Sete dias se passaram desde a conquista histórica do tricampeonato continental, e a ordem no Palmeiras é correr contra o tempo. Gerente de futebol do clube, Cícero Souza já traça o planejamento para que o time continue em alta em 2022 diante de um calendário repleto de grandes competições. Apesar dos ajustes a serem feitos, principalmente por conta da mudança de ciclo com o término do mandato de Maurício Galiotte e o começo da gestão de Leila Pereira na presidência, o gaúcho de 47 anos estampa o sorriso no rosto e se orgulha por fazer parte de um seleto grupo que comemorou duas Libertadores em um intervalo de dez meses. Primeiro no Rio de Janeiro, e depois em Montevidéu.

Em entrevista exclusiva ao Jogada10, Cícero falou sobre o ineditismo da conquista alviverde em meio aos desafios do calendário brasileiro, explicou a metodologia de sucesso aplicada no futebol do clube e revelou os preparativos para o Mundial, que será disputado de 3 a 12 de fevereiro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. O Palmeiras faz sua estreia no dia 8 de fevereiro, às 13h30 (de Brasília), contra o vencedor de Al Ahly (EGI) x Monterrey (MEX).

Cícero Souza posa ao lado das duas taças Libertadores consecutivas conquistadas pelo Verdão: 2020/2021 – Arquivo Pessoal

J10: São duas conquistas de Libertadores em menos de um ano. Um feito inédito e que marca o clube, correto?
Cícero Souza: Nos últimos dois anos convivemos com muita coisa inédita. Virada sem pré-temporada, falta de férias, e por aí vai. Mas superamos as adversidades e faturamos mais uma Libertadores. Agora temos o Mundial e já começamos a definir algumas coisas que precisamos para voltarmos de Abu Dhabi com essa conquista.

J10: A realização do Mundial de Clubes logo em fevereiro, no início da temporada, prejudica o Palmeiras?
Cícero: Se por um lado não é o tempo ideal de preparação técnica, por outro temos um ganho. Jogamos a outra final da Libertadores em 30 de janeiro e sequer tivemos tempo de curtir a conquista. Estamos correndo para ajustar as férias dos jogadores, depois a pré-temporada no nosso CT e toda a logística com relação à viagem e demais detalhes.

J10: A aposta na base em 2020 foi um planejamento estratégico para o Palmeiras poder trabalhar com um grupo de menos de 30 atletas nesta temporada? De que forma isso fez diferença na conquista dessa Libertadores?
Cícero: O planejamento nos permite uma gestão objetiva que fornece elementos essenciais para trabalharmos a performance. Aqui não se contrata à toa. É sempre pontual. Todos os setores são integrados e apontam para uma solução. Assim, evitamos o passo em falso. Percebemos que havia uma safra de jogadores consolidados para manter alto o nível. Somos o clube que menos usa jogadores porque acreditamos que não podemos ter um elenco inchado. E isso só se torna possível por conta do tripé forte. Chegamos no final de 2021 com todo o elenco principal à disposição e em um calendário desgastante e 100% ocupado. Nosso grupo não é grande como pode parecer. Ter apenas 29 atletas exige preparo. Fora isso, nosso prazo de recuperação de jogadores é mais curto em relação aos outros clubes. E tudo isso se deve à estrutura, processos e metodologia.

J10: Poderia explicar um pouco mais esse tripé?
Cícero: Temos uma divisão de base de alto nível e integrada ao profissional, com jovens inseridos em uma mentalidade atualizada, de futebol total, e prontos a servirem no profissional quando requisitados. A área de saúde atua de modo preventivo e com grande eficiência. Na logística fizemos nossos voos fretados. Tudo isso, somado a parte técnica, nos faz suportar a maratona de jogos e nos eleva a um patamar alto nas competições.

J10: Como seria essa ideia de futebol total?
Cícero: Acreditamos em uma ideia de futebol moderno, caracterizado por conceitos de amplitude nos quais todos os jogadores realizam ações ofensivas quando estão com a bola e defensivas sem ela. Aqui não se estipula a um treinador como jogar. Pelo contrário. O processo é inverso. O técnico tem liberdade para montar seu esquema de jogo. Mas todos estão inseridos em conceitos modernos. Nosso departamento de inteligência tem um mapa completo com perfil técnico e pessoal dos atletas, então quando o resultado não acontece em campo, a culpa não é apenas do treinador, mas de todos por estarem inseridos em uma mesma visão e terem a compreensão dos conceitos.

J10: Essa é uma realidade ainda distante dos clubes brasileiros?
Cícero: O futebol brasileiro ainda dorme. Se o Palmeiras não tivesse sido campeão da Copa do Brasil em 2015 naquele gol de pênalti do Fernando Prass talvez o clube não estivesse onde está hoje. No Brasil as mudanças são constantes, e isso não pode ocorrer tanto assim. O treinador tem culpa quando os bons resultados somem, mas não é o único. Falta clareza de ideias e visão única de futebol.

Cícero Souza foi contratado pelo Verdão em dezembro de 2014 – Cesar Greco/SE Palmeiras

J10: O Palmeiras já definiu a logística para a disputa do Mundial?
Cícero: A Fifa nos encaminhou algumas opções e na segunda-feira, embarcaremos dois profissionais para realizarem visita técnica aos alojamentos, campos de treinamento e estádios lá em Abu Dhabi.

J10: Qual a lição que ficou da queda na semifinal da edição de 2020?
Cícero: Chegaremos ao Mundial mais bem preparados e em melhores condições. Na edição passada ganhamos o título da Libertadores no dia 30 e embarcamos dia 2 para Doha. O Palmeiras precisa chegar em Abu Dhabi em um horário diurno para evitar o “jet lag” (mudança brusca que pode pegar o metabolismo da pessoa de surpresa; a fadiga causada pela alternância entre dormir e estar acordado). Desta vez estaremos mais organizados e adaptados ao fuso horário.

J10: A exemplo do Bayern de 2020, o Chelsea preocupa ou seria um oponente menos perigoso?
Cícero: O Chelsea tem grande qualidade e sabe mudar o ritmo de um jogo. Mas o Palmeiras estudará todos os rivais do mesmo modo. Vamos focar primeiramente no nosso primeiro adversário, que é o Al-Ahly ou o Monterrey.

J10: Abel Ferreira tem contrato até o fim de 2022, mas já acenou que pode sair do clube por conta da distância da família e da insatisfação com o calendário brasileiro de jogos. O Palmeiras tem algum plano B caso ele não fique para o Mundial?
Cícero: O Abel nos diz sempre que o Palmeiras é o clube dos sonhos de qualquer treinador no mundo e que o ambiente é perfeito para trabalhar em alta performance. Mesmo cientes de que é um treinador que desperta interesse em outros clubes, acreditamos que ele cumprirá o contrato e que poderá, inclusive, estender o vínculo. Todos os esforços estão sendo feitos para que ele possa continuar no comando da equipe.

J10: Apesar de ser o dono da América do Sul pelo segundo ano consecutivo, o Verdão vai ao mercado em busca de reforços para a temporada de 2022?
Cícero: Esse elenco é bicampeão seguido da Libertadores, logo a qualidade é indiscutível. O Palmeiras é o melhor brasileiro no ranking da Conmebol, tem invencibilidade de 15 jogos como visitante na competição, a maior série invicta, o clube com mais jogadores da base… É claro que é normal os clubes fazerem observações no mercado para montar um mapeamento. Se entendermos que contratações pontuais são necessárias, buscaremos fazê-las. Mas os números mostram a força desse elenco.

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