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O Flamengo vive uma maré de decididamente favorável. Mais uma vez, quando as ondas vêm altas, em sentido contrário, o time consegue furá-las com firmeza, para sair nadando tranquilamente, até alcançar a calmaria do oceano, liderado por Michael, aquele brasileiro incansável, que luta para superar todas as adversidades da vida. Sim. Flamengo 3 a 1, de virada, mais um resultado improvável, dadas as circunstâncias.

Michael celebra um dos gols sobre o Palmeiras  – Marcelo Cortes / CRF

A partida começou equilibrada. Mas o Flamengo sofreu dois golpes em menos de 10 minutos. Saiu atrás, levando gol aos 15, conseguiu empatar logo em seguida, mas perdeu Arrascaeta, machucado, aos 23, e pouco depois o jogo estava nas mãos, ou nos pés, do Palmeiras, pois o time carioca não tinha mais referência.

Na realidade, Renato Gaúcho começava, ali, a realizar o sonho de ver uma formação quase reserva no Brasileiro, para buscar a glória no mata-mata, da Copa do Brasil ou da maldita Libertadores, como ocorria no Grêmio. O primeiro tempo ainda não havia acabado e já lembrava a mediocridade do empate com o Ceará: a defesa, sobrecarregada, passa a apostar na força, o meio, com menos um, não alimenta o ataque, e este, com Michael correndo sozinho, pois Pedro é apenas um número, não é capaz de assustar.

A sorte do Flamengo, ali, foi o intervalo, pois não levou outro gol, o que parecia próximo, e tinha, na prática, uma oportunidade para tentar, quem sabe, um acerto. Vale ressaltar que no futebol tudo é possível, como visto faz 20 dias, na vitória de 4 a 0 sobre o Grêmio, quando ocorreu, na etapa derradeira, exatamente tudo que ninguém projetou ao fim da primeira.

Mas hoje, curiosamente, quem mexeu foi o Palmeiras, pois Raphael Veiga, na visão de Abel Ferreira, não soube aproveitar o espaço que surgiu após a saída de Arrascaeta, tarefa entregue a Gustavo Scarpa. Quanto ao Flamengo, voltou, como acontecera até aqui, jogando para trás, com Andreas Pereira passeando pelas ruas de Bruxelas, Vitinho no dark side of the moon, restando apenas, antes de tomar os gols que o levariam à derrota, a possibilidade de um contra-ataque improvável.

E, no entanto, como dito, a surpresa faz parte do futebol. O Palmeiras cedeu um escanteio, e ele, o número nove, cabeceou para fase 2 a 1, transformando o jogo em um enigma, notadamente depois que Abel Ferreira, sem muita lógica, trocou três de uma vez, e Renato Gaúcho, sem qualquer explicação, deixou o belga em campo, sacando Éverton Ribeiro.

Pois o tempo foi passando e tudo – à exceção do resultado – continuou como dantes no quartel de Abrantes, o Flamengo recuado, sonhando com contra-ataques, e a equipe paulista cercando, sem criar chances, é bom que se diga. Aos 73, o técnico português tirou o lateral-esquerdo e pôs um artilheiro, e o gaúcho apostou na força física, lançando de uma vez Matheus França, Gomes e Rodinei, que juntos não formam uma perna inteira.

E eis que aos 81, Michael, aquele brasileiro incansável, que luta para superar todas as adversidades da vida, acertou enfim uma daquelas saídas em velocidade, e bateu firme para fazer 3 a 1. O Palmeiras, apenas no volume, pressionou, e a zaga deu chutes para todos os lados, para evitar o pior. Zé Rafael ainda conseguiu ser expulso ao agredir William Arão. E o árbitro trilou o apito. O Palmeiras virou freguês de caderno do Flamengo.

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