O que era para ser uma entrevista coletiva, tornou-se um surpreendente desabafo do técnico Bruno Lage, do Botafogo. Incomodado com as críticas e a pressão por resultados, o português deu uma longa resposta à primeira e única pergunta de um jornalista, após a derrota por 2 a 1 para o Flamengo, neste sábado, no Nilton Santos. No fim, colocou o cargo à disposição da diretoria para uma possível demissão.

Em seu discurso, Lage disse que suporta a pressão, mas não admite que os jogadores sofram tanto com isso. Afinal, o Glorioso é líder isolado do Brasileirão, independentemente dos dois maus resultados recentes. Mas, ao mesmo tempo, as palavras sugerem uma questão pessoal.

“As pessoas diziam que éramos campeões (antecipadamente), sinto isso. A pressão sobre mim é tranquilo, mas é uma pressão muito grande nos meus jogadores. Não admito. Só há uma forma de libertar-nos, nesse momento coloco meu lugar à disposição do diretor, do presidente. Tenho contrato com o Botafogo até dezembro, é muito dinheiro de ordenados, prêmios praticamente garantidos de Libertadores, prêmio de campeão, mas não tenho problema de abdicar. Não sou guloso de dinheiro, não posso é suportar pressão nos meus jogadores. Meu lugar está à disposição de quem manda”, disse Lage, encerrando, em oito minutos, o que deveria ser uma entrevista coletiva.

Bruno Lage orienta o time contra o Fla: será seu último jogo? – Foto: Vitor Silva/Botafogo

LAGE NA DEFENSIVA

Antes, ao ouvir a pergunta a respeito de suas escolhas para a escalação, ignorou o tema e iniciou o desabafo previamente programado. Isso poque, o português parecia checar um roteiro em seu telefone celular.

“Pelo que dizem, o Botafogo já está campeão, se houver qualquer coisa pelo caminho, “foi você que estragou”. Essa pressão tem existido desde o primeiro dia, e eu aguento de forma tranquila (…). Vai haver sempre essa coisa de o que o Bruno Lage está fazer. Se o treinador que começou estivesse aqui, não tinha acontecido. Por que vim? Porque o treinador aceitou outro projeto, saiu daqui supostamente já campeão. Os torcedores também já estão no modo campeão. Quiseram encontrar um indivíduo (culpado) caso a equipe não seja campeã. Eu aguento essa pressão de forma natural. Eu sabia disso”, seguiu Bruno Lage.

O técnico mencionou seu currículo de sucesso, citando invencibilidade no Benfica e um recorde fora de casa no Wolverhampton-ING. E lamentou que, embora tenha sido a primeira opção para substituir o compatriota Luis Castro, não sinta a paciência com seu trabalho.

“Chego no Botafogo, sinto que o que faço não é suficiente para o adepto (torcedor). Sinto que fui muito desejado, que fui escolhido, mas que essa pressão eu aguento facilmente. Mas a sequência que cai em olhar só para o meu percurso não é necessária para nossos jogadores. O que têm feito até aqui, de bater todos os recordes, permite ter esse resultado, que não queríamos. Cá cheguei, tive oportunidade de empates fora e vitórias em casa, aumentar a distância, mesmo assim não era suficiente”.

DESEMBARQUE SOB APOIO

Na chegada ao Rio de Janeiro, após derrota e eliminação na Copa Sul-Americana, Bruno Lage foi um dos que vibrou com carinho do torcedor, que compareceu ao aeroporto na madrugada para apoiar o grupo. A SAF alvinegra, agora, terá que esclarecer a situação e decidir o que fazer com a comissão técnica nas próximas duas semanas. Afinal, as competições paralisam para a Data-Fifa das seleções.

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