A paixão do torcedor não tem limites, mas o que dizer quando esse sentimento extrapola fronteiras não apenas de estados, mas de países? É o caso do uruguaio Rafael Román Celada, professor do ensino primário na cidade de Artigas, divisa com Quaraí, no Rio Grande do Sul, e que torce para o Palmeiras desde criança. Hoje, com 32 anos, ele se prepara para viajar 600km nesta sexta-feira (26) até a capital Montevidéu em busca de um ingresso que o permita ver pessoalmente, e pela primeira vez, uma partida do Verdão. E justamente em uma final de Copa Libertadores contra o Flamengo, sábado, no Estádio Centenário.

Em entrevista exclusiva ao Jogada10, Rafael contou detalhes sobre o amor de infância pelo clube brasileiro, de que forma a família se rendeu ao seu fanatismo alviverde e como espera acompanhar a partida que pode resultar no tão sonhado tricampeonato continental aos palmeirenses.

Tatuagem com o símbolo do Palmeiras gravado no braço esquerdo de Rafael Román Celada – Arquivo pessoal

“Eu tinha cinco anos quando vi na televisão pela primeira vez uma partida do Palmeiras. Aí me apaixonei na hora. Foi contra o São Paulo em 1994 depois da Copa do Mundo. Comecei ali a acompanhar e, com o passar dos anos, fiquei mais torcedor. Sempre digo para os amigos que me perguntam de onde surgiu esse sentimento e respondo que nunca se sabe quando começa uma paixão. Simplesmente acontece. No Uruguai posso até simpatizar um pouquinho com o clube que meu pai torce, o Nacional, mas o meu coração é totalmente do Verdão”, afirmou Celada.

Cinco anos depois veio a grande emoção e experiências inesquecíveis com o primeiro título continental do Palmeiras, conquistado no Parque Antártica, na final diante dos colombianos do Deportivo Cali.

“Antes, na semifinal da Libertadores de 1999, eu tinha dez anos e estava vendo o jogo na televisão. De tão nervoso, comi quase todos os botões do controle. Aí meu pai brigou comigo, desligou a TV e me mandou ir para o quarto. Esperei que ele se deitasse e voltei a ligar no volume mais baixo possível. Depois, na final contra o Deportivo Cali, chorei tanto que não consegui sequer dormir”, contou o uruguaio, que sonha em conhecer o Allianz Parque e tem no ex-goleiro Marcos o seu grande ídolo:

“Esperei 21 anos para ver meu time em uma final de Libertadores. Foi muito emocionante a decisão diante do Santos, em 2020. Mas nunca vi um jogo do Palmeiras pessoalmente e espero ansiosamente conseguir realizar esse sonho, além de conhecer o São Marcos. Até meu pai, torcedor do Nacional, de tanto que grito vendo as partidas, passou a gostar do Verdão (risos). Mas, por precaução, quando os times se enfrentaram, assisti no meu quarto e ele na sala para não ter briga”.

Rafael Román exibe sua coleção de camisas do Palmeiras – Arquivo pessoal

Em agosto de 2017, pouco tempo depois de conhecer sua esposa, Rafael resolveu ir à casa da amada para acompanharem juntos Palmeiras x Barcelona (EQU). No fim, a derrota nos pênaltis custou a eliminação ainda nas oitavas de final da Libertadores e prejuízo para a família de Virginia:

“Quando a conheci, logo em seguida o Verdão enfrentou o Barcelona de Guayaquil e fui à casa dela ver o jogo. Para quê? Quebrei a mesa sem querer com uma pancada após derrota nos pênaltis. Imagine numa mesma noite perder com o time e perder a namorada? Quase coloquei tudo em risco”.

Rafael Celada é daqueles que fazem amizades sem grande esforço. E foi com a sua emoção que percebeu que não estava sozinho em sua cidade.

“Tenho muitos amigos palmeirenses aqui em Artigas. Conheço um amigo que toda sua família também torce para o Verdão. A casa dele é igual a minha: toda em verde e branco. Ver meu pai e minha esposa Virginia torcendo junto comigo é especial demais”, vibrou ele, antes de revelar uma promessa não cumprida por culpa de sua mulher:

“Na final do ano passado contra o Santos eu fiz uma promessa de que, se algum jogador do Palmeiras fizesse gol na final, eu colocaria o nome no meu filho. Foi exatamente no dia da decisão que descobrimos na ultrassonografia que era um menino. Mas nunca imaginei que fosse o Breno quem faria o gol. Minha esposa não aprovou o nome. Ela disse que se fosse o Felipe Melo aceitaria. Acabou que demos o nome de Bastian Gabriel. Ele vai completar quatro meses agora em dezembro e é um menino de sorte, pois já tem duas finais. Eu esperei 21 anos”.

O pequeno Bastian Gabriel, de quase quatro meses, esbanja fofura ao lado do Porquinho, mascote do Palmeiras – Arquivo pessoal

Ganhar ou… ganhar!

Nesta semana, o experiente volante Felipe Melo declarou que “final não se joga; final se ganha”. Esperançoso pela conquista do tricampeonato da Libertadores, Celada diz não ter problemas em abrir mão do jogo bonito.

“Temos que ganhar essa final de qualquer jeito. Jogar fechado os 90 minutos e por uma bola, mas temos que ganhar. Tem muita gente aqui pronta para me zoar”, disse, antes de ser interrompido pela esposa Virginia durante a ligação:

“Nem quando nasceu o filho ele ficou tão emocionado como nos jogos que vê do Palmeiras”.

Rafael Román Celada se apega à cor verde, que significa esperança, para realizar o sonho de ver pela primeira vez o Verdão em um estádio. Para isso, as oito horas de viagem não seriam problema. O torcedor lamentou, porém, o alto custo dos ingressos para a decisão. Segundo ele, o preço da entrada chega a R$ 1.500 para os uruguaios.

“A esperança é a última que morre. Sei que é uma oportunidade única, mas é de lamentar o preço do ingresso a R$ 1.200, isso de quem vier do Brasil. Para os uruguaios é mais caro. Com mais transporte e alimentação, meus gastos chegam a R$ 2.500,00. Planejei ir a Montevidéu e, se não conseguir o bilhete, ficarei fora do estádio com outros palmeirenses. Conversei com alguns e soube que 150 ônibus sairiam de São Paulo, e com muitos torcedores sem ingressos. Os pais de minha esposa têm apartamento na capital e a ideia é nesta sexta assistir ao treino no estádio do Nacional. Terei de inventar uma forte dor de barriga para não trabalhar nesta sexta”, encerrou.

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