A bola volta a rolar para a Seleção Brasileira neste sábado, às 19h, contra o Marrocos, em Tânger. Além do pontapé inicial da renovação após o fracasso na Copa do Mundo do Qatar, o comando também terá novidade. Afinal, o campeão do Sul-Americano Sub-20 em fevereiro, Ramon Menezes, assumiu a prancheta de maneira interina enquanto a CBF não define o nome do próximo técnico da seleção principal.

Ramon tem sete temporadas efetivas na função e apenas uma participação na Série A do Brasileirão, com o Vasco, em 2020. Engana-se, no entanto, quem imagina que o ex-meia é um dos mais jovens a ocupar o cargo na história da Seleção. Diante da dúvida, o Jogada10 fez um amplo levantamento antes do amistoso e concluiu que o interino não está nem no top-15 desta lista etária.

Ramon Menezes e Felipe
Ramon ganha a oportunidade de treinar a Seleção após sete anos de experiência – Rafael Ribeiro/CBF

Aos 50 anos, Ramon estendeu sua carreira como jogador até os 41 e passou por todas as etapas na função. Assim, foi desde auxiliar até treinador em divisões estaduais inferiores. Então, ganhou espaço e estabeleceu-se como uma alternativa para o mercado

Aposta em técnicos jovens

Na antiga CBD e, posteriormente, na diretoria da CBF havia a tendência de apostar em técnicos bastante jovens, com carreira de atleta recém-encerrada. Foi o caso, por exemplo, de Zagallo, que assumiu o “escrete canarinho” pela primeira vez em 1970, aos 38 anos, às vésperas da Copa. E a tática deu certo. Afinal, o Velho Lobo conquistou o tricampeonato mundial do Brasil – e o seu tri pessoal também, uma vez que havia participado dos títulos de 1958 e 1962 como jogador.

Vinte anos depois, Paulo Roberto Falcão, o mais jovem de todos, aos 36, não teve sucesso na missão de recuperar a Seleção do fracasso de 1990 – que, aliás, teve Sebastião Lazaroni, de 38 anos, no banco de reservas. O “Rei de Roma”, titular do meio de campo do Brasil nas Copas de 1982 e 1986, não durou nem um ano em sua primeira experiência como técnico.

 

Falcão foi o técnico mais jovem a assumir a Seleção. Foi após a Copa de 1990 – Arquivo pessoal/inatagram @prfalcao5

Fala, Falcão

“Eu não queria ser treinador. Mas pensei que, se fosse, teria que ser na Seleção Brasileira. E foi. Quando eu vejo os jogadores que se destacaram nesse trabalho e nessa renovação, eu fico feliz. E ouvi o Parreira dizer isso: Falcão fez um trabalho que eu levaria um ano a mais pra fazer”, destacou Falcão, em entrevista ao canal do Youtube Denilson Show.

O ex-jogador e atual coordenador de futebol do Santos alegou que houve questões políticas e exigências da CBF que o fizeram desistir de continuar no cargo após o fim de um ano de contrato. No entanto, Falcão deu as primeiras oportunidades a jogadores como Leonardo, Cafu, Márcio Santos e Mauro Silva. Os quatro, afinal, se tornaram tetracampeões do mundo anos depois.

E foi sob o comando de Parreira, que já havia tido uma passagem pouco lembrada em 1983. Apesar de jovem, tinha acumulado experiência internacional. Afinal, vinha de cinco anos à frente da seleção do Kuwait, com a qual alcançou a classificação inédita para a Copa de 1982.

Idade adulterada causa escândalo

Já no fim dos anos 90, Vanderlei Luxemburgo manteve a média de idade baixa. Porém, aos 42 anos, já havia conquistado três títulos brasileiros (dois com o Palmeiras, em 93 e 94, e um com o Corinthians, em 98). Por conta disso, Luxa parecia unanimidade e vinha tendo bom desempenho nas Eliminatórias para a Copa de 2002. Mas a queda precoce nas quartas de final das Olimpíadas de 2000 e um escândalo de adulteração de identidade puseram tudo a perder.

Após ampla investigação, a Polícia Federal concluiu que o técnico, recém-demitido da Seleção, na verdade havia nascido em 1952 e, portanto, tinha 45 anos ao assumir o cargo. A prática, conhecida como “gato” no meio do futebol, servia para tentar obter vantagem física nas categorias de base. O técnico, hoje aos 70 e sem clube, admitiu a farsa.

“Meu pai trocou (a idade de Luxemburgo) porque era uma praxe de jogador na época. Todo mundo era “gato”, alegou Luxemburgo, em entrevista ao programa Esporte Espetacular, da TV Globo, em 2017.

Na sequência, o substituto foi Emerson Leão, aos 51 anos, um dos poucos mais velhos do que Ramon Menezes é hoje. A passagem do ex-goleiro, porém, durou apenas 98 dias. Então foi a vez de Luiz Felipe Scolari. Aos 52 e 11 anos após a sua primeira conquista nacional (a Copa do Brasil, com o Criciúma), ele reconduziu o Brasil ao caminho do título mundial com o pentacampeonato em 2002, superando a Alemanha na final

Uma nova tendência etária no século XXI?

A decisão pela volta de Parreira, às vésperas de ficar sessentão, seguiu a nova linha de apostar em técnicos experientes. Foram dois títulos e três anos de trabalho, interrompidos pelo mau resultado na Copa de 2006, quando o Brasil perdeu para a França nas quartas.

A CBF, porém, surpreendeu e anunciou o estreante Dunga para renovar uma Seleção envelhecida. O retorno ao conceito de um comandante recém-aposentado dos gramados parecia ter funcionado, com campanhas impecáveis nas competições. Mas o capitão do tetra em 1994 também não passou das quartas de final no Mundial da África do Sul e não permaneceu para o ciclo seguinte.

“O fator idade não é o mais importante. Antigamente existia um poder absoluto na mão do treinador. E depois, com a comissão técnica e a evolução de outras áreas, passou a exigir um desenvolvimento maior dos profissionais. E às vezes simplesmente não dá certo, como no caso do Dunga, porque era teimoso e desconfiado demais. Não acertou a mão em função disso. A verdade é que ninguém descobriu qual é a chave do sucesso no futebol”, avaliou Roberto Assaf, jornalista, escritor e colunista do Jogada 10.

 

Mano, Tite e versão 2.0 de Dunga e Felipão

Com oito clubes na bagagem, Mano Menezes foi a aposta posterior. O técnico de 48 anos, no entanto, não repetiu os bons trabalhos que fez no Grêmio e no Corinthians e foi demitido no meio das Eliminatórias. O veterano Felipão voltou, aos 64, e se tornou o técnico mais velho a assumir a Seleção. Mas a Copa de 2014, no Brasil, teve o fim trágico com o 7 a 1 para a Alemanha na semifinal.

Dunga ganhou a primeira oportunidade na Seleção aos 43 anos e sem nenhuma experiência no cargo – Lucas Figueiredo / CBF

Dunga, então, foi mais um a ter nova chance. Desta vez, já aos 51, não teve sucesso nem mesmo nas competições pré-Copa e passou a bola para o experiente Tite, de 55 anos. Ele fez a equipe crescer nas Eliminatórias e chegar com moral na Rússia, em 2018. No entanto, o Brasil parou nas quartas para a Bélgica. Mesmo assim, o técnico foi mantido até a Copa de 2022, no Qatar, sendo o mais longevo em uma mesma passagem.

Os mais cotados para o futuro

Atualmente, um dos nomes preferidos para assumir o comando da Seleção é o de Carlos Ancelotti, que faz 64 anos em junho. Multicampeão no futebol europeu, o italiano tem contrato com o Real Madrid até 2024. Por essa razão, a negociação não é considerada simples. Além de poder ser o primeiro estrangeiro a comandar a Seleção desde o uruguaio Ramon Platero (há nada menos do que 98 anos!), Ancelotti também seria o mais velho da história a iniciar no cargo pela primeira vez.

Entre os que parecem correr por fora estão Fernando Diniz, de 48 anos, e os portugueses Abel Ferreira, de 44, e Jorge Jesus, de 68 anos. O JJ, desta forma, também passaria a deter a marca etária, assim como o italiano.

Façam suas aposta

*LISTA POR IDADE DAS ESTREIAS DOS TÉCNICOS DA SELEÇÃO:

1) Falcão – 36 anos em 1990
2) Flávio Costa – 37 anos em 1945
3) Zagallo – 38 anos em 1970
4) Cláudio Coutinho – 38 anos em 1977
5) Sebastião Lazaroni – 38 anos em 1989
6) Carlos Alberto Parreira – 40 anos em 1983
7) Osvaldo Brandão – 40 anos em 1957
8) Aymoré Moreira – 40 anos em 1953
9) Dunga – 43 anos em 2006
10) Zezé Moreira – 45 anos em 1952
11) Vanderlei Luxemburgo – 45 anos em 1998
12) Vicente Feola – 46 anos em 1955
13) Carlos Alberto Silva – 47 anos em 1987
14) Mano Menezes – 48 anos em 2010
15) Telê Santana – 48 anos em 1980
16) Ramon Menezes – 50 anos em 2023
17) João Saldanha – 51 anos em 1969
18) Emerson Leão – 51 anos em 2001
19) Luiz Felipe Scolari – 52 anos em 2001
20) Tite – 55 anos em 2016
** Felipão 63 anos em 2013 (segunda passagem)
** Zagallo 63 anos em 1994 (segunda passagem)
* Critérios: foram considerados os técnicos a partir de 1945, desde quando há informações mais precisas e o cargo passou a ser ocupado de maneira mais efetiva e longeva. E foram considerados apenas técnicos que ficaram ou podem ficar (caso de Ramon Menezes) na função por ao menos dez jogos ou 90 dias.

 

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