Não é porque ganhou do Flamengo. Há uma ideia de Vasco

A surpresa semanal do futebol brasileiro ficou por conta da bela vitória do Vasco diante do Flamengo, na minha concepção, o melhor time da América. “Mas Pedrosa, quem ganhou a Libertadores foi o Palmeiras”. E nem por isso o Alviverde é melhor do que o Rubro-Negro. Poderia citar inúmeros times que foram campeões não sendo os favoritos e, mesmo assim, não são melhores do que outros que disputaram a mesma competição. Ou o Chelsea vencedor da Champions League em 2011/12 era melhor do que o Barcelona de Guardiola? Não era. Porém o ponto principal é que o peso desta vitória do Cruz-Maltino contra o os comandados de Rogério Ceni é um símbolo enorme. Contudo há trabalho e uma ideia de clube que traz perspectiva ao torcedor vascaíno após 20 anos de sofrimento. Explico.

Muitos torcedores do Flamengo encararam a euforia do rival como se houvesse empolgação exagerada apenas pela vitória pelo Campeonato Carioca. E não é. Óbvio que derrotar o Rubro-Negro após 17 jogos tem seu valor. Mas o que de fato há de se destacar é que o Vasco venceu e convenceu. Foi melhor dentro da sua proposta, cirúrgico e jogou bola por conta da organização demonstrada. Atualmente na Série B, as mudanças na diretoria e na comissão técnica foram suficientes para quem acompanha o clube perceber que, finalmente, o Gigante da Colina está sendo encarado com profissionalismo. Cito nominalmente os responsáveis por essa reviravolta em poucos meses: Alexandre Pássaro e Marcelo Cabo.

É lógico que o presidente Jorge Salgado e sua equipe de VP’s têm parcela de responsabilidade. Conseguiram colocar boa parte dos salários em dia para dar tranquilidade ao grupo. Mas, na cabeça do torcedor, o diretor de futebol, que já contratou sete reforços (Vanderlei, Zeca, Ernando, Rômulo, Marquinhos Gabriel, Léo Jabá e Morato), junto ao comandante da equipe têm sido o ponto alto na organização do Vasco. Todos os nomes citados e que estão vestindo a camisa cruz-maltina vieram com contratos de produtividade e cláusulas de proteção ao time de São Januário. Não há mais a chance de novos atletas cobrarem valores milionários – algo corriqueiro nas práticas passadas – sem terem feito algo realmente para isso.

O reflexo acaba se aliando ao trabalho animador de Cabo. São nove jogos, quatro vitórias, cinco empates e duas classificações na Copa do Brasil. O Vasco fez gol em todos os jogos com o comandante (apesar de ter levado também). Foram 19 bolas nas redes adversárias e 12 nas do Cruz-Maltino. Entretanto houve uma qualificação do elenco, gastando menos, jogando mais e tudo isso, agora sim, culmina na vitória contra o maior rival. Foi um símbolo.

O Vasco tem um técnico. O Vasco tem um diretor de futebol. E o Vasco tem, finalmente, profissionais que tratam o Vasco como Vasco. Lado a lado há um grupo aguerrido, com todas as limitações possíveis, que assimilou em pouco tempo uma ideia de jogo e o que é… o Vasco. Não é sobre empolgação ou apenas ganhar do Flamengo. Há uma ideia de clube sendo desenhada e colocada em prática.