E o Flamengo saiu sem perder!

A estreia de Renato Gaúcho só não foi trágica porque o Flamengo conseguiu deixar Florencio Varela sem derrota. Pior: ganhou. De 1 a 0. Como? Coisas desse esporte fantástico que é o futebol. O Rubro-Negro defendeu mal, deixando espaços, errando as tentativas de sair jogando, e o chamado jogo aéreo, os apoiadores não marcaram, e não também construíram, e os homens de frente não poderiam ir além, se os demais setores não mal chegavam à intermediária. Imagine você jogar de atacante em time no qual Gomes é meio. É de arrancar os cabelos. Agora o técnico vai lançar equipe mista no Brasileiro, para “preservar” os titulares, e o Flamengo começará a perder pontos irrecuperáveis, até ser eliminado na Libertadores, e dar adeus aos dois campeonatos. Sim, praticando futebol como esse, sem força, sem talento, sem nada de útil, não vai a lugar algum.

O Defensa y Justicia, e lá vamos nós com a comparação, é uma espécie de Bragantino da Argentina – uma equipe bem armada, que aproveita razoavelmente o que tem de melhor, e que joga sem cobrança de time grande, sem a obrigação de obter resultados e títulos, embora tenha até a possibilidade de obtê-los, dependendo do desempenho dos adversários. Mas hoje nem disso foi capaz.

Brasileiros e argentinos fizeram, no primeiro tempo, um dos piores jogos dos últimos tempos, com um punhado de equívocos, de posicionamento, de passes, de estratégia. É impossível afirmar que os times colocaram em prática algo que os treinadores solicitaram, se isso ocorreu, é claro, antes da partida. A bola, ali, não tinha a menor importância. Você vai fazer uma prova de geografia. Há um mapa mudo. O professor pede a localização dos estados. Você põe o Acre no espaço do Rio Grande do Sul, Minas Gerais no Pará, a Bahia em Rondônia, e por aí vai. O único gol, aos 20 minutos, por exemplo, saiu meio ao acaso. Michael, sem muita noção do que fazer, chutou de fora da área, houve desvio em Walter Bou, que é atacante, e Unsaín ficou sem ação: 1 a 0.

Parecia difícil que não ocorresse nada além na etapa final. Pois a coisa recomeçou. E com ela, a mediocridade. É interessante ver o esforço dos comentaristas tentando desencavar esquemas e variações. O Flamengo recuou, para apostar nos contra-ataques, e o Defensa y Justicia, em desvantagem, resolveu aproveitar o espaço. O time carioca não acerta nada. Os jogadores habilidosos estavam na deslumbrante Copa América, aquela competição que mutilou o Rubro-Negra, de graça.

E lá vem o bombardeio. Aos 15, Rotondi entrou livre e conseguiu desperdiçar, chutando fora do alvo. Aos 17, Frias cobrou falta à direita, um metro para fora. Aos 22, Hachen bateu e Diego Alves mandou para escanteio. Sabe quando você está dormindo diante da TV, na madrugada, e um susto qualquer te acorda. Pois é. Aos 23, Gabriel invadiu a área, o locutor gritou, mas o atacante chutou para intervenção de Unsaín. Aos 30, Escalante mandou pancada e o goleiro evitou o pior. E o time argentino providenciou várias mudanças. Aos 31, entrou Vitinho. Resta solicitar a proteção dos deuses do futebol, pois há muita água para passar sob a ponte. E como desgraça pouca é bobagem, surgiu, à beira do gramado, Bruno Viana. Se o Flamengo resistir, pelo menos um desses deuses é aquele que empurrou as duas bolas nas redes do River Plate, em Lima. Aos 44, Diego Alves, como Marcial em 1963, impediu Escurinho de cobri-lo, para sair como o melhor jogador em campo.

Aos 47, Piris da Motta – sim, ele está de volta – conseguiu fazer falta quase dentro da área. E Miguel Merentiel, que também é Angel, errou a cobrança. E o Flamengo não perdeu. E nem levou gol. Mas ficou no ar a pergunta que não quer calar: o que é Gomes?