Roberto Assaf

Divertir e nos divertir

A partida que abriu definitivamente os olhos dos brasileiros para Freddy Rincón não foi aquela das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, quando a Colômbia goleou a Argentina por 5 a 0, em Buenos Aires. Ocorreu quase seis meses antes, pela Libertadores de 1993, na vitória de 3 a 1 do América sobre o Flamengo, no Maracanã. Ele comeu a bola. E convenceu a todos que a sua seleção poderia estar entre as favoritas nos Estados Unidos.

Rincón foi, inquestionavelmente, um craque –  Vanderlei Almeida/ AFP via Getty Images

Não é necessário recorrer aos registros da internet. Eu estava no Jornal do Brasil, no qual trabalhei por 15 anos, e lidava dia e noite com o futebol. O time da Colômbia que disputou o Mundial de 1994 era espetacular. Muitos estavam em Cali. Outros em Medellín. René Higuita, Wilmar Cabrera, Carlos Estrada e Bernardo Redín jogaram na Itália, em 1990, e não foram aos Estados Unidos. Mas Oscar Cordoba, Wilson Perez, Andrés Escobar, Hernan Gaviria, Leonel Alvarez, John Lozano, Antony de Ávila, além de Alexis Mendoza e Carlos Valderrama, que eram do Júnior Barranquilla, estavam lá. Havia ainda três estrangeiros, Faustino Asprilla, do Parma, Adolfo Valencia, que acabara de assinar com o Bayern, ele, Rincón, do Palmeiras.

O grande problema deles, e que os levaram aos tropeços, era a tremenda arrogância. A idéia de que jogavam sozinhos, sem adversários, a noção de que poderiam ganhar quando quisessem. Antes da Copa de 1994 fiz entrevistas com pelo menos um craque ou treinador de cada seleção classificada. Quase meia hora com Francisco Maturana, que se não me engano falava do Hotel Pequenama, onde costumava ficar quando chegava a Bogotá, e ele disse a frase lapidar, que resume tudo. “Vamos ao Mundial para divertir e principalmente para nos divertir”.

Sim, como em uma pelada, o interessante era ver a bola rolar, muitos dribles, trocas de passes, lances de efeito. Até gols eles faziam. A Argentina que o diga, cara no chão em pleno River Plate. Esses caras jogavam muito. Mas responsabilidade com posicionamento, esquemas, resultados, nada disso tinha grande importância. O America foi eliminado nas semifinais da Libertadores de 1993 por um adversário sem muita qualidade, o Universidad Catolica, do Chile, que tomou de cinco do São Paulo, na decisão. E a Colômbia apanhou de 3 a 1 da Romênia, na estréia da Copa, após 20 minutos em que mostraram um futebol de sonho. Ficou nisso.

Aliás, a irresponsabilidade já havia exibido a sua face mais evidente quando René Higuita quis driblar Roger Milla em 1990. O que veio depois foi o óbvio. A seleção da Colômbia despertou grande discussão no JB. Que ajudou a ampliar as críticas ao Brasil de Carlos Alberto Parreira, que tinha toda uma estratégia calculada, e foi campeão, e a equipe de Rincón, que caiu na primeira fase, para espanto de muitos e a compreensão de poucos, entre eles esse que vos escreve. Pois já notara o que poderia ocorrer de pior após meia hora de papo com Maturana.

No Brasil, também em grandes times, mas em outro cenário, Rincón confirmou o que fizera contra o Flamengo, em 1993, no Maracanã, e ganhou o respeito de todos. Que ele era craque, como outros compatriotas, não há dúvida. Pena que uma fatalidade tenha abreviado a sua vida.

Sem desculpas – Andreas Pereira será sem dúvida o camisa 10, se formarmos o pior time de todos os tempos da história do Flamengo, que terá Renato Gaúcho como treinador.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10.

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Carlos Alberto

Repórter, setorista da Seleção Brasileira, colunista e editor do Jornal dos Sports entre 1998 e 2000. Editor, colunista e editor executivo do LANCE! de 2000 a 2020, Editor-chefe do Jogada 10 desde 2020. É formado pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha-RJ) e participou de coberturas de 6 Copas do Mundo (4 como enviado, 1 como chefe de reportagem 1 como editor-chefe), 2 Copas Américas, 1 Eurocopa, 2 Mundias de Clubes, 1 Olimpíada e 6 Champions League.

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