O 29 de novembro marca a maior tragédia da história do futebol brasileiro. Foi na madrugada deste dia, em 2016, que o avião da LaMia, que transportava a delegação da Chapecoense, caiu na localidade Cerro El Gordo, na Colômbia, deixando 71 mortos e 6 feridos. Além de jogadores, dirigentes e integrantes da comissão técnica do clube catarinense, o voo 2933  tinha jornalistas que fariam a cobertura da final da Copa Sul-Americana, em Medellín.

Torcedora da Chape faz homenagem aos mortos do acidente em 2016 – Buda Mendes/Getty Images

A Chape havia se classificado para a decisão contra o Atlético Nacional. Um momento especial na vida de todos ligados ao clube. Um sonho interrompido pela tragédia criminosa, como ficou provado nas investigações. O avião estava a 35 quilômetros de distância do aeroporto quando caiu por falta de combustível. O plano de voo havia sido mal feito.

Cinco anos depois, os momentos de desespero e dor ainda são lembrados não apenas pelas famílias das vítimas e pelos sobreviventes. Mas também por moradores de Chapecó, que vivenciaram um drama coletivo: a comoção que envolveu a cidade inteira após a tragédia.

Um desses moradores teve a chance de transformar a tristeza em arte. O artista plástico Rodrigo Cardoso dos Santos, o Digo Cardoso, especializado na técnica do grafite, pintou o rosto de cada vítima no muro do estacionamento do Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, no centro do município, em dezembro de 2017, no primeiro aniversário da tragédia. Ele reproduziu cada um em pequenos quadros para as  famílias das vítimas. Um  processo de criação que lhe custou uma elevada carga emocional.

Veja aqui os grafites feitos por Digo Cardoso dos rostos de cada integrante do time

“Os quadros são feitos a partir de recorte de papel. Eu e minha esposa tínhamos que recortar os rostos de cada um para fazer o molde. Foi uma dureza. A gente chorava, sabe? Era impossível não descer uma lágrima”, conta.

Grafite feito por Digo Cardoso retrata o rosto de cada vítima da tragédia da Chape – Arquivo pessoal

Digo também assina o painel pintado no Estádio Atanasio Girardot, em Medellín, onde a final da Copa Sul-Americana teria sido realizada no dia 30. Na arena, ele criou uma obra para simbolizar a amizade entre os povos brasileiro e colombiano. Na época da tragédia, a solidariedade foi a tônica da relação entre os clubes que disputariam a grande final. O Atlético Nacional, inclusive, pediu à Conmebol que a Chape fosse campeã da competição continental. E, pelo gesto,  recebeu o prêmio Fair Play da Fifa.

O artista

Nascido em Jacareí, no interior de São Paulo, Digo foi para Chapecó com a família aos 11 anos de idade. E embora tenha morado em outras cidades antes do regresso, ele afirma que se sente, de fato, “um chapecoense”. E destaca a importância da Arena Condá.

“O clube tem uma ligação forte com os moradores. É impossível não se conectar ao time morando aqui porque é algo muito amado na cidade”.

O trabalho em grafite de Digo Cardoso completa, este ano, duas décadas. Apaixonado por desenho desde criança, foi em 2001 que ele decidiu se dedicar ao aprendizado do spray para aprofundar o que já sabia intuitivamente. Em 2009, foi incentivado a se profissionalizar, buscando um caminho sólido nas artes plásticas. Foi o investimento na própria vocação que o credenciou para trabalhos por encomenda.

Digo Cardoso trabalhando no ateliê, em Chapecó – Arquivo pessoal

Hoje, quando vê o muro que ele idealizou para eternizar a memória das vítimas do voo da Chape, Digo relembra os momentos de perplexidade que abalaram a população de Chapecó.

“Foi um impacto muito grande. Todos se lembram do que estavam fazendo quando receberam a notícia da queda do avião. Foram momentos nublados, dias silenciosos”.

Digo fez quadros para as famílias das vítimas. Na foto, o grafite emoldurado do técnico Caio Júnior, morto na tragédia – Arquivo pessoal

Porém, ele afirma que procura retirar de cada episódio um ensinamento. E se esforça para não cair na melancolia. Por isso, prefere lembrar da emoção que sentiu ao presentear os parentes das vítimas com os pequenos quadros.

“Foi como dar um abraço em cada família”.

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