Dono da camisa 9 no período mais glorioso da história do Flamengo, Nunes sempre fez o que dele se esperava: gols. Campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes, em 1981, o “João Danado”, como era conhecido, fazia como poucos o bom uso do oportunismo e inteligência na área para balançar as redes. Quarenta anos depois, o ex-jogador e ídolo da Gávea não abre mão do sossego de sua casa e da companhia da esposa Kassandra no Rio de Janeiro, onde acompanhará a final deste sábado (27) contra o Palmeiras, às 17h, em Montevidéu, no Uruguai.

Em entrevista exclusiva ao Jogada10, o Artilheiro das Decisões falou sobre a confiança no tricampeonato continental do Rubro-Negro, revelou ter recusado convite da diretoria do clube para assistir à decisão no Estádio Centenário e afirmou que aceita dividir o apelido com Gabigol, mas com ressalvas.

Artilheiro das Decisões, Nunes gravou o seu nome no coração dos rubro-negros – Instagram/@nunescamisa9

Jogada10: Como você analisa essa decisão entre Flamengo e Palmeiras de sábado? Algum time vive um momento melhor ou chegam em condições iguais de erguer a taça?
Nunes: São os dois campeões das últimas edições da Libertadores. Então a ansiedade é grande, e não é só minha. Haverá qualidade de sobra em campo. Eu amo o Flamengo e vê-lo disputar finais. Estamos acostumados a propor o jogo, então todos já sabem que vamos para cima. O Palmeiras deve jogar fechado, esperando um pouco para se mostrar. Eles podem apostar em poucas jogadas, talvez uma bola parada. Mas é briga de gigantes, então precisa haver o máximo de respeito. Não vejo favoritismo, mas o momento do Flamengo é melhor. Está vindo de uma sequência de vitórias e tem jogadores mais decisivos e que podem desequilibrar a qualquer momento.

Jogada10: E quais são esses jogadores a que você se refere?
Nunes: Olha, o time do Flamengo é completo, mas quero destacar três jogadores aos quais considero fundamentais para o sucesso nestes últimos anos. E são todos do meio: Arão, Everton Ribeiro e Arrascaeta. Os meio-campistas é quem pensam o jogo. Eles têm sempre triangulações envolventes buscando a movimentação dos atacantes. E homem de frente precisa se movimentar, dar opção a todo instante.

Jogada10: Mas e o Gabigol? Ele foi o personagem da decisão contra o River Plate (ARG), em 2019, com os dois gols do título. Ainda fez um na Supercopa do Brasil diante do Athletico-PR e outro na Recopa Sul-Americana, contra o Independiente Del Valle (EQU). Assim como você, ele é artilheiro em decisões pelo Flamengo.
Nunes: Para que o apelido fique completo ainda precisa daquele golzinho na final do Mundial de Clubes (risos). Eu fiz dois sobre o Liverpool (vitória por 3 a 0, em 1981) lá no Japão. Mas ele é muito bom jogador, com qualidades que eu admiro. Chegou ao centésimo gol pelo clube. Eu tenho 99, mas já marquei três pelo Masters do Flamengo, então tenho 102. Acredito que ele vai ter outra chance de ajudar o Mengão no Mundial de Clubes. Não tenho problema algum em dividir o apelido com ele e aceito numa boa, até porque também é merecedor. Mas eu sou o primeiro grande Artilheiro das Decisões, e o Gabigol é o segundo.

Jogada10: Você esteve presente no Morumbi na conquista do título do Brasileirão de 2020, que encerrou em fevereiro deste ano por conta da pandemia. Dessa vez preferiu não viajar para o Uruguai? Houve algum convite da diretoria do clube para os ídolos acompanharem a delegação nessa final da Libertadores?
Nunes: É verdade, eu estava no Morumbi e vestido todo social para entregar as medalhas aos jogadores. Inclusive, parabenizei o Gabigol e disse a ele para continuar com aquele bom desempenho. Mas nunca paramos para conversar sobre futebol. Quanto ao convite da diretoria, houve sim. Sou próximo de todos os jogadores daquela geração de ouro do Flamengo, mas preferi dessa vez ficar quieto em casa e torcer para o Mais Querido, ao lado da minha esposa.

Nunes entregou a medalha de campeão brasileiro para Gabigol no último jogo do Brasileirão 2020 – Alexandre Vidal / Flamengo

Jogada10: E o que você diria a Renato Gaúcho? Ele tem sido muito contestado apesar das vitórias. Mesmo assim, você acredita no comando técnico do Flamengo?
Nunes: O Renato sabe muito bem como escalar a equipe e vai colocar em campo o melhor que puder. Não preciso falar nada, não (risos). Mas fiz o curso de formação para técnico de futebol na CBF, e com especialidade em atacar. Preciso de algumas horas práticas em clubes, mas as coisas estão caminhando. Experiência é algo que o Renato tem, e muito, em Libertadores com o Grêmio. Então nós, flamenguistas, podemos ficar tranquilos e confiar no trabalho.

Jogada10: Qual o seu placar para Flamengo x Palmeiras no sábado?
Nunes: Prefiro não dar palpite sobre o resultado. Mas vou torcer muito para o Mengão levantar o tri e fazer a Nação mais uma vez muito feliz.

Sobre Nunes
João Batista Nunes de Oliveira, ou simplesmente Nunes, mora no bairro da Posse em Nova Iguaçu (RJ) e trabalha como treinador. Ele comandou algumas equipes juniores do Flamengo, preparando principalmente atacantes. Além dos dois gols na final do Mundial Interclubes no Japão, Nunes foi vice-artilheiro da Libertadores de 1981, atrás apenas de Zico. Em finais, ele anotou, ainda, outros dois gols na decisão do Brasileiro de 1980 diante do Atlético, um na decisão do Carioca de 1981 sobre o Vasco e um na finalíssima do Brasileiro de 1982 contra o Grêmio.

Siga o Jogada10 nas redes sociais: TwitterInstagram e Facebook

Comentários