Aos 43 anos, o treinador Léo Neiva tem o maior desafio de sua carreira. Depois de uma trajetória breve de jogador, resolveu apostar alto fora das quatro linhas. Tornou-se treinador e correu o mundo, literalmente. Trabalhou em países do eixo alternativo do mundo da bola, como Tailândia, Mianmar, África do Sul, Tanzânia e Jamaica. Desde o início do ano, ele comanda a seleção de São Cristóvão e Névis, o menor país das Américas, com apenas 261km² e um pouco mais de 54 mil habitantes. O país ocupa a longínqua 135ª posição do ranking da Fifa, entre 210 países.
“Acumulei diversas passagens pelo futebol internacional. Então, acredito que essa experiência toda fez com que chamasse a atenção deles aqui. Fui vitorioso nessas passagens. E algo que com certeza deve ter chamado a atenção, acredito eu, foi o título que vencemos na Jamaica pelo Montego Bay FC. Aqui na Concacaf, a seleção jamaicana e o futebol como um todo, no país, são muito valorizados. Pelo menos, o Top 5 das ligas da região”, afirmou o treinador ao Jogada10.
A missão de Léo Neiva? Levar os Sugar Boyz (Doces Meninos, em português), como é conhecida a seleção de São Cristóvão e Névis por causa do plantio de cana-de-açúcar no país, pela primeira vez a uma Copa do Mundo. Neiva reconhece que é dificílimo, mas os primeiros passos nas Eliminatórias são de encher os cristovenses de esperanças: vitórias por 1 a 0 sobre Porto Rico, e 4 a 0 em Bahamas.
“É muito importante frisar que temos que ter os pés no chão. Pensar jogo após jogo. Não é porque vencemos duas partidas que está tudo certo. Os erros precisam ser corrigidos. Ainda temos dois duros adversários pela frente (Guiana e Trinidad e Tobago). São favoritos pelo tempo de trabalho, posição no ranking, além de Trinidad e Tobago ser uma potência na região, já tendo disputado Copa do Mundo. O objetivo aqui é deixar um legado, acima de tudo. Desenvolver o jogador local para diminuir e equilibrar o nível tático e técnico com os jogadores internacionais”, disse Neiva, que curiosamente vai enfrentar outro brasileiro no próximo confronto, já que a Guiana é comandada por Márcio Máximo.
São Cristóvão e Névis tem mesmo um árduo caminho pela frente: apenas os primeiros colocados dos seis grupos da primeira fase se classificam e depois fazem uma fase mata-mata. Os três sobreviventes se juntam aos cinco melhores da Concacaf (EUA, México, Costa Rica, Jamaica e Honduras) para um octogonal. Os três primeiros vão para a Copa.
“Fiquei muito surpreso com o que encontrei aqui em São Cristóvão e Névis. Apesar de serem ilhas pequenas, existem muitos campos bons para treinarmos. Cada clube possui seu campo, além de escolas e faculdades terem campos próprios e, por isso, o futebol vem cada vez mais se desenvolvendo. Aqui temos a Premier League (com dez times) e a Segunda Divisão. A federação me oferece condições ótimas de trabalho. O que acaba dificultando muito na preparação são as restrições impostas pelos rígidos protocolos contra a Covid-19 que o país impõe”, revela Neiva.
Sonho em trabalhar no Brasil e estilo próprio
Hoje, o desafio em São Cristóvão e Névis é grande, tão grande quanto a vontade de comandar um grande time no futebol brasileiro.
“Penso muito. Seria uma honra poder trabalhar em um clube bem estruturado e que ofereça boas condições de trabalho. Sou brasileiro, minha família mora no Brasil. Além disso, a visibilidade que um treinador pode ter nessa praça é incrível. Vejo, sim, como uma meta a ser atingida. Fiz os cursos da Licença A e Pro da CBF para estar em condições de encarar o desafio e espero ter a oportunidade um dia”, revela Léo, que se diz um estudioso do futebol, em busca de criar um estilo próprio.
“Tenho contato com muitos treinadores brasileiros com os quais já tive a oportunidade de trocar experiências. Temos excelentes representantes com suas diferentes características. Também sou um estudioso do futebol. Gosto de ver jogos do Brasil e também do mundo todo. Tiro de cada uma dessas trocas e análises um pouco de cada treinador. Acredito que assim posso ter uma visão mais ampla de estilo de jogo e consigo formar o meu próprio”, completa.
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