O gol de Max e a Gênese do futebol

O cidadão ajeitou a poltrona para ver o Flamengo estrear no Estadual. E em minutos, após duas cervejas, e mesmo que não seja de beber, caiu no sono, e deixou cair, do canto da boca, aquela baba bovina e elástica, da qual falava Nélson Rodrigues. O cidadão despertou muito rapidamente em dois momentos: quando Abuda acertou o travessão rubro-negro, com meia hora do segundo tempo, e ao fim do prélio, quando saiu o gol, e a esposa o acordou. Ele, zonzo, foi dormir em sua caminha, que amanhã é dia de trabalho.

Antes do jogo, dois motivos de satisfação: as ausências de Hugo Souza, para gáudio dos rubro-negros, e da engenhoca conhecida como VAR, que é o que há de pior no futebol de hoje. As alegrias (quase) ficaram por aí, nesse 1 a 0 nauseabundo, que só prestou pelo belo gol de Max, que deu a vitória ao Flamengo.

Matheus França, Gabriel Noga, Nathan e Ramon podem, sem muito entusiasmo, integrar o elenco principal, mas não basta  apenas, na prática, ser “bom jogador”, como o time da transmissão, na ânsia de manter a audiência da Record, faz questão de frisar a cada cinco minutos. É preciso fazer efetivamente a diferença, ter enfim a capacidade de deixar o companheiro livre, ou marcar gols.

Os meninos que enfrentaram o Nova Iguaçu jogam juntos faz tempo, inclusive no time de cima, mas não há, nesse grupo, um único jogador com pinta de ídolo, seja a médio ou a longo prazo. Pois é fato que o mais importante na divisão de base é revelar craque. Mas vale lembrar, como complemento, que o Flamengo perdeu os três campeonatos que disputou em 2020 na categoria sub-20. O Vasco ganhou o Estadual e a Copa do Brasil, e o Atlético Mineiro, o Brasileiro. Pelo que diz o comentarista da TV, que foi um grande zagueiro, campeão mundial em 1994, o sub-20 do Flamengo é superior à Seleção de 1970. Mais tarde – 22 do segundo tempo – ressaltou, diante do futebolzinho que rolava, que alguns jogadores estavam “cansados”. Com essa idade?

No primeiro tempo, o Rubro-Negro teve o domínio da partida, até pela fragilidade do adversário, que optou, por isso, ficar na retranca. O time do Rio, no entanto, criou apenas duas oportunidades: na primeira, Lázaro escorou para Daniel Cabral chutar para fora. O narrador disse que ele “conseguiu uma ótima conclusão. Mentira. Isso só ocorre quando a bola supera a linha da baliza.

Aliás, é necessário esclarecer também que não há, segundo turno, apenas o primeiro, que é a Taça Guanabara. Assim, o clube que não ficar entre os quatro primeiros, está fora das semifinais, chamada de Taça Rio de Janeiro, e logo, da briga pelo título estadual.

O mais interessante são as pessoas que fazem a transmissão imaginarem que todo torcedor acredita no que dizem. Que coisa! Dois capítulos de Gênese teriam enfiado 10 a 0 nesse joguinho. Para não afirmar que nada prestou, vamos elogiar a arbitragem de Rejane Caetano da Silva, excelente. E o gol de Max, muito bonito.