Roberto Assaf

Diniz entre o problema e a solução

A chegada de Fernando Diniz à Seleção Brasileira lembra a passagem de Eduzinho, o irmão de Zico, há 40 anos, em 1984. Um quebra-galho. Ambos apresentaram rendimento satisfatório com modelo de jogo – no conhecimento quase geral – que aplicaram em clubes. E mereceram a chance.

Mas vamos a um longo parêntese. Quando se fala em “quase conhecimento geral” é uma tentativa de explicar que são poucos os analistas que conhecem efetivamente futebol nos dias de hoje. Perguntem aos que vivem atualmente como comentaristas quem foi Helenio Herrera. Mas não deixem que consultem a internet, pois não terão resposta sem fazê-lo, e pior, mesmo assim encontrarão dificuldade para expor opinião.

Para resumir, basta citar um único episódio da carreira do treinador globe-trotter argentino. Na Copa de 1962, no Chile, o cidadão em questão, dirigindo a Espanha, pôs em prática o esquema de marcação individual que visava anular a fantástica habilidade do jogador brasileiro, ao longo da terceira partida da primeira fase. Na visão de Herrera – duas vezes campeão mundial pela Inter de Milão – se você marca o craque em cima, sem deixá-lo manobrar à vontade, encurtando seu tempo e de espaço com a bola, pode até anulá-lo.

Fernando Diniz posa ao lado do presidente da CBF Edinaldo Rodrigues – Foto: Reprodução/CBFTV

Dependendo da combinação de resultados, a seleção verde e amarela estaria eliminada caso perdesse da Espanha, e a equipe comandada por Aymoré Moreira, mesmo com o gênio Didi em campo, tomou um susto tremendo e enfrentou terríveis problemas para driblar a armadilha. A Espanha ganhou até os 27 do segundo tempo, quando Garrincha – que derrubava todas elas – fez duas jogadas pela direita que aniquilaram o arcabouço do estrategista argentino. O Brasil venceu por 2 a 1 e o resto da história todo mundo sabe.

Na realidade, o modelo já era utilizado na Europa, notadamente na Itália, na década de 1930, mas eram raríssimos os técnicos que tinham coragem – sim, essa é a palavra, coragem – para colocá-lo em prática, pois tinham receio que o futebol, que era essencialmente arte e espetáculo – jogue e deixe jogar – fosse agredido.

Diniz e suas variações

Voltemos ao mundo atual. O que Diniz faz no Fluminense – e desde que começou a se impor como técnico – já era usual quando os ingleses o inventaram, no Século 19, e o que ele fez – e faz – é criar variações, às vezes com criatividade, e foi essa prática que levou os cartolas da CBF, que têm conhecimento bastante limitado de futebol a levá-lo para a Seleção.

Sua presença dirigindo a Seleção pode ter utilidade para o momento, que parece caótico, notadamente dentro do campo. Mas não é necessariamente uma novidade, como muitos acreditam. O que se quer dizer é que seu trabalho é quase como remédio, pois tem data de validade, e não há treinador de bom nível, aqui ou lá fora, que não conheça o modelo, e que não tenha capacidade para anulá-lo. Como já vem ocorrendo. Mas vamos concordar que é mais negócio ter alguém na Seleção que faz um time jogar futebol, para encerrar – ufa! – o que sim, pode ser positivo.

Quanto aos problemas que Diniz poderá ter – vida de quebra-galho e conflito de interesses, por exemplo – valem outras discussões. E essas os analistas que não conhecem Helenio Herrera – e que já estão consultando o Google – já colocaram em prática.

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Carlos Alberto

Repórter, setorista da Seleção Brasileira, colunista e editor do Jornal dos Sports entre 1998 e 2000. Editor, colunista e editor executivo do LANCE! de 2000 a 2020, Editor-chefe do Jogada 10 desde 2020. É formado pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha-RJ) e participou de coberturas de 6 Copas do Mundo (4 como enviado, 1 como chefe de reportagem 1 como editor-chefe), 2 Copas Américas, 1 Eurocopa, 2 Mundias de Clubes, 1 Olimpíada e 6 Champions League.

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