Roberto Assaf

Deus Salve o Rei, Bobby Charlton

Talvez você não saiba, ou nem sequer tenha ouvido falar, mas Bobby Charlton está na galeria dos maiores craques de todos os tempos. Símbolo do Manchester United, o clube mais importante da Inglaterra, que defendeu por quase 20 anos, ele foi o principal jogador na conquista do título mundial pela seleção de seu país, em 1966. Além disso, colaborou para que milhões em todo o mundo, incluindo o que vos escreve, desenvolvesse paixão pelo esporte.

Desnecessário descrever a carreira completa e os números do jogador. Afinal, essa tarefa já está reservada a noticiários de todo o planeta. Mas é fundamental ressaltar que Charlton é de um tempo em que o futebol praticamente não tinha imagens em movimento exibidas na TV, notadamente em nações pobres, como o Brasil. E que só os mais fanáticos buscavam informações mais detalhadas sobre o que ocorria à distância, por meio dos poucos – às vezes raros – impressos que chegavam ao Rio de Janeiro. Como a World Soccer, cujo exemplar valia ouro, e o Daily Mirror, que meu pai levava eventualmente para casa, deixando minhas emoções à flor da pele.

Logo, impressionavam sobretudo os resultados e comentários sobre os jogos, e em especial as fotos, que eram apreciadas como obras de Monet e Rembrandt. Assim, elas tinham, quase sempre, a função de dar asas à imaginação de quem não podia acompanhar os ídolos nos estádios.

Bobby Charlton foi um dos maiores jogadores da história, numa era de ouro do futebol – Reprodução/ Divulgação/Manchester United

Bobby Charlton numa geração de ouro

Este que vos fala é de uma geração privilegiada, que teve a benção de ver, ao vivo, alguns dos gênios do futebol da época. Assim, estavam em campo Garrincha, Didi, Gérson, Tostão e Pelé. Além de Beckenbauer, Rivera e Eusébio, entre outros, quando eles apareciam por aqui. É de lembrança absolutamente inesquecível a exibição do English Team no Maracanã, em 1969, com vários campeões mundiais de 1966, entre eles Charlton, em confronto com Pelé.

Vocês, que nasceram anteontem, com sorte de ver os campeonatos, diariamente, por TV ou internet, jamais terão a idéia do que representou um encontro de gigantes como esses, na sua frente, quase de graça. Era o suficiente para convencer que sim, ambos eram de verdade, e não meras ilustrações, eventualmente em preto e branco. Curiosamente, no ano seguinte os dois monstros travariam novo duelo, na TV, durante o Mundial no México, na primeira transmissão do evento para o Brasil.

Charlton não foi efetivamente um artilheiro, mas a notória referência dos times que defendeu. Era capaz de transformar em ídolos imortais, tal a sua habilidade e liderança, jogadores que estavam em nível abaixo ao seu, como Nobby Stiles, Denis Law e o irrequieto George Best. Inclusive, até candidatos a treinadores de ponta homens como Matt Busby, hoje reconhecido estrategista, qualidade que ostenta, em grande parte, por contato com o gênio da meia-cancha ao seu lado.

O futebol está de luto

Noticiários de todo o planeta também citarão, é claro, o fato de Bobby Charlton ter sobrevivido ao terrível desastre de avião sofrido pela delegação do Manchester United em 1958. É bastante provável que o deus de plantão tenha evitado o desaparecimento de um craque de sua qualidade naquele momento. Na prática, não teve coragem para fazê-lo. Mas é bem possível que agora, após o seu falecimento, décadas depois, receba o gênio em tom de cobrança. “Eu te dei 65 anos de prorrogação. Pois agora pague a dívida. E faça uma exibição só para mim”

O futebol está de luto. Não acontecerá nada de mais importante no esporte por algum tempo. A Inglaterra deve construir uma estátua em Oxford Street, no centro da capital. Da mesma forma, o prefeito de Manchester deve erguer outra, ao lado da veneranda Vitória, e que tenha o triplo do tamanho da Rainha, o suficiente para lembrar para sempre à velha monarca quem manda de fato no pedaço.

Siga o Jogada10 nas redes sociais: TwitterInstagram e Facebook.

Carlos Alberto

Repórter, setorista da Seleção Brasileira, colunista e editor do Jornal dos Sports entre 1998 e 2000. Editor, colunista e editor executivo do LANCE! de 2000 a 2020, Editor-chefe do Jogada 10 desde 2020. É formado pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha-RJ) e participou de coberturas de 6 Copas do Mundo (4 como enviado, 1 como chefe de reportagem 1 como editor-chefe), 2 Copas Américas, 1 Eurocopa, 2 Mundias de Clubes, 1 Olimpíada e 6 Champions League.

Posts Recentes

Torcedores do Botafogo invadem redes sociais de namorada de Almada

Bem recebida! Antonella D'Alotta, namorada de Thiago Almada, novo reforço do Botafogo, já pôde sentir…

5 de julho de 2024

Com dois gols e sequência invicta, Fellipe Resende se destaca pelo Maricá

O Maricá venceu o Araruama por 1 a 0,  no último sábado (29), pela 7ª…

5 de julho de 2024

‘Não dá pra falar que estou feliz’, desabafa Cristiane

Fora da lista do técnico Arthur Elias para as Olimpíadas, Cristiane, atacante do Flamengo, desabafou…

5 de julho de 2024

Estádio que se sediou jogos da Eurocopa surge destruído

A guerra entre Ucrânia e Rússia também afeta o esporte. Estádio do Shakhtar Donetsk, clube…

5 de julho de 2024

Gómez se reapresenta, e Veiga fala de marca histórica no Palmeiras

O Palmeiras se reapresentou na manhã desta sexta-feira (05), na Academia de Futebol, após o…

5 de julho de 2024

Confira mais pontos da coletiva do novo executivo do Vasco

Apresentado nesta sexta-feira (5) pelo Vasco, o executivo de futebol, Marcelo Sant'Ana, abordou diversos assuntos…

5 de julho de 2024

Este site usa Cookies para melhorar a experiência do Usuário!