Futebol Internacional

Paolo Rossi, o carrasco do Sarriá, foi até expulso de táxi em São Paulo

O gol do uruguaio Ghiggia calou o Maracanã na decisão da Copa do Mundo de 1950. Os 7 a 1 da Alemanha no Mineirão, na semifinal mundial em 2014, foi o maior vexame da história da Seleção Brasileira. Mas individualmente o adversário que mais deixou marcas, fez chorar e ao mesmo tempo despertou a ira da torcida brasileira chamava-se Paolo Rossi. Afinal como é que aquele petulante centroavante que nos quatro jogos anteriores da Itália na Copa do Mundo de 1982 não tinha marcado um gol sequer resolve meter logo três no maravilhoso Brasil de Zico, Falcão, Sócrates, Éder, Toninho Cerezo, Júnior, Leandro …? E mais tarde, ainda por cima, campeão mundial pela Itália, fazendo o Escrete Canarinho sair antes da semifinal na Espanha?

Paolo Rossi em ação na Copa de 1982 contra a Argentina –  STAFF/AFP

A raiva foi além do fim da carreira do carrasco do Sarriá, o estádio de Barcelona que não existe mais onde o Brasil perdeu para a Itália em 5 de julho de 1982. Em janeiro e fevereiro de 1989 foi disputada a II Copa Pelé, espécie de Mundialito de veteranos idealizada pelo saudoso jornalista Luciano do Valle, que era também técnico da Seleção Brasileira no torneio. Quem escreve este artigo estava em São Paulo para cobrir a competição e hospedado no mesmo hotel das seis delegações. Participavam da competição Brasil, Itália, Alemanha Ocidental (ainda não era reunificada), Argentina, Uruguai e Grã-Bretanha, uma Inglaterra reforçada com alguns escoceses. Ou seja, os países campeões mundiais da época com suas seleções principais.

Em particular um jogo chamou atenção não tanto pela qualidade do futebol. Mas pelo empenho, até certa violência em campo e, principalmente, pela hostilidade da torcida. Brasil e Itália jogavam no Canindé, estádio da Portuguesa de Desportos, e um jogador em especial recebia marcação fora de campo por apaixonados do Escrete Canarinho: justamente Paolo Rossi. Toda a vez em que o centroavante italiano tocava na bola vinha o grito do público: “É esse”. O carrasco do Sarriá, nascido em Prato, na Região da Toscana, Itália Central, em 23 de setembro de 1956, ainda não tinha completado 33 anos de idade, mas já havia encerrado a carreira de jogador em 1987, no Verona.

As hostilidades não se limitaram a palavras. Um fanático brasileiro mais exaltado até atirou da plateia uma pilha que raspou a cabeça de Rossi. Foi o suficiente para o atacante pedir ao técnico da Itália veterana _ Ferruccio Valcareggi, que havia comandado a Azzurra principal vice-campeã mundial em 1970, na final vencida pelo Brasil por 4 a 1 _ para substitui-lo no intervalo. “Se eu era o motivo daquilo tudo era melhor que saísse”, explicou Rossi depois do jogo, falando da raiva dos brasileiros. A partida terminou 1 a 1. O gol brasileiro foi de Mário Sérgio _ ex-jogador que mais tarde morreria no desastre aéreo da Chapecoense na Colômbia, onde iria comentar partida para o canal televisivo Fox Sports, em 2016. Graziani, outro campeão mundial de 1982, marcou o gol italiano. O Brasil foi mais tarde campeão da II Copa Pelé; o Uruguai, o vice; a Itália, terceira colocada.

Mas as demonstrações de raiva não tinham começado no dia do jogo da Itália contra o Brasil. Antes disso, o atacante italiano tomou táxi em São Paulo. No meio do trajeto, foi reconhecido pelo motorista e expulso do carro: ” Você f… o Brasil em 1982″, esbravejou o irado chofer. A história foi confirmada pelo próprio Paolo Rossi.

Quando vinha ao Brasil, Rossi costumava ser diplomático. Não demonstrava raiva nem falava mal da torcida local. Dizia que era recebido como muito carinho. Certa vez na Itália, quando entrevistado por telefone por quem escreve este artigo, reconheceu que ficou marcado como alguém que incomodou, mas sem perder o bom humor: “Minha relação com o Brasil é de amor e ódio. Mais de ódio do que de amor, é verdade”, comentou, rindo este mito do futebol italiano, nascido na Toscana e que morreu em Roma aos 64 anos.

*Maurício Cannone foi repórter e editor do Jornal dos Sports e  LANCE!, além de correspondente de  O Jogo (POR). Atualmente é colaborador do Gazzetta dello Sport (ITA) no Brasil

 

Carlos Alberto

Repórter, setorista da Seleção Brasileira, colunista e editor do Jornal dos Sports entre 1998 e 2000. Editor, colunista e editor executivo do LANCE! de 2000 a 2020, Editor-chefe do Jogada 10 desde 2020. É formado pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha-RJ) e participou de coberturas de 6 Copas do Mundo (4 como enviado, 1 como chefe de reportagem 1 como editor-chefe), 2 Copas Américas, 1 Eurocopa, 2 Mundias de Clubes, 1 Olimpíada e 6 Champions League.

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