No Brasil, não há discussão. Pelé é o melhor jogador de todos os tempos. Ponto. Qualquer coisa que saia deste limite é heresia. Na Argentina, a história é diferente. Maradona é uma religião para os hermanos, e o debate, às vezes, descampa para o lado emocional. No entanto, há, entre os nossos vizinhos, figuras de extrema relevância no futebol daquele país que consideram o Rei como o número 1 da história. Aliás, à frente de Don Diego quando aparece alguma comparação.

O Jogada10 mostra, na sequência, quem são estas cinco lendas e o que pensam sobre o Atleta do Século, morto na última quinta-feira (29) em decorrência de complicações de um câncer de cólon.

PASSARELLA

Passarella com a taça. Ele era o capitão da Argentina em 1978 – STAFF/AFP via Getty Images

A habilidade para liderar as defesas de River Plate e da seleção argentina trouxe à tona comparações com Franz Beckenbauer. E não é nenhum exagero. O “Kaiser” do hemisfério sul tinha as mesmas características e sabia atuar como líbero. No título da Copa do Mundo de 1978, protegeu a cidadela albiceleste e chamou a atenção do futebol italiano. No bicampeonato de 1986, foi o único remanescente do elenco campeão oito anos antes, embora reserva.

Este gênio, um dos melhores defensores que já passaram pela Terra, já exaltou Pelé.

“Pelé ou Maradona? Não há este tipo de comparação porque Pelé jogou quatro Copas do Mundo e ganhou três. Maradona, com o mesmo número, ganhou uma. Isso é um dado muito importante. Diego era muito vistoso para jogar e chamava muito mais a atenção do que Pelé, que tinha mais inteligência e entendia mais o jogo”.

BOCHINI

Bocha é um nome sagrado na história do Independiente – Wikimedia Commons

Sem dúvida, o maior ídolo da história do Independiente. Fiel ao Rojo de Avellaneda (1972-1991), nunca saiu do clube e foi protagonista de grandes momentos da história do Rey de Copas. Tem mais Libertadores na carreira do que muitos gigantes do futebol sul-americano (cinco e mais dois Mundiais de Clubes). Uma ideia clara da grandeza de Bocha era ser o ídolo de Maradona, o jogador em quem Dieguito se inspirava para dar, principalmente, os seus primeiros passos no esporte bretão. Bochini também estava no elenco que conquistou a Copa de 1986, mas jogou apenas uma partida.

Sobre Pelé, o mito do Independiente é taxativo.

“Bom, Pelé ganhou três Mundiais. Muito difícil ser alcançado. Messi e Maradona têm características semelhantes. Mas Pelé era distinto. Um atleta. Ele se sobressaía a craque que jogavam contra e a favor, como Jairzinho, Gerson, Rivellino e Tostão. Para mim, o jogador mais completo que vi”.

LOCO GATTI

Gatti era louco. No entanto, fechava o gol como poucos – Wikimedia Commons

Considerado por muitos argentinos o melhor goleiro da história do Boca Juniors, seu último clube na carreira. Por lá, de 1976 a 1988, ganhou duas Libertadores, um Mundial e duas ligas nacionais. Antes, nos anos 60, defendeu o River Plate e sofreu nos duelos contra Pelé. Era um “showman” dentro das quatro linhas. Aliava um estilo espalhafatoso com muita eficiência debaixo das traves. Gostava muito de sair do gol, dividir a bola com os atacantes adversários e superá-los, enfim, com sua habilidade. Sabia, também, provocar o adversário. Em síntese, o cara que inspirou o colombiano Higuita e o mexicano Jorge Campos.

Gatti também vê Pelé à frente de Maradona. Destemido, ele confessou.

“Pelé, para mim, foi o maior. Disparado. Era o único jogador que me dava medo. Tive a sorte de jogar contra ele e vê-lo jogar. É preciso separá-lo dos demais. Perfeito, só Deus. Mas, futebolisticamente, Pelé esteve perto da perfeição. Uma coisa tremenda. Inventou tudo. Saltava como ninguém. Uma pantera”.

CESAR LUIZ MENOTTI

Menotti é um prócer do futebol argentino – Ronaldo Schemidt/AFP via Getty Images

Um dos papas do futebol argentino. Outra lenda que impõe muito respeito no país vizinho, afinal, como técnico, comandou a seleção na conquista da primeira Copa do Mundo, em 1978. El Flaco tinha, naquela época, como base, o Huracán, equipe a encantar o país, presenteando o público com o fino da bola. O Globo também foi treinado por ele. Deixou um legado conhecido como “menottismo”, corrente seguida por grandes nomes de sua profissão. Como jogador, atuou ao lado de Pelé, no Santos, de 1968 a 1969. Portanto, impossível alguém cometer a blasfêmea de afirmar que não tinha lugar de fala.

O Rei o impressionou desde sempre.

“Era de outro planeta. Há coisas de Pelé que deveriam ser colocadas nos jogadores de agora. Não houve, não há e não haverá jogadores como Pelé. Então, nem eu, nem Diego (Maradona) duvidamos disso. As diferenças com Diego eram físicas, Pelé era um atleta. Tive a sorte de conviver com o Rei. Então, são esses jogadores que nascem e não se repetem nunca mais”.

COCO BASILE

Coco foi um zagueiro quase completo. Entretanto, sofreu com Pelé – Wikimedia Commons

Já que mencionamos um ídolo do Independiente, não poderíamos deixar fora um representante do Racing. Coco Basile era a personificação de um grande zagueiro. Neste sentido, destacou-se no primeiro clube argentino a ganhar um Mundial de Clubes, o Racing, em 1967. Um ano mágico para La Academia. Sempre quando pisa no Cilindro, a torcida celeste e branca grita: “Olê-lê, olá-lá, el Coco es de Racing, de Racing no se va“. Como jogador, também foi muito bem no Huracán. Em seguida, como treinador dirigiu o time de Avellaneda algumas vezes. Ainda na profissão, ganhou duas Copas Américas pela seleção argentina.

Coco enfrentou Pelé algumas vezes. Ganhou duas e perdeu duas. Assim, viu de perto o que o Rei era capaz de fazer. Ao ser perguntado sobre se alguém estava acima de Maradona, decretou.

“Sim! Vi um Pelé extraordinário. Um dia, no Parque Antártica, pegou um centro de Pepe, saltou de forma extraordinária, matou a bola no peito e me deu um chapéu. Veio o Perfumo (zagueiro argentino que seria ídolo no Cruzeiro depois do Racing), aplicou outro chapéu e emendou de canhota, de forma inapelável para Seijas (goleiro). Para mim, o número 1. Foi descomunal fisicamente e tecnicamente”.

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