A duas rodadas do fim do Campeonato Brasileiro, o Vasco vive dias de incertezas e se divide em duas frentes na luta pela permanência na Série A. Na esfera jurídica, o clube ingressou com pedido no STJD de anulação do jogo contra o Internacional, alegando que houve um erro de direito decorrente da inobservância do Protocolo do VAR, já que o gol de Rodrigo Dourado não foi revisado pelo árbitro de vídeo por conta de uma pane na tecnologia. Em campo, a preocupação com a grande exposição à qual os jogadores têm sido submetidos, podendo acarretar em efeitos colaterais graves. A pressão pelo resultado, as frustrações pelo desempenho abaixo do esperado, a cobrança da torcida nas redes sociais. A soma destes fatores pode desencadear um quadro clínico complexo e afetar a saúde mental dos atletas.

Jogadores do Vasco têm recebido apoio psicológico na reta final do Campeonato Brasileiro – Rafael Ribeiro/Vasco

Para evitar o pior, os jogadores têm recebido apoio psicológico nesta reta final da competição. É aí que entra o trabalho da psicóloga Maíra Ruas. Apesar de trabalhar no clube de São Januário há alguns anos, foi com a chegada do técnico Vanderlei Luxemburgo em janeiro que ela se tornou uma espécie de 12º jogador do time. Na logística especial montada para a partida contra o Fortaleza e a viagem para a capital cearense, onde o Vasco acabou facilmente derrotado, a profissional acompanhou a delegação e deu suporte ao elenco.

Psicólogo do esporte, com passagens por Palmeiras, Botafogo e outros grandes clubes brasileiros, Eduardo Cillo conhece bem o trabalho desempenhado por Maíra. Juntos, fazem parte da equipe de preparação mental do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

“O Vasco está muito bem servido. A Maíra é super experiente e ótima profissional. Neste momento de disputa contra o rebaixamento é fundamental que ela continue acompanhando o dia a dia dos treinos e viajando com a delegação para os jogos. Isso faz toda a diferença porque são muitas demandas específicas. É no ônibus, no hotel, nas refeições e no vestiário, sempre que possível, que conseguimos enxergar mudanças de comportamento dos atletas. Até porque nem sempre eles reconhecem que precisam de ajuda. Seja uma apatia ou um nervosismo a mais, são nesses ambientes em comum que ainda é possível remediá-los com aconselhamento individual e até, caso o treinador permita, participando de preleções”, destacou o psicólogo do COB, em entrevista ao Jogada10.

Cillo aproveitou para explicar de que modo os psicólogos costumam realizar o preparo antes das partidas com os jogadores.

“O que fazemos no preparo antes dos jogos é o uso de técnicas de regulação emocional e de visualização de jogadas. Pelo o que eu já conversei com a Maíra, sei que ela executa muito bem os manejos destas técnicas. Essa de visualização gera um aumento significativo da concentração. A pressão no ambiente profissional pode ser danosa. Por isso a participação no dia a dia dos atletas é fundamental para que ela perceba a entrega dos jogadores nos treinamentos. A confiança que o jogador desfruta no jogo é construída nos dias anteriores de preparação. É fundamental uma ação que permita aos jogadores entrarem em campo totalmente focados no presente, sem que fiquem pensando na tabela de classificação e nas últimas derrotas. Costumo dizer aos atletas que, assim que começa a partida, é o momento de vivê-la intensamente a cada jogada, a cada segundo. Sempre a próxima jogada é a mais importante, independentemente se acertou ou errou na anterior. A análise não será naquele momento, e sim no pós-jogo. Então o trabalho de concentração que ajude os atletas a estarem com este modo de pensamento pode aumentar, e muito, as chances de bons resultados”, destacou.

Por fim, o psicólogo destacou a necessidade de os jogadores buscarem o equilíbrio entre seus limites e suas capacidades, e negou que os atletas tenham a obrigatoriedade de transmitir aos torcedores a imagem de heróis.

“O atleta de alto rendimento precisa de confiança. É importante que ele se veja como um profissional capaz, mas que entenda que precisa saber virar a chave. Reconhecer suas qualidades humanas, buscar auto-conhecimento e saber a hora de ligar o modelo guerreiro. Esse é o atleta que terá maiores chances de sucesso porque ele sabe se reconhecer dentro dos seus limites, mas também conhece suas capacidades. O segredo está em reconhecer os dois lados e saber ligá-los”, encerrou.

Capitão vascaíno e um dos atletas mais experientes do grupo, Leandro Castan já havia reconhecido a importância do trabalho de Maíra Ruas.

“Admiro ela muito como profissional. É uma pessoa que me ajudou muito”, afirmou o zagueiro em entrevista à Vasco TV, em janeiro passado.

Após a derrota para o Fortaleza na capital cearense há duas semanas, Luxemburgo chegou a admitir que a equipe cruz-maltina sofre abalo emocional nos jogos em que larga em desvantagem no placar.

“Sabemos que algumas coisas faltam para nós e estamos tentando superar as dificuldades. Nós não conseguimos virar jogo. O segredo nosso é evitar tomarmos gol. Aí quando saímos atrás, vem o desequilíbrio emocional, vem as coisas de estar na zona complicada… E tudo isso aflora no momento do jogo e o rendimento técnico e tático vai para o espaço”.

Com 37 pontos, o Vasco corre o risco de ser rebaixado já na próxima rodada. Para isso, o Cruz-Maltino precisa perder seu jogo contra o Corinthians, em São Paulo, e o Bahia vencer o Fortaleza na capital cearense.

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