Categorias Roberto Assaf

Não entendi o enredo desse samba

Muitos, em algum momento, chegam ao topo. Mas permanecer por lá poucos conseguem. O discurso é surrado. Mas é perfeito para o Flamengo atual, que sofreu com problemas alheios aos seus desejos, sem dúvida, mas que não soube, efetivamente, conservar o tão endeusado patamar, envolvido em um enredo atrapalhado, que levou o clube a sofrer duas quedas vezes consecutivas, na Copa do Brasil e na Libertadores. Com as eliminações, o Rubro-Negro perdeu não só a continuidade nas competições, o que já foi trágico sob o aspecto esportivo, mas dinheiro, referência e o devido respeito.

Só o torcedor fanático, aquele que só vê bola rolando, sem analisar o contexto, é que não conseguiu perceber que a decadência observada no campo era um retrato dos relatos internos do clube, que a mídia trazia diariamente ao conhecimento geral.

Na realidade, tudo começou naquela derrota melancólica para o Liverpool, em 2019, que jamais mereceu uma explicação definitiva, além, é claro, da nossa eterna postura de inferioridade diante do colonizador. “Ihhhhh, olha lá o Salah! Olha o Mané!” O Liverpool é aquele time que tomou, com todos os seus titulares, de sete do Aston Villa, não faz muito tempo.

O ano de 2020 chegou, a raríssima oportunidade desperdiçada de ganhar novamente o Mundial foi ignorada, ou esquecida, como se fosse simples assim, e as conquistas, bem ou mal, prosseguiram. O Flamengo ganhou a Recopa Sul-Americana superando o Independiente del Valle, nada além de candidato a emergente no cenário continental, o Athletico-PR em frangalhos – negociou praticamente o time todo – e o Estadual, vencendo um Fluminense que só precisava de um pouquinho mais de coragem teria sido o campeão. Grande, como o Tricolor, não se apequena diante de outro, como procedeu, ainda receoso da fama do rival.

Mas eis que os problemas enfim desembarcaram na Gávea. Dinheiro curto é uma desgraça. Mas em excesso também. Traz uma ambição indesejável, equívocos, intriga, enfim, interesses que vão muito além de um jogo de futebol. “Esse cara ganha muito mais do que eu. Preciso ganhar muito mais do que ele”. Houve também a bajulação ao Governo, mal vista por milhões de rubro-negros. Com ela, a polêmica refrega com a TV Globo. Como se não bastasse, e por conta dos cofres recheados, aflorou a inveja alheia em relação à questão do incêndio no Ninho do Urubu. Pior é que a essa altura o torcedor já havia reincorporado, como nunca, em ordem alfabética, a empáfia e o ufanismo.

Aqui, um parêntese, esse a favor do clube: veio a Covid, que nenhum ser humano ainda conseguiu entender, a ausência de público nos estádios, os eventuais desfalques, a maldição das convocações para as seleções nacionais, e a saída de Jorge Jesus, que se julgava Deus. Repetia que não deixaria a Gávea enquanto não fosse campeão do mundo, assinou um contrato recebendo fortuna, e voltou para Portugal, de maneira ridícula, pela porta dos fundos.

Daí em diante, o Flamengo trouxe Domènec Torrent, um dos maiores equívocos de sua história, passou a sofrer com o fracasso contundente dos reforços milionários, o desacerto de jogadores que já estavam por lá, com destaques para Hugo Souza, Lincoln e Vitinho, o maldito rodízio que impede a formação de um time, e a tremenda polêmica no Departamento Médico, exposta diariamente nos jornais. O que é, ou foi, Domènec Torrent? Quem inventou Domènec Torrent?

Com isso tudo, o Flamengo – para não ir muito distante – apanhou de cinco do tal Valle, um time mediano do Equador, de quatro do Atlético-MG, que perdeu de Athletico-PR, Bahia e Fortaleza – e empatou com Ceará e Sport, sofreu três derrotas e nove gols do São Paulo em 15 dias, uma de quatro no Maracanã, e perdeu cinco – cinco! – dos seis pontos que disputou com o Atlético-GO, que briga apenas para não regressar à Série B.

Ah, lembrará alguém, Rogério Ceni sacou Arrascaeta e Éverton Ribeiro, mantendo Vitinho – a prova de que o futebol é uma bênção. Mas culpar o treinador, aqui, talvez seja um exagero. Pois as eliminações, diante desse enredo semelhante a um labirinto, eram evidentes. Só o fanático não enxergou.

Logo, despencar no Brasileiro é questão de tempo. E, no entanto, é possível repensar o Flamengo para 2021, pois ainda é provável aproveitar o que houve de bom enquanto as vitórias eram fartas, e evitar repetir os erros, porque um grande, como dito, não se apequena diante das adversidades.

Flávio Almeida

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