Ninguém escolhe ser Botafogo. A Estrela Solitária é quem conduz a enorme constelação de escolhidos. E não importam fronteiras ou limites geográficos. O Glorioso, independentemente de onde jogar, contará com representantes locais. Nesta quinta-feira (6), às 21h (horário de Brasília), contra o Magallanes, pela Copa Sul-Americana, não será diferente. Na tribuna visitante do El Teniente, em Rancagua (CHL), estará Jose Lizana, um chileno que ignorou o futebol daquele país para seguir o Mais Tradicional.

“O Botafogo, para mim, não é somente um time brasileiro. É patrimônio do futebol mundial. Por isso, devemos cuidá-lo. Sou admirador da história do clube e de seus heróis, como Garrincha, Nilton Santos, Quarentinha, Jairzinho e Heleno de Freitas. Uma história rica e com componentes que não aparecem na maioria dos clubes. Sou um escolhido. E tinha de ser assim mesmo. Me sinto orgulhoso”, iniciou o torcedor internacional do Botafogo, em entrevista exclusiva ao Jogada10.

ʽSER BOTAFOGO É COMPLEXOʼ

Antes de tudo, o J10 embarca em um túnel do tempo e conta as raízes do nosso personagem. Nos anos 60, Lizana ouviu, de seu pai, histórias sobre Garrincha e de como o Botafogo era uma das potências do futebol sul-americano. A curiosidade, então, só foi crescendo. Em 2005, teve a sorte de ver o Alvinegro de pertinho, nos amistosos contra Everton (Viña Del Mar) e Santiago Wanderers (Valparaíso). Anos depois, viajou ao Rio de Janeiro com o intuito de conhecer o Maracanã e o palacete colonial de General Severiano.

Olha o embaixador! Jose Lizana e sua filha, alvinegra desde o berço – Reprodução do Twitter

“Carioca dos Andes”, Lizana tornou-se sócio do clube, ganhou um assento personalizado no Estádio Nilton Santos e passou a torcer ao vivo, em partidas do Estadual, Sul-Americana e Brasileirão. É óbvio que não poderia regressar ao Chile de mãos vazias. Comprou camisas, livros, revistas, bandeiras, pôsteres… Hoje, envaidecido, não deixa o fogo da paixão se extinguir um só minuto.

“Os meus amigos torcem para o OʼHiggins, time da região, ou para o Colo-Colo, o clube mais popular. Torcer para um clube brasileiro já é diferente. No caso do Botafogo, mais estranho ainda. Ser Botafogo é complexo. Todos me olham diferente. É uma loucura para eles me ver celebrando os gols do meu time pelas rádios brasileiras que tenho no meu celular ou por alguma plataforma no laptop. Mas não tenho vergonha de andar por aí com as minhas camisas”, enfatizou.

DUPLA SATISFAÇÃO COM O BOTAFOGO

Professor universitário, Lizana, no entanto, não pisará em território desconhecido. Primeiro, claro, porque está prestes a acompanhará uma nova jornada do Botafogo no Chile. Aliás, algo que não é incomum na última década. Depois, aos 50 anos, terá o enorme prazer de ver o Glorioso em sua cidade. Tudo perfeito até aqui. Agora, só falta o Alvinegro fazer a sua parte e colocar os três pontos na bagagem. Alguma superstição em mente para tudo terminar bem?

No quadro negro, uma mensagem aos alunos – Reprodução do Twitter

“É só ir com a camisa certinha. A preto e branca, a melhor que representa o clube. Vou com a número 7 e o nome de Garrincha nas costas. Em 1962, o Mané fez maravilhas durante a Copa do Mundo do Chile e performou como o melhor jogador do mundo”, sublinhou.

RECORDAR É VIVER

Em 2014, Lizana viu o Botafogo empatar com a Unión Española por 1 a 1, na fatídica fase de grupos da Libertadores. Pela mesma competição, em 2017, vibrou quando o Glorioso arrancou um empate com o Colo-Colo pelo mesmo placar, derrubando o primeiro de uma série de campeões continentais. Em 2018, uma vitória: 2 a 1 sobre o Audax Italiano. Os três jogos em Santiago.

Lizana no estádio da Universidad Católica, acompanhando o Glorioso – Reprodução do Twitter

“Tínhamos um time maduro para chegar à final da Libertadores de 2017. Naquela partida, contra o Colo-Colo, o Botafogo mostrou poder de reação. Era uma equipe robusta e muito bem preparada. Em 2018, outra boa partida do Botafogo. Poderíamos ter ido mais longe naquela Sul-Americana também. Nas duas partidas, a torcida marcou presença e representou em o clube”, lembrou o primeiro sócio-torcedor do Botafogo chileno.

SAF DAQUI E SAF DALI…

Lizana chamou a atenção para algo interessante no duelo desta semana. Adversário do Botafogo, o Magallanes, assim como o Botafogo, também é uma Sociedade Anônima. No entanto, enquanto o Glorioso encerrou a associação somente no ano passado, os chilenos mantêm a separação do quadro social desde 2001.

“O Magallanes é muito tradicional e tricampeão nacional. Um time formador do futebol chileno, por isso, é conhecido como ‘La Academia’. As más decisões da Sociedade Anônima, porém, deixaram o clube na Terceira Divisão. Até que, com boa campanha e um time jovem, subiu no ano passado e venceu o Colo-Colo na decisão da Copa Chile. Um rival imprevisível”, descreveu.

Ensinando o que é ser Botafogo aos alunos. Muito importante, por sinal – Reprodução do Twitter

E o Botafogo?

“Ficamos na expectativa de grandes investimentos a curto prazo e tivemos a ilusão que seríamos um clube poderosíssimo. Mas não é bem assim. Continuamos com os mesmos problemas futebolísticos, sem botar medo nos rivais e, sobretudo, com dificuldades diante de times pequenos. John Textor (proprietário do Alvinegro) se afastou do clube. Isso não é bom. Estou muito preocupado. O Botafogo precisa de segurança para tornar-se, de fato, uma potência”, opinou.

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