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Quando Jorge Jesus abriu o caminho aos compatriotas pelo sucesso que fez em 2019 no Flamengo, clube que investiu em Paulo Sousa – mais um treinador português – na temporada atual, Paulo Caroço já tinha oito anos de Brasil. Na contramão da onda lusitana que invadiu o país, com direito ao bicampeonato de Abel Ferreira pelo Palmeiras na Libertadores (2020 e 2021), o técnico de 48 anos vive distante da idolatria aos conterrâneos e cumpre com dedicação os seus afazeres no modesto Palmas, de Tocantins.

Paulo Caroço chegou ao Brasil em 2011 e, diferentemente de alguns compatriotas, vive longe dos holofotes – Divulgação / Palmas FR

Embora não seja novidade no mercado brasileiro, a presença de portugueses se estabeleceu intensamente nas últimas três temporadas. Ocorreram as experiências com Jesualdo Ferreira, no Santos; Ricardo Sá Pinto, no Vasco; e António Oliveira, no Athletico, além da dupla performática que caiu merecidamente nas graças de rubro-negros e alviverdes.

Em entrevista ao Jogada10, Paulo Caroço explicou o que justifica a grande procura pela nacionalidade. Para ele, o entendimento do idioma é um agente facilitador, mas não basta: a busca está atrelada à globalização do mercado e ao maior conhecimento muldidisciplinar dos profissionais portugueses.

“Na condição de treinadores lusitanos temos a vantagem da língua. Em Portugal, o mercado é pequeno. Isso nos obriga a emigrar para podermos trabalhar. Mas também continuamos na vanguarda do ensino e metodologia mundial na formação de técnicos. Tanto que o modelo português é extremamente competitivo no principal cenário mundial: o europeu”, contou Caroço.

A relação consolidada entre os dois países no mercado é outro fator que pesa favorável ao intercâmbio de técnicos e jogadores. Relatório publicado pela Fifa em agosto do ano passado apontou que, entre 2011 e 2020, o fluxo mais rotineiro de transferências no mundo foi Brasil-Portugal, com 1.556 movimentações. No sentido oposto, foram 934 transações.

“Muitos clubes brasileiros têm estrutura física de ponta. Os próprios atletas são sedentos pelo aprendizado, então o conjunto da obra é ótimo para o desempenho da atividade. Mas deixo claro que o mercado brasileiro de técnicos é muito bom. No entanto, chegamos ao momento em que os clubes preferem trazer profissionais de fora por uma questão de imediatismo. Virou moda clube daqui ter técnico estrangeiro, independentemente dos resultados positivos ou não, tal como os técnicos brasileiros”, afirmou.

Caroço comandou o Palmas na Copa São Paulo-2022, mas já retornou ao profissional para a disputa do Tocantinense – Christian Alencar / Palmas FR

Paulo César Caroço é praticamente um desconhecido em seu país. A convite do ex-jogador Edmilson Ratinho (ex-Porto, Sporting e PSG), aceitou se mudar para o Brasil em 2011. Pouco tempo depois, logo constatou: estava seduzido pela nova casa. Antes de fincar raízes em Tocantins, onde se estabeleceu como professor e adquiriu dupla nacionalidade, ficou dois anos no Espírito Santo. Em 2019, foi contratado para atuar nas categorias de base do Palmas. No ano passado, foi chamado para trabalhar como interino no profissional. De lá pra cá carrega no currículo a participação no Estadual, Copa do Brasil e Série D do Brasileiro. Ele comandou a garotada do Palmas na Copa São Paulo-2022, mas já retornou ao profissional para a disputa do Tocantinense.

Jorginho: ‘Sempre haverá espaço para os estrangeiros no Brasil’

Jamais neste século uma temporada do futebol nacional havia começado com seis treinadores de fora do país na Série A. Tanto em 2021 como em 2020, que mantinham o recorde até então, quatro clubes deram a largada com nomes não brasileiros.

Tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira e comandante do Cuiabá na Série A desde o ano passado, Jorginho defende a presença de técnicos estrangeiros no mercado nacional.

“Acredito que o mercado sempre precisa estar aberto para estrangeiros. E serão bem-vindos. Como treinador, já fui estrangeiro em dois países e me senti acolhido por todos. No futebol brasileiro sempre houve procura por técnicos de fora. A partir de 2019, com o sucesso do Jorge Jesus, aumentou consideravelmente a busca por estes profissionais. Abel Ferreira é outro grande exemplo, com um bicampeonato de Libertadores pelo Palmeiras”, destacou.

Na elite nacional em 2022, além dos portugueses Paulo Sousa (Flamengo) e Abel Ferreira (Palmeiras), aparecem dois argentinos: António Mohamed (Atlético) e Juan Pablo Vojvoda (Fortaleza). Completam a lista o uruguaio Alexander Medina (Internacional) e o paraguaio Gustavo Morínigo, do Coritiba. Na Série B, há mais dois estrangeiros: o uruguaio Paulo Pezzolano, do Cruzeiro, e o paraguaio Gustavo Florentín, do Sport.

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