acreditar naquilo que foi planejado lá atrás, no começo de 2021. Com os ajustes necessários que foram precisos ser feitos ao longo do processo, a coisa aconteceu e o Botafogo floresceu. Foi uma campanha excelente, conseguindo não somente o acesso como o título.”

JOGADA 10: Quando você se transferiu para o Botafogo, em junho de 1988, o bicheiro Emil Pinheiro injetava dinheiro do próprio bolso no clube, montando um forte elenco e criando um mínimo de estrutura. Como você encara a chegada do empresário John Textor ao Glorioso?

RICARDO CRUZ: “Essa parceria, essas negociações em andamento que já estão avançadas, entendo como algo bastante positivo. Não somente para o Botafogo, mas para outros clubes, espero que seja uma chave, a chance de uma virada total para entrar em uma fase nova. Não é fácil conseguir investimentos desse porte e tudo tende agora a melhorar. Fazendo um paralelo com a minha época, não fosse o investimento pessoal do Emil, o Botafogo permaneceria mais tempo ainda no sufoco. E não era nem investimento, era paixão pessoal do Emil, paixão de torcedor. Não sei que benefícios o Botafogo, como clube, teve, mas o futebol obteve êxitos. Era uma coisa amadora, mas sem aquele dinheiro do Emil tudo seria ainda mais difícil, porque a estrutura em Marechal Hermes era realmente precária.”

O bicheiro Emil Pinheiro – Reprodução

JOGADA 10: Agora, porém, diferentemente daquele tempo, a gestão tende a ser ultraprofissional…

RICARDO CRUZ: “O Textor é um investidor. Não tem paixão pelo Botafogo e deve ter menos ainda pelo Cristal Palace, da Inglaterra, onde também injeta dinheiro. Essa grana vai ajudar bastante o Botafogo. No futebol, sem dinheiro as coisas não acontecem. Há agora uma expectativa de se ver uma sequência de trabalho, trilhar um caminho com visão empresarial, aproveitando pessoas preparadas profissionalmente para tocar a administração tendo como objetivo prioritário fazer o clube lucrar. Se o Textor fez um investimento alto no Cristal Palace e obteve retorno, isso transmite otimismo. Para aportar tantos milhões em um clube como o Botafogo, claro que ele visualiza lucro. E para se ter lucro, o clube precisa fazer sucesso nas competições.”

O CEO do Botafogo, Jorge Braga, e o investidor bilionário John Textor – Divulgação / Botafogo FR

JOGADA 10: Essa é a nova tendência para o futebol brasileiro atual: investir em clubes grandes, mesmo com dívidas astronômicas, como o Ronaldo fez ao comprar o Cruzeiro?

RICARDO CRUZ: “Essa situação de investidores encamparem times de torcidas gigantescas, como Botafogo e Cruzeiro, dois clubes em situações financeiras difíceis, não posso dizer que é uma tendência, mas pode vir a ser. Vendo de fora, parece que estão gastando muito, mas não. Se esses empresários pegassem, por exemplo, um Flamengo ou Atlético Mineiro hoje em dia, certamente precisariam investir muito mais, bilhões talvez. O dinheiro investido no Botafogo ou no Cruzeiro é bem menor, mas a médio e longo prazo, assim que os resultados aparecerem, tudo indica que os aportes aumentem consideravelmente.”

Ricardo Cruz chegou a trabalhar no America – Raffa Tamburini/America

JOGADA 10: Mas e se os resultados não chegarem? Dentro de campo, nem sempre o melhor vence, e você vivenciou isso em 1992, perdendo a final do Brasileiro para um Flamengo bem menos badalado. Lembro que a saída abrupta do Emil Pinheiro desmembrou o Botafogo da noite para o dia. Mas agora é o contrário: o clube chega vitorioso de uma Série B, mas na elite enfrentará potências sul-americanas. Será preciso mudar muito o elenco ou o Alvinegro tem atletas tarimbados para fazer bonito também na Série A?

RICARDO CRUZ: “Soube da renovação do Gatito Fernández até o fim de 2022 e que o clube ainda procura outro goleiro para compor o elenco. Mas creio que o atual titular, Diego Loureiro, seja mantido no grupo. Com certeza, alguns atletas permanecerão, mas como está chegando uma gestão profissional, alguns terão de sair. Faz parte, mudanças têm que ser feitas. Novos jogadores vão chegar, pois não adianta entrar com um time de série B na disputa de competições cujo nível é bem mais alto. É preciso reforçar mesmo, e penso que as pessoas que estarão lá terão essa competência. No próprio Cruzeiro, assim que o Ronaldo chegou o Luxemburgo saiu, assim como o próprio goleiro Fábio, que é um ídolo. Quem está gerindo sabe fazer o trabalho de forma planejada. Não vejo constrangimento algum em trocar parte do elenco, até porque muitos contratos podem ter sido assinados apenas até o fim da Série B. Vai ter gente sendo reaproveitada, mas novos jogadores precisam chegar para que a coisa efetivamente aconteça.”

JOGADA 10: 2022 pode vir, então, a ser o ano do Botafogo, com uma possível conquista do Carioca e, quem sabe, classificação para a Libertadores?

RICARDO CRUZ: “Tudo isso tem que ser visualizado se olhando para frente, com os pés no chão, passo a passo. O Estadual será um parâmetro e nele tudo vai ser analisado com calma. O único que tem direito a não ter calma é o torcedor, que é apaixonado e quer resultados de imediato. Mas quem está dentro do processo precisa estar seguro do que está fazendo, porque em um primeiro momento o clube pode não obter êxitos com rapidez, nem mesmo contratar certos jogadores que estão sendo aventados. A coisa pode, de repente, nem acontecer no Carioca e não será fácil suportar a pressão. Conheço muitos dirigentes que não aguentam e demitem treinadores, mas vejo 2022 como uma possibilidade forte de o Botafogo começar a mudar a sua história dos últimos anos, cujas participações na Série A não foram boas, mas tudo dentro de um planejamento, em uma crescente.”

Time de 1989, em uma linda bandeira. Ricardo Cruz está na eternidade – Léo Pereira/Jogada10

JOGADA 10: O que o clube tem que priorizar, então?

RICARDO CRUZ: “Na minha opinião, as competições continentais, lembrando que o clube só tem um título internacional: a Conmebol de 1993. É isso que lhe dará projeção, visibilidade internacional e retorno financeiro. A Libertadores é o caminho para se chegar ao Mundial de Clubes, portanto é o foco a médio prazo, o principal objetivo. Mas tem que caminhar de degrau em degrau, mesmo que seja preciso alguns anos para se chegar a essa conquista.”

JOGADA 10: E o que você vem fazendo hoje, Ricardo?

RICARDO CRUZ: “Em 2017, fiz na CBF o curso de treinador exigido para poder trabalhar nas Séries A e B. Fui treinador de goleiros do América e assumi o comando técnico quando o Arthurzinho foi demitido. Acabamos ganhando a Série B do Carioca em 2015 e há cinco anos sou auxiliar-técnico do Edson Souza, meu ex-companheiro de Fluminense. Tenho algumas sondagens e sigo aguardando propostas para começar um novo trabalho em 2022.”

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Leo Pereira

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