Zizinho chegou ao Flamengo no fim da década de 1930, vindo de Niterói, quando o clube havia superado a briga entre amadorismo e profissionalismo, e certa resistência absolutamente estúpida aos negros, ocupando espaço em um time que tinha como objetivo desbancar a hegemonia do Fluminense no cenário carioca.

Para ficar só nos dias de hoje, dada a sua grandeza, Zizinho foi algo próximo do Arrascaeta de agora, ou seja, a principal referência do Flamengo que em 1944 alcançaria o tricampeonato do Rio de Janeiro, e craque com vaga cativa na Seleção Brasileira formada por muitos monstros da bola, do goleiro ao ponta-esquerda.

Zizinho defendeu o Flamengo nos anos 40. Foi o grande astro do Rubro-Negro em sua época – Domínio público

Jogava-se em 3-5-2 ou 2-3-2-3, o WM, e ele apresentava-se como o homem que carrega a bola, dribla com eficiência, distribui os passes com categoria, e como se não bastasse, conclui com acerto, chegando aos mais de 300 jogos e quase 150 gols com a camisa rubro-negra. Daí a reverência de Mestre, também pela liderança que exercia nas quatro linhas.

A este que vos escreve, garantiu certa vez, em uma longa entrevista, que se desembarcasse no Flamengo algum tempo antes, e se as todas as figuras que exerciam lideranças no clube tivessem apoiado efetivamente o húngaro Dori Krueschner, o treinador de então, o Fluminense não ganharia o tri em 1938, o que na prática jamais saberemos, mas que pelo menos na teoria é possível imaginar.

Hoje, passados mais de 70 anos, ainda há quem duvide disso tudo, pois Zizinho foi a grande estrela que disputou a Copa do Mundo de 1950, e é fato que o Brasil se deixou derrotar pelo Uruguai em pleno no Maracanã. A esses, o Mestre diz que aquela decisão foi um jogo atípico, desses que só o imponderável do futebol pode explicar, e que havia, na visão de dirigentes e do próprio treinador Flávio Costa, a necessidade extrema de evitar qualquer revide do pessoal da Celeste, pois o país, subdesenvolvido, precisava aproveitar aquela rara oportunidade para mostrar ao planeta que era sobretudo civilizado, dentro e fora do campo.

Zizinho controla a bola no jogo do Brasil com a Iugoslávia na Copa de 50. Foi uma de suas atuações mais marcantes  AGENCIA ESTADO / AFP

Zizinho não chegou a ser um bad boy, mas não deixou de questionar determinadas atitudes de cartolas, como o comportamento do próprio Flávio em 1950, a venda de seu passe por Dario de Melo Pinto – presidente do Flamengo – ao Bangu, no mesmo ano, e os desentendimentos verificados com os chefes da delegação nacional no Sul-Americano de Lima, em 1953, e que acabou lhe valendo a exclusão da Copa do Mundo de 1954, na Suíça, quando contava 33 anos de idade e ainda jogava muita bola.

Quanto aos que perguntam se Zizinho teria lugar no futebol de hoje, muito distinto daquele de seu tempo, em todos os aspectos, vale dizer que o craque terá sempre espaço, não importa a época, o time ou o tipo de jogo que é praticado. E para encerrar qualquer polêmica, ou dúvida a respeito do Mestre, basta ressaltar que Pelé, que foi o maior jogador de futebol da história, o elegeu como grande ídolo de sua época de menino, e exemplo para início, meio e fim de sua fabulosa carreira.

Pois faça agora um exercício de ficção e imagine Zizinho deixando Gabriel livre para marcar, no Flamengo ou na Seleção Brasileira, e elogiá-lo, em sequência, com as mesmas palavras que escrevemos aqui para torná-lo, como é, foi e será, eterno.

ZIZINHO

Nome: Thomaz Soares da Silva
Nascimento: 14/9/1922, São Gonçalo (RJ)
Posição: Apoiador
Clubes: Flamengo (1940 a 1950), Bangu (1950 a 1956), São Paulo (1957 a 1959), Audax Italiano-CHI (1961/62)

Títulos

Seleção Brasileira: Sul-Americano de 1949
Flamengo: Campeão carioca de 1942, 1943 e 1944
São Paulo: Campeão paulista de 1957

Jogos pela Seleção: 53 (30 gols)

Comentários