O anúncio da Conmebol confirmando a Copa América no Brasil pegou muitos de surpresa. O fato de o país, que até o momento já registra mais de 460 mil mortes na pandemia – o segundo pior índice do mundo, atrás apenas de EUA -, receber a competição durante uma grave crise sanitária provocou uma enxurrada de críticas e preocupações.

Em entrevista ao Jogada10, Luciano Toledo, epidemiologista pesquisador aposentado pela Fiocruz e que atualmente exerce o cargo de Secretário Municipal de Saúde da cidade de Lima Duarte-MG, se mostrou amplamente contrário à realização da Copa América no Brasil e mostrou preocupação, já que que os números estão em níveis alarmantes e um evento desse porte poderia causar aglomerações, provocando uma piora acentuada no quadro da pandemia da Covid-19.

Copa América, que era para ser na Argentina e Colômbia, será no Brasil – Juan Barreto/ AFP

“Nós somos um país de dimensão continental. Temos o maior número de óbitos e casos em toda a América Latina. A situação da Argentina não é boa, mas a nossa situação é muito mais trágica. O percentual de população vacinada no país é muito pequena ainda, especialmente com as duas doses. Não chega a ser 12% da população. Nós somos o maior país em relação a população nas américas do Sul e Central. Acho extremamente temerária para nosso país a realização da Copa. Ele mobiliza, mesmo com o estádios fechados, milhões de torcedores, eventos em bares, restaurantes, festinhas com participações intrafamiliares, entre amigos. Isso tudo facilita enormemente a transição da Covid-19 e nós sabemos muito bem que essa doença vem sendo majoritariamente transmitida nos grandes centros, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife. Portanto, o risco é absolutamente concreto”, disse o médico.

Toledo anda adotou tom muito crítico ao presidente Jair Bolsonaro por aceitar em receber a competição sul-americana.

“Sinceramente, me preocupa muito a postura inconsequente do presidente da República de apoiar essa realização. Principalmente nesse momento, com milhões de pessoas infectadas, muitos municípios já tentando heroicamente reduzir os números e a presidência vem se contrapondo como grande negacionista. Nega vacina e ainda nega possibilidade de prevenção para estimular aglomerações? Para mim, está se facilitando essa transmissão. Está proporcionando o genocídio da população. Eu como epidemiologista, ex-pesquisador da Fiocruz, lhe dou minha avaliação. Para mim não há dúvida nenhuma: o que o presidente está proporcionando é como os romanos faziam. Distribuindo pão e circo ao povo. Ele tira todo o foco, que deveria ser a diminuição nos casos e estimula, de novo, as aglomerações. É impressionante”, diz, indignado, o pesquisador.

 

 

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