De pupilo de Ronaldinho Gaúcho a mero coadjuvante de um time modesto da sétima divisão do Campeonato Inglês. Isso em apenas um pouco mais de dez anos. A carreira do ganês Edmund Hottor é uma descida de montanha-russa que parece não ter fim. Não fosse pelo fato de ter divido o campo de treino com um elenco estelar, poderia ser apenas a história de muitos jogadores. Mas não é.
Com apenas 16 anos, ele foi descoberto pela Triestina, da Série B italiana e logo em sua primeira temporada no Calcio foi contratado pelo Milan, que fez um investimento ousado de 800 mil euros.
“Até consegui jogar no San Siro quando a equipe sub-23 do Milan chegou à final da Copa Itália e foi uma ótima experiência. Apesar de jogar apenas no sub-23, tive a chance de treinar algum tempo com grandes astros, como Ronaldinho, Beckham, Ibrahimovic, Robinho e Gattuso. Aprendi muito com eles”, afirmou Hottor à rede de TV britânica BBC.
Mas o sonho de se tornar um astro durou pouquíssimo tempo. Teve poucas chances e sua forma física era sempre questionada. O investimento parecia então não ter sido correto. A solução? Emprestá-lo para que adquirisse experiência. Uma cobrança acima do tom, já que Hottor tinha apenas 20 anos quando foi dispensado pelo Milan, em 2013.
Foi então que começou sua andança mundo afora. Passou por Lanciano, Nocerina, Venezia (todos de divisões menores da Itália). Ainda teve uma segunda chance no rival do Milan, a Internazionale. Mas ele foi apenas um ‘investimento’. Contratado e repassado constantemente. Atlético Clube, Fafe (ambos de Portugal) e Sliema Wanderers, de Malta, uma ilha paradisíaca no Mediterrâneo.
E foi lá que ele conheceu alguns colegas de time ingleses. Estava feita a ponte rumo à terra onde nasceu o futebol. Mas esqueça o glamour da Premier League. Nada de estádios grandiosos, contratos polpudos ou exibição na TV. Hottor abria as portas do futebol amador.
Desembarcou no Kettering Town, onde só fez um jogo em seis meses. Logo foi emprestado ao Banbury United, onde chamou a atenção de Ricky Marheineke, gerente geral do St. Ives Town, que disputa a Southern League Premier Division Central, uma das ligas que compõem a sétima divisão do complexo sistema de divisões amadoras da Inglaterra. Para entender, clique aqui.
“Foi difícil quando ele chegou ao time. Ele só falava sobre seu passado quando questionado, e os meninos perguntam de vez em quando sobre a sua carreira. Mas ele é um bom jogador. Isso que nos importa”, afirma Marheineke.
Hottor sabe que seus dias de glória estão distantes, mas agora ele alimenta o sonho de alcançar as divisões profissionais na Inglaterra.
“Sim, é muito diferente aqui, mas estou gostando. Espero talvez ser um profissional aqui, mas não tinha um agente quando vim, por isso tem sido difícil”, explica Hottor, hoje com 27 anos.
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