É claro que não foi nesta quinta-feira tampouco no domingo passado que o Vasco caiu para a Série B. Sua imensa torcida, antes bem feliz, vive agora uma realidade já experimentada em outras três ocasiões: 2008, 2013 e 2015. O Jogada10 listou o que considera terem sido os sete pecados capitais na campanha que culminou com o quarto rebaixamento do clube em sua história. Além da campanha vexatória no Campeonato Brasileiro, o Cruz-Maltino não chegou sequer a uma final de turno no Carioca e ainda acabou eliminado precocemente na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana.

Em sua despedida na Série A, o Vasco venceu o Goiás por 3 a 2, de virada – Rafael Ribeiro/Vasco

1. Planejamento do elenco envolto à crise financeira

Por mais que Alexandre Campello tenha herdado uma série de problemas quando assumiu o clube em janeiro de 2018, as soluções apresentadas não evitaram o atraso de salários durante toda a sua gestão. A falta de recursos não permitiu que o Vasco pudesse fazer altos investimentos no elenco. Na temporada recém-encerrada, a folha salarial foi, em média, de R$ 4 milhões. O clube precisou conviver com gastos grandiosos e que não deram o menor retorno. Foram os casos de Breno e Ramon, que custavam  em torno de R$ 600 mil por mês, mesmo sem jogar desde 2018. A equipe tinha várias opções – pouco decisivas – para alguns setores e carecia em outros.

Alexandre Campello foi o responsável pela montagem do elenco rebaixado nesta temporada – Paulo Fernandes/Vasco

2. Eleição conturbada e instabilidade política

A exemplo de anos anteriores, em 2020 o processo eleitoral se tornou absolutamente nocivo para o Vasco. O pleito foi judicializado em uma verdadeira guerra entre os candidatos e se arrastou por tempo demais. O futebol acabou afetado, e o elenco sentiu os atritos e passou por uma queda acentuada de rendimento. O cenário político e a pressão sobre o então presidente tiveram peso considerável na decisão de demitir Ramon Menezes, em 8 de outubro, após duas goleadas para Atlético-MG e Bahia, e a consequente saída do G4 rumo a décima colocação na tabela. Apenas em 17 de dezembro o TJRJ determinou que Jorge Salgado seria o mandatário para o triênio 2021/23;

VASCO X PALMEIRAS - BRASILEIRO 2020 - 08.11.2020
Ricardo Sá Pinto ao lado do compatriota Abel Ferreira durante a partida entre Vasco e Palmeiras, na Colina Histórica – Paulo Sergio/Agencia F8

3. A contratação impulsiva e a demora na dispensa de Ricardo Sá Pinto

Vice-presidente de futebol na gestão Campello, José Luís Moreira foi determinante para a contratação de Ricardo Sá Pinto por conta da indicação de um amigo em comum que passou boas referências do trabalho do português. Em meio à disputa eleitoral, Alexandre Campello embarcou na onda com o objetivo de mostrar serviço e seguir a moda de contratação de estrangeiros. Porém, o risco de trazer um treinador da Europa no meio do Brasileirão e sem conhecer o perfil do elenco e das equipes adversárias se revelou não calculado e irresponsável devido ao momento de oscilação no campo. Com um técnico que agregou pouquíssimo ao elenco ao não conseguir sequer implementar um padrão de jogo e insistir na permanência de jogadores atuando abaixo da média, a equipe despencou na tabela. Mesmo depois da decisão do TJ, o candidato Leven Siano e seus correligionários entraram com algumas ações na Justiça. O aguardo de uma definição judicial atrasou uma série de definições, entre elas a saída de Sá Pinto. Pouco mais de dois meses após chegar ao Brasil, o treinador foi demitido após a derrota por 3 a 0 para o Athletico-PR.

Negociação por Benítez atrasou, e o Vasco não pôde contar com o meia argentino em sua melhor forma na reta final  – Rafael Ribeiro/Vasco

4. A indefinição no vai e vem de Benítez 

Em meio a guerra judicial que se formou na eleição, Leven Siano se reuniu com o empresário de Martín Benítez e anunciou um acerto para a compra caso fosse eleito presidente. O truculento ambiente político influenciou diretamente na negociação de Campello com o Independiente pelo jogador. No fim de outubro, o então presidente cancelou viagem para a Argentina por conta de votação extraordinária do Conselho Deliberativo. O acordo para a compra do meia avançou, mas a negociação foi paralisada quando o dirigente retirou sua candidatura. Somente quando a vitória no pleito foi dada a Jorge Salgado, veio o acerto da extensão do vínculo com o argentino, que já havia retornado ao seu país com o fim do seu contrato. Em sua volta ao Brasil, duas semanas depois, o jogador precisou ganhar condicionamento físico, mas visivelmente havia perdido ritmo de jogo e não pôde jogar em plenas condições na reta final.

Leandro Castan fez sua pior temporada pelo Cruz-Maltino – Rafael Ribeiro/Vasco

5. A derrocada do setor defensivo

Mesmo com jogadores de boa técnica no setor – os casos de Leandro Castan e Ricardo Graça -, o setor defensivo mostrou muita fragilidade na temporada. Melhorou apenas com a chegada de Vanderlei Luxemburgo, que aproveitou Bruno Gomes, então preterido por Sá Pinto. Enquanto Leandro Castan teve em 2020 seu pior desempenho pelo Vasco, Ricardo Graça era acometido por uma mistura de erros técnicos e problemas médicos. Werley e Jadson, este último indicado por Sá Pinto, e o jovem Miranda não corresponderam, salvo Marcelo Alves, que acumulou algumas boas atuações na reta final do Brasileiro. Os laterais, por mais que priorizassem a marcação, permitiram que muitos gols dos adversários saíssem de jogadas pelos lados. Assim, o Vasco encerrou como a 17ª defesa mais vazada do Brasileiro, com 56 gols sofridos – atrás somente de Goiás, Botafogo e Bahia.

Em dois jogos contra o Bahia, rival na briga contra o Z4, o Vasco sequer fez gols – Rafael Ribeiro/Vasco

6. Tropeços em jogos contra concorrentes diretos e a ‘Canodependência’

A equipe deixou escapar pontos preciosos contra Fortaleza, Coritiba e Bahia em ambos os turnos, mas especialmente na reta final do Brasileirão custou caro demais. E quando Germán Cano não marca, o time não vence. Foi assim nos duelos diante de concorrentes diretos contra o rebaixamento. Contratado em janeiro do ano passado, o argentino caiu nas graças da torcida e foi responsável por 24 dos 53 gols do Vasco na temporada. O grande problema foi a dependência do artilheiro e a concentração de gols nele – no Brasileiro anotou 14 dos 37 da equipe. Não à toa ele é o único dos três argentinos do elenco que a diretoria deseja manter para a temporada de 2021. Apesar de ter desperdiçado um pênalti decisivo contra o Internacional, seu saldo é absolutamente positivo. Sofreu com a falta de aproximação dos companheiros de ataque, principalmente Talles Magno, que esteve abaixo da expectativa durante toda a competição.

Imagem da jogada que originou o primeiro gol do Internacional no duelo em São Januário – Reprodução de TV – Reprodução de TV

7. Reclamações contra o VAR

As reclamações do Vasco contra a arbitragem foram uma marca presente durante o Brasileiro, mas ganharam proporções maiores na reta final. Dos 12 jogos sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, houve críticas acintosas do treinador e do diretor executivo Alexandre Pássaro em três deles: contra Red Bull Bragantino, Bahia e Internacional. Fora lances de questionamentos em outras partidas. Diante da equipe gaúcha, em São Januário, o VAR apresentou uma falha técnica que impediu a análise da jogada e um suposto impedimento de Rodrigo Dourado, autor do primeiro gol colorado. O clube entende que houve um erro de direito pela validação de um gol ilegal e busca a impugnação da partida junto ao STJD. Em todo o Brasileiro, o Vasco foi disparado o clube que mais sofreu com mudanças de decisões de campo pelo árbitro de vídeo. Ao todo, foram 18 alterações contra o Cruz-Maltino após análise do VAR.

 

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