Os clubes das Séries A e B discutem a criação da Liga do Futebol Brasileiro (Libra), porém o entendimento entre os envolvidos parece estar longe de acontecer. Na última sexta-feira, um bloco formado por 15 clubes, dentre eles o Fluminense e o Athletico, publicou uma nota reforçando que são contrários aos percentuais de divisão das receitas.

Clubes das Séries A e B divulgam carta de repúdio aos termos de criação da Libra

A Libra já conta com oito clubes, que concordaram com a divisão dos ganhos da seguinte forma: 40% repartidos igualmente entre todos os participantes; 30% de acordo com a performance; 30% por engangamento e audiência. Assinaram o documento Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Red Bull Bragantino, Ponte Preta e Cruzeiro.

Com a criação da Libra, a CBF deixaria de organizar o Campeonato Brasileiro – Lucas Figueiredo/CBF

O grupo contrário quer que o fatiamento seja diferente: 50% divididos de forma igualitária; 25% por performance; 25% por enganjamento e audiência. Além de Fluminense e Athletico, assinaram a nota o Atlético-GO, Avaí, Brusque, Ceará, CSA, Cuiabá, Fortaleza, Goiás, Náutico, Operário-PR, Sampaio Corrêa, Sport e Vila Nova-GO. Atlético-MG, Botafogo, Internacional, Bahia, Grêmio e Vasco ainda não se posicionaram.

Mas afinal de contas, quem está certo nessa discussão? Para responder essa pergunta, o Jogada10 conversou com Amir Somoggi, sócio da Sports Value e especialista em marketing esportivo. Para ele, os clubes precisam trabalhar como parceiros e dá razão ao bloco que tenta dividir as receitas de forma mais igualitária

“A liga tem que primar pela equidade. Mais do que qualquer outra questão, os clubes precisam se sentir parceiros comerciais, parceiros no negócio. Vamos pegar o exemplo dos Estados Unidos, que é o maior mercado do mundo. A NFL e a NBA que tem os maiores contratos do mundo, dividem igualitariamente entre os times, não só o contrato de TV, mas a venda de boné, venda de camisa. Tudo é igualitário. O Lakers vende muito mais que um time pequeno, mesmo assim ele divide. Então esse é um conceito”, explicou Amir Somoggi, para dar outro exemplo.

“Na Inglaterra, é um pouco mais aberto, com os clubes vendendo cada um a sua camisa, mas a receita de televisão, a diferença do Manchester United e do Everton, não é grande. É como se o Flamengo, Atlético-GO, Corinthians e Ceará recebessem parecido as receitas de TV, que é o que a Liga pode dividir. O restante, como marketing, estádio, internacionalização, tudo isso, quem tem mais torcida vai faturar mais”.

Amir Somoggi é especialista em marketing esportivo – Reprodução Instagram

Para Amir Somoggi, os grandes do futebol brasileiro precisam mudar o pensamento e lutar pela expansão da competição. O especialista ressaltou que com o modelo atual, nenhum clube vai crescer ou lucrar mais.

“Hoje o Flamengo não ganha nada com a internacionalização do futebol brasileiro. Se a Liga internacionaliza, todos vão ganhar, inclusive o Flamengo. Então a visão que o Flamengo tem que ter é de que não se cresce sozinho e vai se ganhar mais, se os meus amigos ganharem também. É uma visão da indústria”.

Na avaliação de Amir Somoggi, a discussão deveria se encaminhar para o rompimento com a CBF, antes mesmo de pensar na divisão de receitas.

“Não faz o menor sentido a CBF organizar um campeonato tão rentável como a Série A e minimizar a competição. Por exemplo, está tendo o estadual, acaba o estadual e no domingo começa o Brasileiro sem nenhuma promoção. Não faz o menor sentido. O que a Liga pode fazer é alavancar essa questão. É fazer ações com as comunidades, com questões ambientais, coisas que um clube sozinho não faria e a Liga como um todo pode fazer”.

Na opinião de Amir Somoggi, os clubes brasileiros precisam se espelhar na La Liga, que organiza o Campeonato Espanhol. A expansão da competição, se deu pela divisão igualitária entre os clubes, mesmo com Barcelona e Real Madrid sendo muito maiores que os demais.

“A La Liga, antes da organização que tem, era a quarta Liga da Europa e hoje, é a maior em termos de mídia. Hoje a La Liga é a maior Liga do mundo em termos midiáticos, não comerciais, que é a Premier League. Eu acho que dá para o Brasil crescer muito com a Liga, mas tem que entender que o modelo de Liga é o meu parceiro fora de campo tem que ganhar junto comigo. Não dá para o Barcelona e o Real Madrid faturarem tão mais que o Atlético de Madrid, do que o Sevilla. Isso é bom para um negócio global que eles construíram. Essa é a visão que falta ao Brasil”, finalizou.

As negociações para a criação da Libra pode ter um novo episódio nesta quinta-feira, quando está prevista uma reunião na sede da CBF, com a participação dos 40 clubes que formam as Séries A e B. No entanto, a falta de consenso entre as partes, pode fazer com que o encontro fique esvaziado, tendo em vista que não há indícios de que algum lado irá ceder.

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