Flávio Almeida

O VAR nos tempos das cavernas

Estão reclamando do VAR, é?
Acho as críticas válidas.
A máquina não erra. Errado está quem o opera. Quem o vende como a oitava maravilha do mundo quarentenado. Critérios que sobrepõem as regras. Um “analista” de arbitragem que não concorda com o outro.
Enfim…
Mas lá atrás, muito lá atrás mesmo, quando o futebol estava saindo das cavernas, a autoridade máxima era o árbitro de campo e ponto final. E ai de quem não concordasse. Vossa majestade reverendíssima excelentíssima meritíssima, o juiz.
Estão a fim de ouvir uma história bacana sobre isso?
Então senta que lá vem textão.
Mas é maneiro. Garanto.
O dia 1º setembro de 1894 marcava o início da temporada do futebol inglês. A tabela apontava Sunderland x Derby County para o campo de Newcastle Road, no norte do país, às três e meia da tarde, como reza a pontualidade britânica. Mas as coisas saíram completamente dos trilhos.
Tom Kirkham, árbitro designado pela liga para comandar a peleja, perdeu sua conexão de trem em York. Ele ainda enviou um telegrama para avisar aos jogadores de que chegaria atrasado, provavelmente não antes das 17h. Com a casa cheia, com lotação de 9.000 espectadores, os capitães começaram a pensar em alternativas para que a bola pudesse rolar no horário marcado. Afinal, como fariam para acalmar uma multidão durante uma hora e meia? A solução foi rápida e prática. John Conqueror, um dos árbitros auxiliares, assumiria o comando, mesmo sem a liga em seu regulamento deixar claro como proceder na ausência do árbitro principal.
A pelota rolou com 15 minutos de atraso. E a sorte parecia mesmo não estar do lado do Derby naquela tarde ensolarada. Seu capitão perdeu o cara e coroa e o time ficou contra o vento. Nos primeiros 45 minutos, um passeio do Sunderland, que fez 3 a 0, com gols de Campbell, Hannah e Hyslop.
Quando os jogadores descansavam nos vestiários, Tom Kirkham chega esbaforido, suado, com o fôlego descompassado. Culpou o cara que o havia vendido o bilhete de trem e que o orientou a tomar a plataforma errada. Ele chama os capitães dos dois times e anuncia: o jogo começaria do zero!
Isso mesmo.
Os 45 minutos iniciais avassaladores do Sunderland foram apenas um aquecimento. A plateia não entendeu nada e teve de ser avisada por meio de alguns repórteres que estavam dentro de campo. Uma vaia chegou a ser ensaiada, mas Kirkham estava irredutível. O jogo começaria com ele no apito. E ponto final.
Deu-se novamente o cara ou coroa e o Derby perdeu mais uma vez. E sabe qual foi o resultado do “segundo tempo”? Outro 3 a 0. Mas desta vez valeria para os registros. Só que o árbitro parecia estar “pendente” aos donos da casa, pois estaria receoso de alterar o curso do jogo. Dois gols dos três marcados foram controversos, com o goleiro alegando que a bola não havia ultrapassado a linha.
No “terceiro tempo”, o Sunderland aproveitou o cansaço físico e mental do Derby e fez a festa com mais cinco gols, fechando o placar oficialmente em 8 a 0 (11 a 0 somando os três tempos).
O Sunderland terminou a temporada como campeão, enquanto o Derby teve de disputar um playoff para não ser rebaixado. Foi salvo por uma vitória de 2 a 1 sobre o Notts County.
Depois desse dia, a liga inglesa alterou o regulamento. Na ausência do árbitro principal, seu auxiliar assumiria a partida.
Pronto.
Podemos voltar a reclamar do VAR agora.

Flávio Almeida

Compartilhe
Publicado por
Flávio Almeida
Tags: colunas

Posts Recentes

Tite faz pedido ao elenco do Flamengo após vitória diante do Atlético

O Flamengo mostrou muita personalidade diante do Atlético-MG e conquistou uma vitória inquestionável por 4…

5 de julho de 2024

Rivaldo comenta partida decisiva do Brasil contra o Uruguai na Copa América

Rivaldo está acompanhando a Seleção Brasileira com muita atenção nessa Copa América 2024. Em entrevista…

5 de julho de 2024

Chance de rebaixamento do Fluminense aumenta após fim da 14ª rodada

Na estreia de Mano Menezes, o Fluminense empatou por 1 a 1 com o Internacional…

5 de julho de 2024

Técnica do Sub-20 da Chapecoense faz história e quebra barreiras após estreia na categoria

Um nome e uma data: Nivia de Lima, 27 de junho de 2024. O dia…

5 de julho de 2024

Lamine Yamal ouve funk antes de jogo decisivo na Eurocopa

O atacante Lamine Yamal, da Espanha, agitou as redes sociais ao publicar um story embalado…

5 de julho de 2024

Palco de Brasil x Uruguai conta com boate para assistir ao duelo por R$ 40 mil

O Brasil retorna, nesta sábado, às 22h (de Brasília), ao Allegiant Stadium, em Las Vegas,…

5 de julho de 2024

Este site usa Cookies para melhorar a experiência do Usuário!