Exclusivo: O passaporte perdido de Gabigol que se transformou em solidariedade

O futebol é movido pela paixão da torcida. Muitas vezes é uma paixão hereditária. Já em outros casos, o jogador é uma peça fundamental para conquistar um novo aliado. Encontrar o seu ídolo, especialmente quando é do seu time do coração, é o ápice para qualquer torcedor. Essa foi quase a história de Luis Lisboa, 38 anos, fanático pelo Flamengo. Ele ficou cara a cara com Gabigol no avião, mas de uma forma inusitada – e que mesmo assim lhe rendeu uma história sensacional para contar pelo resto da sua vida. E com um desfecho espetacular.

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Luis curte viajar e sempre carrega uma camisa do Flamengo na mala. Recentemente, retornava de uma viagem que fez a Maceió, quando o destino o colocou no caminho de Gabigol. Por causa de um problema no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, o voo foi direcionado para Guarulhos, em São Paulo e, por isso, perdeu a conexão com Curitiba. Luis só retornou para a capital paranaense, onde mora desde 2004, na noite do dia seguinte, quando ficou “de frente” com o camisa 9 do Flamengo.

“Quando estava recolhendo minhas coisas, vi um caderninho na poltrona. Quando peguei, vi que parecia uma agenda com a logo da CBF. E quando li o nome Gabriel Barbosa, fiquei meio incrédulo. Abri a caderneta e era um passaporte. Estava a careta do homem que salvou a gente na final contra o River (Plate, em 2019, da Libertadores)”, revela Lisboa em entrevista exclusiva ao Jogada10.

“Aproveitei para gravar um vídeo para os meus amigos. Em 2018, perdi o meu passaporte em Nova Iorque e pegaram muito no meu pé. Falei que, além da habilidade, Gabigol e eu tínhamos outra coisa em comum”, brincou.

Natural do Rio de Janeiro, Luis Lisboa morou em Minas Gerais entre 1996 e 2004 antes de se mudar para Curitiba. Pai de Felipe, 21 anos, e Pedro, de 16, já rodou o mundo levando o Manto Sagrado para Europa, América do Sul, América do Norte e África. Em razão disso, possui um passaporte recheado de carimbos. Quando encontrou o passaporte de Gabigol, não perdeu a oportunidade de dar aquela espiadinha nos carimbos. E um país era bem especial.

“Como gosto muito de viajar, curto bastante ver os carimbos. Faço comparação entre os mais exóticos. Fui direto ver os carimbos e tentar encontrar o (carimbo) do Peru. Pensei até em devolver o passaporte sem essa parte (risos). Mas se ele quiser me dar, vai rolar uma moldura”, afirmou.

O carimbo do Peru trouxe lembranças especiais para Luis Lisboa. No dia 23 de novembro de 2019, o Flamengo venceu o River Plate, da Argentina, e conquistou a segunda Libertadores da sua história. Da aflição e a esperança quase perdida à explosão de sentimentos com os dois gols de Gabigol nos acréscimos, Luis relembrou sua comemoração.

“Foi uma tensão o jogo todo. O Flamengo não conseguia ser dominante como de costume, tomamos aquele gol azarado que passou entre (Willian) Arão e Gerson. No final do segundo tempo, com as esperanças de levar o jogo para a prorrogação acabando, só uma intervenção de São Judas Tadeu salvaria. E ela veio nos pés de Gabriel. Sempre ele”, relembrou.

“O primeiro gol foi uma explosão de alegria. E o segundo gol eu nem consigo descrever, pois ainda nem tinha me recuperado (da emoção) do primeiro. Não sabia se chorava, se ria… Foi, com certeza, o dia mais feliz como Rubro-Negro”, completou.

Recompensa que vale como um gol

Após encontrar o passaporte, o próximo passo era devolver ao dono. Luis entrou em contato com a assessoria do camisa 9, que prometeu reembolsá-lo com o valor da remessa do correio. Entretanto, em vez de receber o dinheiro, Luis pediu uma camisa autografada. Ele teria todo os motivos para ficar com a peça, mas teve uma outra ideia: realizar uma rifa para ajudar a Fundação Francisco Bertoncello, que atende crianças e adolescentes de até 18 anos na região metropolitana de Curitiba.

“Desde 2010, no primeiro sábado de agosto, eu convido meus amigos para comemorar meu aniversário nessa instituição. Faço uma lista de todas as crianças, com informação de nome, idade, número de roupa e calçado. E meus amigos adotam uma dessas crianças e compram presente. É como se o aniversário fosse dessa criança. Ele leva o presente e entrega pessoalmente a ela. Tem bolo, parabéns e muita alegria. Além disso, ainda ajudamos a juntar recursos para comprar mantimentos para o local”, explicou.

“Infelizmente, no ano passado foi diferente, devido a essa questão da pandemia. Não pudemos comparecer. Mas eu fiz uma solicitação aos meus amigos e conseguimos arrecadar mais de uma tonelada de produtos para doação. Pensei em realizar a mesma coisa esse ano, mas como ocorreu essa história da camisa, acho que poderei retribuir com a camisa do nosso maior ídolo da atualidade. O Gabigol recuperou o passaporte, algum amigo ganhará a camisa autografada e a instituição ficará com as ajudas que arrecadaremos. E eu ficarei com uma história bem divertida para contar”, completa.