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Que Arrascaeta que nada. O rubro-negro vencedor do prêmio da Fifa é outro. Ele não fez um golaço, mas dribla as dificuldades da vida com a mestria de um Pelé para ver seu time do coração, o Sport Recife. O auxiliar de serviços gerais Marivaldo Francisco da Silva, de 47 anos, é o campeão do fã “The Best” do ano, anunciado nesta quinta-feira (17) pela entidade máxima do futebol, em Zurique, na Suíça. O que ele fez para isso?

 

Que Sorte que somos Sport
O torcedor Marivaldo Francisco da Silva: o fã ‘The Best’ da Fifa – Arquivo pessoal

Para ele, nada. Apenas caminhou e caminhou por 60km, desde a pequena Pombos, cidade pernambucana de 29 mil habitantes, até a Ilha do Retiro, estádio do Sport, em Recife, para assistir ao seu clube do coração.

“Quando recebi a notícia de que tinha ganhado o prêmio achei que era um sonho. Não fiz essa caminhada querendo aparecer. O Sport é a minha vida. Como aqui na minha cidade é difícil conseguir carona, eu vou a pé mesmo”, conta Marivaldo, que começou sua jornada em 2017, quando sua família se mudou para a cidade.

“Sou rubro-negro desde a barriga da minha mãe. Lá em casa, todos sempre foram vermelho e preto. Não entrava branco”, comenta.

Marivaldo explica que não perde os jogos do Sport em Recife. Para o torcedor símbolo da Fifa não há distância, frio, calor, falta de dinheiro, chuva que o impeça de chegar a tempo de assistir aos jogos, todos driblados na raça e na coragem. O único adversário que o parou foi a recente pandemia do coronavírus:

“Cheguei ao estádio, mas os portões estavam fechados por causa da doença. Eu penso assim: tenho duas pernas e saúde? Então, posso ir assistir às partidas.”

A rotina dos dias de jogos virou um ritual: se começar às 16h, Marivaldo sai de casa às 5h da matina; caso esteja marcado para às 20h, o torcedor The Best sai às 8h. Ele pega dois pacotes de biscoito e uma garrafa de água na barraca de um amigo e parte estrada afora. São dez horas e meia de caminhada.

“O que eu posso dizer é que existem mais pessoas boas do que ruim neste mundo. Eu sempre encontro ajuda e nunca fiquei sem comida ou água. Consegui até ingressos,” comenta ele.

E para voltar ao fim dos jogos?

“Há um supermercado perto do estádio. Ali, consigo passar o tempo, fazendo pequenos trabalhos. Às vezes, dou um cochilada e quando amanhece voltou para casa”, afirma.

Mas teve uma vez que ele ficou sem dormir três noites. Era a ansiedade pela final da Copa do Brasil de 2008 contra o Corinthians. Marivaldo não sabia o que fazer porque só tinha R$ 25. Mas na manhã da partida, ele acordou mais decidido do que goleador com a bola dominada na pequena área adversária.

“Eu acordei, arrumei as coisas e botei os R$ 25 no bolso. Aí, a minha mãe perguntou: vai aonde, menino? Eu respondi que estava indo ao jogo do Sport e parti. Cheguei na porta do estádio e o dinheiro não dava para comprar o ingresso. E vou para lá, para cá, até que eu arrumei. Entrei na hora do primeiro gol do Carlinhos Bala. Depois, o Luciano fez o segundo, o time ganhou por 2 a 0 e foi campeão. Com certeza a maior alegria da minha vida,” garantiu o torcedor, que revelou sua maior tristeza:

“É quando meu time perde para um rival no Estadual.”

Bem, uma coisa é certa: Marivaldo nunca será um perdedor. Ele é um “The Best”.

 

 

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