A torcida do Cruzeiro não esquece Augusto Recife. Além de ter participado da mítica Tríplice Coroa, quando o clube conquistou o Estadual, a Copa do Brasil e o Brasileiro em 2003, o volante presenteou a nação celeste com outros títulos expressivos. Ainda em atividade, o jogador se reapresentou na última segunda-feira ao São Paulo Cristal, de Cruz do Espírito, na Paraíba, para as disputas do Estadual e da Série D do Brasileiro.

Recife ainda está em atividade no futebol. Em 2021, ele estava no Atlético-AM – Antônio Assis/Atlético Amazonense

Contudo, aos 38 anos de idade, em entrevista ao Jogada10, o jogador não escondeu sua tristeza em relação à situação atual do seu time do coração. Ele mantém a esperança de que dias melhores cheguem com Ronaldo Nazário, novo dono do clube, e só não aprova o abrupto descarte do ídolo Fábio:

“Ele merecia mais respeito, inclusive, uma despedida digna após completar mil jogos pela equipe.”

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JOGADA10: Como você encara esse momento do Cruzeiro, que vai para o terceiro ano seguido padecendo na Série B do Brasileiro?

AUGUSTO RECIFE: “Com muita tristeza. Praticamente nasci no Cruzeiro. Cheguei em 2000, aos 16 anos, e saí pela ultima vez do clube sete temporadas depois. Passei pelos juvenis, juniores, subi para o profissional, fiz mais de 200 jogos, ganhei sete títulos importantes e hoje, vendo o cenário atual, só posso lamentar. O Cruzeiro caiu em um momento muito difícil, financeiramente falando. Porque caiu sem dinheiro. Normalmente, os clubes grandes que desceram para a segunda divisão nos últimos anos caíram com dinheiro, devido a apostas erradas, equívocos na montagem do elenco. O Cruzeiro, no entanto, caiu quebrado. É difícil demais ver um clube com uma história linda no futebol mundial passar por uma situação tão delicada.”

JOGADA10: Quando você visitou o Cruzeiro pela última vez, visualizou algo que já indicasse esse momento turbulento?

AUGUSTO RECIFE: “Sim. Em dezembro de 2019, quando defendi o Vila Nova, fiz pré-temporada na Toca 1, a da base. Naquele ano o Cruzeiro cairia pela primeira vez. Enquanto treinávamos aconteceu uma situação muito triste, algo que eu nunca tinha vivido quando joguei lá. Os funcionários fizeram greve, não havia nenhuma pessoa por lá, o clube estava sem ninguém por conta de salários atrasados. Ver o clube assim, desértico, cortou o meu coração. Nunca pensei que chegaria a esse ponto. Sempre que defendi o Cruzeiro, o clube sempre cumpriu com os seus compromissos. Os pagamentos eram sempre em dia, nunca atrasou salário. Aliás, pelo contrário, pagavam até adiantado.”

JOGADA10: Para você, houve falta de responsabilidade das gestões anteriores?

AUGUSTO RECIFE: “Acredito que sim. Infelizmente, a bolha estourou. O que aconteceu de 2019 para cá vem de administrações anteriores. Eram coisas que já vinham acontecendo há tempos e culminou nisso. Chega uma hora em que a bomba estoura. Mas a gente fica na esperança de que o Cruzeiro possa se reerguer e colocar o trem no trilho novamente para voltar a fazer viagens melhores.”

JOGADA10: Ronaldo despontou no Cruzeiro, depois ganhou o mundo e nunca mais deu as caras no clube. Agora reaparece como dono. Qual a sua expectativa em relação ao seu retorno?

AUGUSTO RECIFE: “Para nós, cruzeirenses, a vinda do Ronaldo traz muita esperança. Ele tem facilidade para atrair patrocínios. Ficamos na torcida para que tudo possa mudar. A notícia foi excelente, porque o clube precisava de uma sacudida. E são coisas para ontem. O Cruzeiro precisa voltar, e retornar mais forte, para não cair. Tem que tornar a honrar seus compromissos, caso contrário volta e acaba caindo de novo. Não adianta retornar sem se organizar. É hora de os gestores colocarem os pés no chão, como parece que estão fazendo.”

JOGADA10: Isso inclui a saída do Fábio, goleiro com 17 anos de clube e que estava às vésperas de completar 1000 jogos pela equipe?

AUGUSTO RECIFE: “É a única coisa que me deixou triste nessa nova história, não ter renovado o contrato dele. O Fábio merecia mais respeito, por tudo que vivenciou no clube. É um dos maiores ídolos do Cruzeiro nos últimos tempos e, pelo que vi pela internet, até tentou se adequar ao novo modelo, aceitando redução salarial. Acredito que os novos gestores poderiam tê-lo deixado continuar esse ano, para que completasse mil jogos e, depois, fazer uma homenagem digna, uma despedida para ele, que merece. Mas, tirando isso, ficamos na torcida para que o Ronaldo dê um jeito e reorganize o clube.”

JOGADA10: Então, a seu ver, a vinda de Ronaldo soa como um oásis…

AUGUSTO RECIFE: “Realmente, só agora estamos vendo uma luz no fim do túnel. Temos que acreditar, ampliar a esperança. Nós, torcedores, temos que nos unir e dar apoio total ao clube nesse momento, tal como aconteceu na última rodada do Brasileiro do ano passado, quando lotamos o Mineirão dando provas da força da massa azul em um jogo que não valia absolutamente nada. Isso mostra que o torcedor está junto e quer ver o clube de novo na elite, conquistando o que merece. Afinal, o Cruzeiro é muito grande. Infelizmente, o momento atual não é bom, então é preciso humildade e boa gestão para na hora certa retornar, mas voltando com força.”

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