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Exclusivo: prestes a estrear por clube ucraniano, brasileiro reporta fuga dramática do país

Wanderson Cavalcante Melo, o Wanderson Maranhão, 27 anos de idade, nasceu na pequena João Lisboa, no estado que lhe empresta o apelido, e vinha aos poucos realizando seus principais sonhos. Do começo, na base do Figueirense, o segundo volante passou pelo Coritiba e, após migrar por alguns clubes menores, em 2017 chegou à Europa. Jogou em um clube sueco, o Eskilstuna, e defendeu por quatro anos o Vitebsk, da Bielorrússia. Até que em janeiro de 2022 chegou ao Chernomorets, da Ucrânia. Porém, a guerra impediu que Wanderson estreasse. Pior: ele precisou fugir às pressas, depois de ver de perto os primeiros ataques.

Hoje sem clube, Wanderson aguarda um pronunciamento dos dirigentes ucranianos em relação a romper ou não o contrato – seu passe gira em torno de R$ 2 milhões – e poder se dedicar a novas propostas, inclusive no Brasil.

JOGADA 10 – Depois de quatro anos na Bielorrússia, você chegou à Ucrânia em janeiro e o que viu por lá desde então?

WANDERSON MARANHÃO – “Cheguei em janeiro em Odessa, mas logo fomos disputar na Turquia um torneio de inverno, que fazia parte da pré-temporada para a disputa do Campeonato Ucraniano. Desde então, ouvia boatos de que uma guerra poderia acontecer na região. Lia muita coisa na internet, e por ter ficado quatro anos na Bielorrússia, conseguia entender tudo. Ainda assim, perguntava a amigos que estavam na Ucrânia e eles comentavam que estava tudo tranquilo por lá. Faltando uma semana para o começo do campeonato, retornamos à Ucrânia. Quando tudo realmente parecia normal, cidade calma, inclusive no centro, que é bem movimentado, de repente, em uma certa madrugada, o bombardeio começou.”

Maranhão, com a  bola, chegou a disputar um torneio de inverno pelo Chornomorets – Divulgação / FC Chornomorets Odessa

JOGADA 10 – Qual foi a primeira situação estranha que você viveu na Ucrânia?

WANDERSON MARANHÃO – “A gente estava concentrado no hotel para estrear no campeonato. Treinávamos à noite e faltou energia no centro de treinamento. Ninguém do clube comentou nada conosco, mas os refletores não acenderam e tivemos de voltar para o vestiário e nos trocar antes de voltar ao hotel. Sempre havia palestras antes dos treinos, e numa delas nosso treinador fez questão de pontuar para esquecermos política, guerra, e focarmos no trabalho, que o campeonato estava prestes a começar.”

JOGADA 10 – E depois disso o que houve?

WANDERSON MARANHÃO – “Em Odessa, concentrados no hotel, de madrugada alguns jogadores ouviram as primeiras explosões. Elas aconteceram perto do nosso CT, por volta das 4h da manhã do dia 23 de fevereiro. Nossa sorte é que não estávamos por lá.”

JOGADA 10 – Mas tudo se acalmou depois, nem que por um pequeno tempo, certo?

WANDERSON MARANHÃO – “Sim. Depois de dois dias aparentemente calmos, aconteceu outro ataque. Da janela vi duas aeronaves, uma atirando na outra. Saí correndo pelo corredor, acordando todo mundo, e descemos para o túnel do hotel, que já é preparado para nos proteger desses ataques. Ficamos por volta de duas horas no subsolo, sem ar condicionado nem nada, pois se houvesse incêndio na parte de cima o bom é que estávamos protegidos.”

JOGADA 10 – E o que vocês, jogadores, fizeram a partir de então?

WANDERSON MARANHÃO – “Os estrangeiros do meu time fugiram naquela madrugada mesmo. Outros, de manhã. No meu clube, só tinha eu de brasileiro, e eu não pude sair. Alguns ucranianos fugiram também, mas a maioria ficou comigo no hotel. Eles estavam em pânico, pois a maioria tem família em Kiev.”

JOGADA 10 – E quando você teve a ideia de fugir?

WANDERSON MARANHÃO – “Como deu tudo certo com quem fugiu, resolvi fazer o mesmo. Eu me mandei de lá três dias depois. Vivi quatro dias de guerra. Mesmo sabendo que em Kiev a coisa estava bem pior, a sensação era igual para nós em Odessa. Alguns amigos me mandaram ir à embaixada do Brasil em Kiev buscar apoio. Nem pensar! Não sou louco para me mandar para Kiev, ainda mais do jeito que a cidade estava!”

JOGADA 10 – E sua família, que estava no Brasil, como ficou ao saber que você estava próximo ao epicentro da crise?

WANDERSON MARANHÃO – “No dia do segundo ataque, quando vi os aviões atirando um contra o outro, eu estava conversando com a minha mulher, dizendo que estava com medo de dormir e não acordar, medo de nunca mais poder falar com ela nem com minhas duas filhas. Ela me pediu para dormir tranquilo, disse que ia dar tudo certo. O problema é que mal desliguei o celular e vi os aviões se atacando. Parecia videogame. Nem voltei a ligar para ela, senão quem não dormiria mais seria ela”.

JOGADA 10 – Agora que você voltou à sua cidade natal, prefere esquecer o que passou ou segue de longe acompanhando o noticiário?

WANDERSON MARANHÃO – “Fico atento ao que está acontecendo. Ainda estou ajudando algumas brasileiras que entraram em contato comigo. Expliquei que o negócio é ir para Odessa e pegar um trem para a Moldávia, como fiz. Porque sair pela Polônia é mais difícil. Tem mais de 30 mil pessoas andando para a Polônia a pé.”

JOGADA 10 – Como foi a sua fuga?

WANDERSON MARANHÃO – “Minha cidade ficava a uma hora da Moldávia. Fui de táxi para lá, mas confesso: difícil foi achar um taxista que aceitasse nos ajudar. Criamos um grupo de brasileiros no WhatsApp, gente que não sabia falar russo, e nos ajudamos mutuamente. Expus o meu plano no grupo. Avisei que estava saindo para a Moldávia e, graças a Deus, foi o melhor que fiz. A gente fugiu mesmo, nenhum dirigente sabia que faríamos isso. Era tipo um salve-se quem puder. Ao passar da fronteira com a Moldávia, ficamos em um hotel até resolver a passagem para o Brasil. A agente do Junior Moraes, que também jogava na Ucrânia, entrou em contato comigo e disse que o ônibus dos brasileiros já estava entrando na fronteira. Encontrei por lá o Marlon, ex-Fluminense, e outros que também estavam fugindo. Fomos até o aeroporto da Romênia, em Bucareste, e de lá voamos para o Brasil. Cheguei no dia primeiro de março, à tarde, e soube que dois jogadores ucranianos foram convocados para a guerra. Ao menos, nenhum era do meu time, até porque se esconderam. E Odessa começou a ser bombardeada no dia 26.”

JOGADA 10 – Como fica sua situação profissional agora?

WANDERSON MARANHÃO – “Meu contrato é de dois anos e o clube havia me comprado há um mês. Estou até entrando em contato com seus diretores para ver se posso ser emprestado ou se a gente rescinde. Porque tenho esposa e duas filhas pequenas, preciso trabalhar. Aqui no Brasil ainda não tive oportunidade de conversar com clube nenhum. E o agente que me levou para a Ucrânia está com a família dentro de um túnel, perto da casa dele, pois sua cidade está sendo bombardeada.”

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Leo Pereira

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