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Charles de Gaulle era capitão do exército francês na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Foi feito prisioneiro na épica Batalha de Verdun. Sobreviveu. Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) era brigadeiro e teve de se exilar na Inglaterra após a invasão nazista. De lá, exortava seu povo a resistir apesar de todas as condições desfavoráveis. Passados os anos belicosos, fundou a Quinta República Francesa para se tornar o 18º presidente da história de seu país. Ficou conhecido pelo epíteto de O Homem que Disse Não, pelo fato de jamais esmorecer.

Os tempos são outros, as armas de hoje não cheiram a pólvora. Cheiram a ódio. E do campo de batalha do Parque dos Príncipes surgiu um histórico personagem que também merece ser chamado de agora em diante pelo mesmo epíteto de De Gaulle. Demba Ba não deixou passar batida a ofensa do árbitro romeno ao camaronês Pierre Webo. Ba foi a centelha de que o futebol precisava pra explodir na luta antirracista. Ele foi o Homem Que Disse Não à estupidez, à ignorância, ao racismo enraizado, à boçalidade que sempre habita as vísceras de um imbecil, desses que até enchem a boca para dizer que não há racismo.

Ba, que nem chuteiras calçava. Estava com ela às mãos, no banco de reservas do Basaksehir. Partiu para cima do quarto árbitro com a convicção de ter farejado mais um protofascista. Foi imperdoável. Sem dizer um único palavrão ou sequer mesmo fazer um gesto associado a qualquer movimento agressivo, transformou o algoz em um homúnculo, desprezível. Foi um levante inédito no combate ao racismo. A noite da terça-feira, 8 de dezembro de 2020, pode ser considerada a Tomada da Bastilha futebolística, comandada por um francês negro, que defende a camisa do Senegal.

Ba, simplesmente, disse não.

Como De Gaulle.

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