Roberto Assaf

‘Pode e não pode’

E vem do México uma velha novidade para o futebol: o cronometrista. Para quem não sabe, a figura foi varrida do mapa em 1941, quando o Brasil aderiu definitivamente às regras da Fifa, curiosamente graças a uma cartilha imposta pelo Conselho Nacional de Desportos, em plena Ditadura Vargas. Outras situações extintas: as partidas tinham dois tempos de 40 minutos, eram permitidas substituições aos expulsos de campo, e as entidades escalavam até quatro auxiliares para o árbitro.

A volta do cronometrista poderia ajudar a acabar com muita ‘cera’ no futebol –  Justin Setterfield/Getty Images)

Faz menos de um mês que escrevemos sobre os males que infestam o nosso cotidiano nos gramados. Vamos repeti-los, em parte. “Sim, há uma preocupação excessiva do atleta em convencer o torcedor que sabe honrar a camisa que veste, e que vai lutar por todo o tempo pelo resultado, o que é ótimo, mas que faz esquecê-lo o fundamental, que é jogar bola, mostrar enfim habilidade e até improviso, qualidades que também fizeram o esporte popular em todo o planeta.

Reclamações desnecessárias, muitas infrações e questionamentos freqüentes das comissões técnicas constroem um ambiente de paralisações em excesso, que impedem a partida de fluir normalmente, ao contrário do que ocorre nos torneios das grandes ligas da Europa, nas quais os acréscimos são quase sempre conseqüência de tempo gasto em atendimentos médicos e substituições.

Não bastassem as longas interferências do VAR, a pior invenção do século, há demonstrações de valentia e agressividade, nos quais a bola fica à parte, e nos últimos tempos, a queda do goleiro cujo time tem o resultado ao seu favor, eventualmente no fim dos jogos, por vários minutos, sem que seja possível tomar alguma providência, pois o árbitro, que não é médico, não pode avaliar o grau da provável contusão. Há exigência maior com o básico do futebol, que é priorizar o jogo, colocá-lo à frente das demonstrações antiesportivas que se tornaram comuns nos gramados”.

Pois é. O cronômetro não impedirá, por exemplo, que uma paralisação forçada, por alguma razão, notadamente propositada, possa esfriar o adversário. Mas devolverá ao jogo todo o tempo gasto com a gaiatice, dado que o relógio ficará exposto ao público, que cobrará o cumprimento integral dos minutos desperdiçados.

Curiosamente, e isso é uma longa discussão, quem poderá reclamar é a televisão, pois se a arbitragem levar a nova velha regra ao pé da letra – se os atletas, é claro, insistirem em desrespeitá-las – uma partida de futebol poderá durar até duas horas e meia, atropelando a programação. A Globo, televisão aberta, nunca transmitiu um jogo de tênis, pois não há como prever o tempo de sua duração.

Não se discute aqui o teor político do Governo Vargas, e as suas imposições – o CND proibia, por exemplo, futebol com mulheres – mas a volta do cronômetro pode ser uma boa providência para acabar com o que chama de malandragem dos atletas e punir os males do excêntrico VAR, que interrompe os espetáculos às vezes por até 10 minutos.

Como no jornalismo a palavra “pode” vale para o sim e o não, o cronômetro seria, por ora, apenas uma experiência, pois pode – olha ela aí – ser ótima ou péssima. Só a prática dirá.

*Este texto não reflete, necessariamente a opinião do Jogada10

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Carlos Alberto

Repórter, setorista da Seleção Brasileira, colunista e editor do Jornal dos Sports entre 1998 e 2000. Editor, colunista e editor executivo do LANCE! de 2000 a 2020, Editor-chefe do Jogada 10 desde 2020. É formado pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha-RJ) e participou de coberturas de 6 Copas do Mundo (4 como enviado, 1 como chefe de reportagem 1 como editor-chefe), 2 Copas Américas, 1 Eurocopa, 2 Mundias de Clubes, 1 Olimpíada e 6 Champions League.

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