E não é que o Flamengo venceu?

O Flamengo venceu o Cuiabá por 2 a 0. Mas, francamente, não é possível, apesar dos desfalques proporcionados pela Copa América, que é um rosário sem fim de inolvidáveis emoções, que não haja um treinador que possa fazer o elenco do Flamengo mostrar um futebol que garanta um mínimo de tranquilidade, essencialmente contra adversários de nível inferior. Não há, aqui, o propósito de levantar suspeitas sobre a relação de Rogério Ceni com os seus comandados, mas parece que há na Gávea algo além dos aviões de carreira, como dizia o Barão de Itararé. Afinal, o time bicampeão se arrasta no Brasileiro.

A derrota quase lógica de domingo, dadas as ausências dos craques e o charco de Caxias do Sul, levaram o Flamengo a enfrentar o Cuiabá com o desejo indisfarçável de ser feliz. Logo, ficou evidente que a possibilidade de superar o adversário estava aberta, daí o primeiro gol, aos nove minutos, de Pedro, após passe de Gomes. Seria necessário, no entanto, que o ritmo fosse mantido, ou seja, que o time continuasse a procurar, sem trégua, a meta de Walter. Mas a ilusão de rever aquele jogo mágico de 2019, que liquidava os rivais em meia hora, foi caindo por terra, e o fim do primeiro tempo só não foi de profunda lamentação pela vantagem, mesmo mínima. Na prática, isso só ocorreu porque o Cuiabá, a exemplo de muitos adversários, notadamente os de menor poderio técnico, teve receio de sair em busca do empate.

Pois o time de Mato Grosso mexeu, no intervalo, e ganhou coragem suficiente para atacar, forçando as falhas habituais da defesa carioca, em especial aquele espaço que William Arão oferece, perdido entre a obrigação de ser zagueiro e a vontade de ser apoiador. Danilo Gomes, cara nova, desperdiçou chance dourada, mal a bola rolou, tocando fora, na saída do goleiro. E logo vem aquele festival de sustos, lá e cá, quem vai marcar primeiro, ou seja, as costumeiras emoções que as partidas do Flamengo oferecem. Aos 11, entraram Hugo Moura e Thiago Maia, prováveis reforços para o meio, que está devagar. Aos 19, o Cuiabá marcou, mas o impedimento era óbvio. E o mistério prosseguiu. Virá o gol que garantirá três pontos ao time carioca, ou o que significará mais um fracasso, levando-se em conta todas as diferenças que separam o Flamengo de adversários mais recentes?

Sim, pois após as trocas, que em tese eram necessárias, o meio ficou definitivamente largado às traças. E a coisa ficou ao acaso, na realidade para os dois lados, pois se a equipe do Rio não vê a cor da bola, o local também não é de assustar. Em 2020, creiam, perdeu o Estadual para o Nova Mutum. Você, que é jovem, não sabe, mas é assustador quando entra um jogador de nome Papagaio, que faz lembrar Goiatuba, Anapolina, Patrulheiro, Balão, enfim… Assim, lá vai o torcedor do Flamengo terminar mais uma partida orando para os deuses, inclusive os do futebol, que têm humor imprevisível. Pois é. Aos 44, o árbitro avisa que o duelo vai até 51.

Aos 46, Rodrigo Muniz avança livre e toca para Thiago Maia: 2 a 0. Rodrigo Muniz é um desses fenômenos que só o futebol fabrica. Não joga nada. Vez por outra, no entanto, transforma a sua presença em gol. É capaz de despertar o interesse do Atlético Madrid. E até de proporcionar uma fortuna para os cofres da Gávea, caso seja negociado. A propósito, vale dizer que o Flamengo ganhou. Mas com esse joguinho…