O Fluminense em 1920 é uma das atrações da mostra de filmes “Rio Desaparecido”, que faz parte do  27º Congresso Mundial de Arquitetos, realizado no Rio. O evento, que vai até domingo (25), ocorre pela primeira vez no Brasil e discute ideias para a arquitetura e o urbanismo. Mas como planejar o futuro sem voltar os olhos para o passado? É aí que se destaca a exibição de filmes com imagens históricas. Entre eles,  ‘Nossos Soberanos no Brasil’, sobre a visita dos reis belgas à então capital federal. As imagens da década de 20 foram digitalizadas no mês passado pela Cinemateca do Museu de Arte Moderna, do Rio de Janeiro. E encantam pelo ineditismo no Brasil e pelo registro de uma era em que o futebol, com todo o seu romantismo, atraía um público ansioso por um esporte que se firmava no gosto popular.

Tomada aérea do campo do Fluminense em 1920 – Acervo Cinemateca do MAM

No filme, imagens aéreas (algo raro na época) mostram o campo do Fluminense em Laranjeiras, no mesmo local de hoje, mas sem a sombra do movimento atual. O Túnel Santa Bárbara ainda não havia sido inaugurado e Laranjeiras era um local isolado – não de passagem, como hoje. O Fluminense era um jovem de 18 anos (fundado em 21/07/1902), muito promissor e já laureado com um tricampeonato: a taça do Carioca em 1917, 1918 e 1919 (único torneio disputado pelas equipes do Rio de Janeiro, já que ainda não havia um campeonato nacional).

Rapazes que carregavam esse espírito vitorioso também aparecem no filme. Numa tomada de grande valor histórico, jogadores do Fluminense estão perfilados no gramado, com a arquibancada de torcedores ao fundo. Ao lado dos tricolores, estão atletas do Flamengo (fundado em 1895, mas cuja estreia no futebol foi em 1912). Ver imagens em preto e branco, digitalizadas, de uma era em que clubes mundialmente famosos ainda eram novatos sonhadores traz nostalgia e encantamento.

O clube mais importante do Brasil

O jornalista e historiador Roberto Assaf ressalta que, em 1920, o Fluminense era “o clube mais importante do Brasil”. E servia como referência, até mesmo para o Flamengo, que tinha somente oito anos de futebol (antes o Rubro-Negro se restringia a outros esportes, principalmente, ao remo).

“O Fluminense, nas primeiras décadas,  era uma potência no futebol. Como não existia aviação comercial, os campeonatos eram apenas regionais e o Fluminense tinha uma torcida imensa, era um clube de referência para todo o país, inclusive pelo nível de organização”, conta Assaf.

E prossegue:

“Muita gente torcia para o Flamengo no remo e para o Fluminense no futebol. Quando o Flamengo decidiu jogar futebol em 1912, vários jogadores do Flu foram para o Rubro-Negro. A torcida foi se dividindo. Mas o Fluminense continuou por muito tempo como um exemplo a ser seguido por aquele que se tornaria um grande rival”, diz Assaf.

Atletas de Fluminense e Flamengo perfilados antes de um jogo em 1920 – Acervo Cinemateca do MAM

Fala, torcida!

A solidez do futebol do Fluminense atraiu gerações de tricolores. Não apenas no Rio, mas por todo o país. O chef de cozinha Maurísio Silveira, de 57 anos, nasceu em Capistrano (CE); morou em Ji-Paraná (RO); e vive em Brasília. Desde menino, carrega o Fluminense no coração e compartilha essa paixão por onde passa.

“Encontro tricolores em todos os lugares. 1902 foi um ano abençoado com o surgimento do Fluminense. E a cada ano percebemos a grandiosidade desse clube. Sou apaixonado por sua tradição”, diz.

Entusiasmo compartilhado pelo jornalista Paulo Gramado, que considera “um privilégio” ser torcedor do Fluminense.

“Meu sentimento vai muito além da simpatia por um clube de futebol. É conviver com uma torcida apaixonante, diferente de todas as outras”.

Paulo cita exemplos de conquistas obtidas pelo clube na longa trajetória.

“Temos quatro Brasileirões e o Mundial de 1952, quando o Fluminense disputou e venceu o torneio com campeões nacionais de seus respectivos países, com destaque para Alemanha, Uruguai, Portugal, Suíça, Paraguai e Áustria, entre outros. Ser Fluminense é testemunhar vitórias espetaculares”, vibra.

Para muitos, as cores fazem toda a diferença. É o caso do biólogo Mário Moscatelli, que se apegou à tradição familiar, de origem italiana, para consolidar a preferência.

“Torcer pelo Fluminense é um prazer e um dever genético-cultural. Como filho de italianos e, principalmente, de mãe napolitana, eu tinha de torcer pelo time que tem as cores da bandeira italiana. Forza, Fluminense!”

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