O Flamengo não teve problema para vencer o Athletico-PR por 3 a 0 no amistoso de hoje no Maracanã. Com o time titular completo, afiado e disposto a arrasar, até com Renato Gaúcho é possível ganhar.
O técnico talvez não saiba. Mas o profissionalismo de hoje exige prestação contínua de contas aos patrocinadores, aos fabricantes de material esportivo, às redes de TV que exibem os espetáculos e até aos interesses políticos que giram em torno de um gigante como o Flamengo. E é claro, aos torcedores, aqui também chamados de consumidores, que sustentam efetivamente todo esse circo. Já se foi o tempo em que um treinador e seus auxiliares diretos decidiam, em convescote, o procedimento a ser adotado. O orçamento de hoje é estratosférico, e os artistas fazem parte disso, ou seja, têm toda uma invejável estrutura, que também abriga salários e prêmios milionários, porque integram esse complexo formidável.
Renato Gaúcho hoje mostrou o comportamento comum do brasileiro: colocar o cadeado depois que a porta foi arrombada e que o ladrão já fez o roubo. Lançou o time titular quando o Flamengo está a 11 pontos do Atlético-MG, e sem quatro jogadores nas próximas rodadas, cedidos para a maldição das Eliminatórias. E mesmo que vença os três jogos adiados, e até a partida de quarta, contra o Bragantino, fora de casa, continuará a dois, pois o Alvinegro não terá dificuldade para ganhar da Chapecoense no mesmo dia.
Renato Gaúcho é um gênio. Conseguiu jogar no lixo a chance de conquistar um terceiro Brasileiro consecutivo, façanha só alcançada pelo São Paulo em 2008, e possibilidade que dificilmente surgirá novamente. E só colocou os titulares no amistoso de hoje porque alguém deve ter lhe dirigido a pergunta do milhão: vai poupar até a véspera da decisão da Libertadores? E, na sequência, lembrou ao animador de auditório que a primeira partida das semifinais da Copa do Brasil é no dia 20. Sem solução, o técnico desistiu. Mas como há muitos jogos até o duelo final com o Palmeiras, é possível que alguém perceba a sua inutilidade e o demita. A esperança é sempre a última que morre.
Flamengo e Palmeiras têm na teoria 50% de chances cada um. Dois gigantes, em campo neutro, com elencos experientes e milionários. Mas um, por ora, terá técnico no banco, e o outro não, o que empurra o favoritismo para os paulistas.
Ficando só no jogo de hoje, Flamengo e Atlhetico-PR fizeram uma partida atípica. De um lado, Andreas Pereira chutando uma bola na trave, origem do 1 a 0, e marcando gol. Todas as vezes que ganha um presente luxuoso de Arrascaeta, o sujeito, não importa a religião, deve agradecer ao santo em que acredita. Se for ateu, agradeça pela própria existência. Do outro, o time do Paraná imitando Renato Gaúcho, poupando titulares, deixando no Flamengo a ilusão de que essa equipe nauseabunda será o adversário das semifinais da Copa do Brasil. O Maracanã não é Dallas, mas também tivemos Kenedy, e a sempre curiosa interferência do VAR, uma espécie de jogo paralelo, que não é exatamente futebol.
A propósito, vamos mandar uma sugestão para a CBF: se os seus dirigentes não sabem, faz mais de 40 anos que se admite a possibilidade de uma seleção permanente. Pois chegou a hora. A entidade deve contratar um grupo de 23 jogadores, assumir o pagamento de seus salários milionários, e assim não terá mais preocupações com as convocações e esses jogos desinteressantes que faz ao longo dos anos, não só desfalcando os clubes, mas atrapalhando as suas próprias competições.
Voltando ao Maracanã, quando Andreas Pereira é eleito o melhor em campo é possível ter a ideia do que aconteceu. Agora, vamos ao Hulk. Fará ele, hoje, também, a pergunta do milhão?
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