Donos dos elencos mais badalados do futebol brasileiro, Flamengo e Atlético fazem neste sábado o duelo mais esperado do Brasileirão. No campo e no psicológico. Na caça ao líder, os cariocas têm dois compromissos a menos, mas aparecem 13 pontos atrás na classificação. Neste cenário, fora a rodada passada em que os mineiros jogaram no dia seguinte, o Rubro-Negro entrou em campo antes ou no mesmo horário que o rival nas partidas entre a 22ª e 27ª rodadas.

A chance de se aproximar na tabela em três destas ocasiões, porém, não foi aproveitada. Chegada a data do confronto direto, o fracasso por não ter reduzido a desvantagem pode afetar os comandados de Renato Gaúcho?

No primeiro turno, Galo levou a melhor por 2 a 1 no Mineirão, em jogo válido pela décima rodada – Pedro Souza / Atlético

A psicologia esportiva considera alguns aspectos que podem impactar nas atuações da equipe em campo, e, consequentemente, no placar. Eduardo Cillo, psicólogo da área e com passagens por grandes clubes do Brasil, explica que a percepção do estresse em situações de decisão, a famosa “faca no pescoço”, pode responder por quedas de desempenho. Mas com ressalvas.

“Depende de quais ferramentas o atleta tem para lidar com a percepção de estresse, ainda mais em um campeonato de pontos corridos em que todos os jogos são decisivos e têm o mesmo peso. Algum trauma que desencadeie uma reação negativa pode atrapalhar o rendimento caso o indivíduo note alteração de comportamento fora do habitual. Com isso, ele pode entrar em campo mentalmente derrotado”, afirma para, logo em seguida, complementar:

“É fundamental que o atleta entenda que a preparação foi feita adequadamente, mas que isso não significa sucesso ou fracasso em um jogo decisivo. Mesmo com estresse é possível render bem, até já sabendo o placar do jogo do concorrente. Mais do que possível, é necessário. Resultado de partida não se controla; o que se controla é a atitude. Sempre uma bola de cada vez, independentemente do que acabou de ocorrer. A próxima bola é a mais importante. O jogo deve ser vivido, e não pensado. Essa é uma forma de minimizar a preocupação com o resultado ao final”.

De acordo com o psicólogo, por mais que uma equipe não tenha controle sobre o rendimento e os resultados da outra, quando aumenta a demanda em um confronto direto com o rival, os cuidados precisam ser redobrados para que a pressão emocional e mental seja controlada e direcionada para desempenho, sem causar prejuízos.

“E isso tudo maximiza em um duelo contra o principal adversário do seu time na luta por um título, já que a exigência tende a ser ainda maior e o erro inadmissível. Por isso a importância do trabalho das comissões técnicas alinhadas a psicólogos. Mas é preciso salientar que a performance se constrói dentro de campo”, aponta Cillo.

Estresse no líder pode servir de estímulo para findar jejum

Com apenas um título brasileiro, conquistado no longínquo ano de 1971, o Atlético trilha na contramão do Flamengo, de troféus recentes e na busca pelo tri consecutivo. Logo, os mineiros carregam a pressão de presentear gerações de torcedores que aguardam ansiosamente pelo fim do jejum de 50 anos. No atual elenco alvinegro, ninguém ainda era nascido naquela ocasião. Eduardo Cillo, porém, assegura que a cobrança de torcedores e do clube estão presentes.

“Apesar de não serem os responsáveis por esse jejum, os jogadores respiram a cultura do clube, e esta pode chegar até o campo. Cabe à comissão técnica criar uma cultura de blindagem, delimitando o que e de que forma as cobranças internas e externas chegarão aos jogadores. Um exemplo disso seria usar como motivação a grande chance deste grupo fazer história, marcando o nome de cada jogador no clube. Com um trabalho de foco no presente e de construção de performance com o grupo, o resultado vai aparecer naturalmente”, finaliza o psicólogo do esporte.

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